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29 novembro 2006

Fernando Pessoa

O Menino da sua Mãe

No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece
De balas trespassado
--Duas, de lado a lado—
Jaz morto e arrefece.

Raia-lhe a farda o sangue,
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue
E cego os céus perdidos.

Tão jovem! que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
“O menino da sua mãe”.

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira,
Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo
A brancura embainhada
De um lenço…Deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece:
“Que volte cedo, e bem!”
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto e arrefece,
O menino da sua mãe.


Fernando Pessoa, 1926



”A MINHA PÁTRIA É A LÍNGUA PORTUGUESA”

Fernando António Nogueira Pessoa nasceu em 1888 em Lisboa. Quando ainda a estudar na universidade, Pessoa começa a escrever poesia, usando o heterónimo Alberto Caeiro, e colabora não só com a revista «Orpheu», como com outros jornais nacionais e ingleses. Apenas teve um livro editado, apesar dos muitos artigos e crónicas e das várias traduções que fez. Morre em 1935, aos 47 anos, deixando para as gerações futuras uma mensagem cheia de significado.
Fonte: LUSOMÁTRIA

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