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31 março 2014

Escrito no vento...

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"A tempestade arranca a árvore solitária."
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Sabedoria Budista

30 março 2014

Faleceu hoje um bom Amigo...

... com quem trabalhei no início dos anos 80.
O Padre Miguel Ponces de Carvalho  fez parte do grupo que lançou os Programas de Biologia, dos primeiros Cursos do 12ºAno, em 1980/81.
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Padre Miguel Ponces de Carvalho
numa sessão de trabalho em Setúbal
em 8 de Junho de 1981
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Nascido no Zimbabwe (antiga Rodésia do Sul) veio com 8 anos para Portugal tendo feito o Curso do liceu, no Liceu de Pedro Nunes. Frequentou a Faculdade de Medicina durante 5 anos e ligou-se à JUC em 1949, facto este que teria estado na origem do rumo que acabou por tomar, ingressando no Seminário dos Olivais.  
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Em 1984, foi nomeado pároco de Campolide, onde permaneceu 14 anos, após os quais foi colocado na Igreja de S.Mamede. Decorridos 7 anos, voltou a mudar de paróquia, para ser nomeado pároco da Lapa-Estrela. Foi como pároco desta paróquia que a morte o veio encontrar, aos 80 anos. (Cfr."Voz da Verdade")
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Miguel Ponces de Carvalho era Cónego da Sé de Lisboa.
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O Cónego Miguel Ponces de Carvalho
com o Cardeal Patriarca D.José Policarpo
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Descanse em Paz, Padre Miguel. 

Sem lógica, nem consequência...

Vasco Pulido Valente escreveu, ontem,
na sua Coluna "Opinião", do "Público"
um texto a que deu o título:
"As raposas não guardam o galinheiro"
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Vasco Pulido Valente 
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As personagens da República, que em público se angustiam com o futuro da democracia, precisavam de olhar longamente para elas próprias.
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Os relatórios do INE sobre a pobreza e o crescimento da economia serviram, como sempre, para uma pequena balbúrdia política, sem lógica, nem consequência, e que desde o princípio os partidos transformaram numa reles campanha eleitoral.
Mas nenhuma das personagens que se envolveu nessa querela se esqueceu de manifestar o seu amor à democracia ou a sua inquietação pela sobrevivência da democracia, mesmo os que nasceram depois da Ditadura ou os que a viveram sem se incomodar. Por mim, já era adulto no “25 de Abril” e a libertação de 74 chegou a tempo para me salvar de uma inevitável mutilação pessoal e profissional. Infelizmente, as coisas começaram mal. O PREC mostrou outro Portugal, que ninguém conhecia e que não se limitou a ser uma simples desordem política, foi também o sintoma de uma profunda corrupção intelectual e moral.
O Portugal equilibrado e estável, com alguma liberdade e alguma justiça, que a maioria dos portugueses nunca deixara de esperar, inaugurou o período constitucional com governos de ocasião e com uma irresponsabilidade que não merece comentário. Em parte a tutela militar e em parte a incompetência impediram que se fizessem as reformas que o país pedia. Excepto pelo Serviço Nacional de Saúde, ainda incipiente, continuámos no deserto com duas crises financeiras pelo meio. A entrada para a CEE e duas revisões constitucionais trouxeram uma nova esperança, que o dr. Cavaco durante um tempo encarnou: uma falsa esperança. Cavaco conservou os velhos vícios da sociedade portuguesa, contribuiu decisivamente para a emergência do Estado “monstruoso”, de que mais tarde se viria a queixar, e desapareceu de cena deixando Portugal tão desorganizado e frágil como o encontrara.
Não vale a pena falar do longo consulado socialista, que no fundo só se aplicou a levantar expectativas, que não podia – e sabia que não podia – satisfazer. Entretanto, a corrupção aumentava, e os partidos pouco a pouco acabavam por se tornar nas seitas facciosas que se ocupavam quase exclusivamente em espalhar a intriga interna e a confusão externa. A tragédia em que estamos não é para eles mais do que uma oportunidade para se atacarem e contra-atacarem com argumentos primários, repetidos à saciedade, como se os sofrimentos do país não fossem mais do que munições para uma guerra privada que ninguém percebe. As personagens da República, que em público se angustiam com o futuro da democracia, precisavam de olhar longamente para elas próprias, porque são elas o maior agente da dissolução de uma vida política limpa, dura e séria. As raposas não guardam o galinheiro.
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Por  Vasco Pulido Valente
em 29/03/2014 - no "Público"

29 março 2014

Não me contenta...

...uma poesia de Gil Vicente em que ele fala de si próprio.
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Gil Vicente
num retrato de Leal da Câmara
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Rascão:
     Deveis-vos de casar.

Velha:
    Olhai, filho, eu vos direi:
    já me a mim mandou rogar
    muitas vezes Gil Vicente
    que faz os autos de el-Rei,
    porém eu não sou contente,
    antes me assim estarei.

Rascão:
     Porquê?

Velha:
                       Não me contenta.

Rascão:
     Pois é ele bem sisudo!

Velha:
     É logo mui barrigudo,
     e mais passa dos sessenta.

            (in "Auto da Festa")



28 março 2014

Boa disposição...

...em Oleiros
(08.03.2014)
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Aos pés do Padre António de Andrade
(que não quis ficar na fotografia...)

27 março 2014

Humor antigo...

...in "Mundo ri", nº 136
de Janeiro de 1965
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- No cofre não há nada mas em compensação,
já viste o que há em cima da cama?!...

26 março 2014

Um apontamento...

...escrito em 11 de Maio de 1998
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“Esta outra colecção é para levares à tua jovem aluna, futura escritora e poeta... Oxalá o venha a ser. Vou fazer-lhe uma pequena dedicatória que, espero, poderá funcionar como um estímulo...” e logo ali começou escrevendo algumas palavras na primeira página do livro de poemas “O Gosto de Escrever”... Um belo e sugestivo título para quem parece ter um gosto muito especial em transformar em escrita o que lhe vai na alma...
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Creio teres falhado a previsão, poeta Amigo...

25 março 2014

São quadras, meu bem... são quadras!...

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Colhe
todo o oiro do dia
na haste mais alta
da melancolia.
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Eugénio de Andrade
poema "Despedida"
in "Antologia Breve"

24 março 2014

O Triunfo dos falhados...

... a "Opinião" de Vasco Pulido Valente
na sua Coluna de Domingo, no "Público"
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Vasco Pulido Valente

Há em Portugal um pequeno grupo de indivíduos que Portugal quer desesperadamente ouvir sobre o futuro. Este grupo passa hoje a vida na televisão e nos jornais, com ou sem espaço próprio, e, fora disso, é fatal em qualquer conferência, encontro, simpósio ou debate que por aí se faça na universidade e nos partidos.
Quem são os génios que adquiriram um prestígio que vai do povinho iletrado da TVI, da RTP ou da SIC, às maiores sumidades do país? São, como seria de calcular, os ministros das finanças que magistralmente nos levaram à bancarrota e à miséria. Não sei ou não percebo por que razão esse fracasso lhes deu uma autoridade para falar sobre o desastre a que presidiram. Mas que deu, com certeza que deu; e eles assoprados pela sua importância, não se importam de o usar.

Tirando Cadilhe, que tem juízo, e Sousa Franco, que já morreu, a espécie não se poupa. Vítor Gaspar, Teixeira dos Santos, Bagão Félix, Manuela Ferreira Leite, Catroga, Cavaco (que não se demitiu do seu penacho de economista lá por ser primeiro-ministro e Presidente da República), nenhum deles pára. Acordamos com os conselhos da seita, adormecemos com as suas profundas profecias. O facto de quase sempre se enganarem e de sempre revelarem com emoção e tremor aquilo que é óbvio para toda a gente não os perturba, nem perturba o público que os venera e ouve. A felicidade da vida deles não se explica: entram com foguetes, “governam” no meio de uma contínua gritaria e saem (enquanto não entram em grandes lugares) para uma espécie de nuvem, donde arengam as massas e criticam com azedume os predecessores.

Quem não inveja este extraordinário estatuto? Nem uma alminha lhes pede responsabilidades, nem um miserável inspector (e centenas trabalham para as finanças, perseguindo o pequeno trafulha) recebe a melancólica incumbência de examinar o que eles fizeram ou não fizeram. O parlamento na sua incurável e perpétua desordem não se interessa muito pelo passado. Os ministros, que espatifaram o nosso dinheiro ou consentiram que ele se espatifasse, podem por isso gozar, sem sequer uma estadia no purgatório, de uma doce existência, que a Pátria acha que eles merecem. O Presidente da República e o primeiro-ministro pretendem que “lá fora” nos levem a sério. Mas se “lá fora”  alguém olhar com atenção para a lista dos nossos ministros das Finanças, conclui com certeza que este é um país burlesco.
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in. "Público"
de 23 de Março

Memórias do Liceu...

A DrªMaria Alcinda da Veiga Lima
foi professora de História
no Liceu Nacional de Setúbal
nos anos lectivos de 1968/70.
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Maria Alcinda

23 março 2014

Eras de lenha e crepitavas...

...num soneto a que Natália Correia chemou
"Falavam-me de amor".
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Natália Correia
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FALAVAM-ME DE AMOR
Quando um ramo de doze badaladas
se espalhava nos móveis e tu vinhas
solstício de mel pelas escadas
de um sentimento com nozes e com pinhas,
menino eras de lenha e crepitavas
porque do fogo o nome antigo tinhas
e em sua eternidade colocavas
o que a infância pedia às andorinhas.

Depois nas folhas secas te envolvias
de trezentos e muitos lerdos dias
e eras um sol na sombra flagelado.

O fel que por nós bebes te liberta
e no manso natal que te conserta
só tu ficaste a ti acostumado
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Natália Correia
O Dilúvio e a Pomba 
Lisboa, Publicações D. Quixote, 1979

22 março 2014

No centro de Portugal...

...com uma vista magnífica à sua volta
O Castelo da Lousã


21 março 2014

Humor antigo...

...in "Mundo ri", nº 136
de Janeiro de 1965
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- O Pai Natal enganou-se... Juro-te que não foi isto que eu pedi!

20 março 2014

Senão mesmo impossível,,,

O colapso da escola

Nas salas de aula é hoje, por vezes, muito difícil senão mesmo impossível ensinar e aprender.
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 Prof.Carlos Fiolhais

 Jornal de Notícias de 11 de Fevereiro dava conta que, numa escola de Braga, um grupo de pais tinha denunciado ao Ministério Público a prática de masturbação e o arremesso de bolas de papel incendiadas contra professores em salas de aula do 9.º ano. O director do agrupamento desmentiu a primeira parte, mas confirmou a segunda. Teve mesmo de chamar a PSP. Escassos dias antes, o mesmo jornal informava que, noutra escola básica de Braga, tinha havido um arraial de pancadaria no recreio, que causou vários feridos entre alunos e professores. Foi necessária a intervenção da GNR, tendo dois alunos ido parar ao hospital.
O que se passa nas nossas escolas? O livro A Sala de Aula, da socióloga Maria Filomena Mónica, que acaba de sair do prelo da Fundação Francisco Manuel dos Santos, revela o interior dos edifícios escolares. Para o conhecer melhor a autora pediu a alguns professores e alunos que, sob a forma de diários anónimos, contassem o seu dia-a-dia na sala de aula e à volta dela. O que se passa dentro dos muros das escolas é, por vezes, tão chocante que ficamos a não estranhar casos como os de Braga, que, ao contrário de muitos outros, chegam aos jornais. No volume Diários de uma Sala de Aula, que acompanha A Sala de Aula, uma professora relata a violência usada por uma aluna contra a mãe. Segundo a docente, numa reunião tida com as duas, a aluna “reagiu muito agressivamente, a sua expressão foi assustadora, a linguagem muito ordinária”. O pai, separado da mãe, era toxicodependente, tendo ele próprio iniciado a filha no haxixe. Noutra escola, esta frequentada por meninos ricos, uma aluna diarista descreve uma cena de uma aula do 10.º ano: “Durante um minuto, a professora grita com o aluno que a ignorou, até perceber que é inútil. Como sempre aliás”. E outra aluna retrata assim o ambiente escolar: “A porta da escola mais parece uma chaminé de fábrica. Todos os intervalos é possível encontrar uma boa parte da população estudantil a fumar. Ora tabaco, ora charros. (...) Se os papás soubessem o que os filhos fazem durante o dia, provavelmente não os deixariam ir às aulas...” Segundo a própria aluna, os pais que não sabem estão a trabalhar para comprarem roupas de marca para os seus rebentos. Estas descrições serão extremas, mas não completamente atípicas. As escolas albergam uma multidão de alunos, pobres ou ricos, que tudo fazem para não ir às aulas e, quando vão, as boicotam por todos meios ao seu alcance. Nas salas de aula é hoje, por vezes, muito difícil senão mesmo impossível ensinar e aprender.
Filomena Mónica, que em 1997 tinha escrito Os Filhos de Rousseau, condenando as teorias românticas que em grande parte são responsáveis pela indisciplina reinante (de facto, o bom comportamento não surge espontaneamente, como pensava o filósofo suíço), analisa agora em profundidade a realidade educativa nacional. Passa em revista os alunos, a família e a comunidade, os cursos profissionais, os exames, as matérias, os professores, os sindicatos e o Ministério. Com uma clareza meridiana, que não é normal nos autores de ciências sociais e humanas, e apoiada não só nos depoimentos dos diários mas também em documentos oficiais, apresenta os pontos fracos da educação nacional. Não foge às comparações com a escola de antigamente, que critica sem hesitar, e com a escola de outros países mais desenvolvidos, que gostaria de ver aqui emulada. Sublinha alguns bons exemplos na escola portuguesa: a luta heróica de alguns professores que conseguem cumprir a sua missão num clima adverso. Embora verifique o colapso educativo, defende o papel insubstituível da escola pública como elevador social: Continuo a acreditar que, se as escolas públicas forem boas, os filhos dos pobres poderão, até certo ponto, sair do círculo de miséria em que estão encerrados.” A autora é particularmente severa para com o Ministério, ou melhor para com os seus sucessivos ocupantes (28) após 1974. Critica o actual ministro, em quem muita gente, incluindo a maioria dos professores, depositava fundadas esperanças, por pouco ter feito para tornar a escola um lugar onde se ensina e aprende sem bolas de fogo ou refregas como as de Braga. Apesar de partilhar com Nuno Crato a aversão ao “eduquês”, a novilíngua que o Ministério criou e mantém, verifica com mágoa que ele não implodiu a máquina ministerial como queria fazer, que não deu às escolas a autonomia de que fala e que não tem dado poder aos professores como é preciso. Pelo contrário, o Ministério, povoado por assessores incompetentes e sustentado por plataformas informáticas que Kafka não imaginou, continua a infernizar a vida a professores e alunos. Conclui Filomena Mónica o seu capítulo sobre os docentes: “Além de não assegurar a qualidade do ensino, o Ministério impede o normal funcionamento das aulas.” Tendo a concordar.
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Escrito na pedra...

4ªf 08 01 2014
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”À minha volta, reprovava-se a mentira, mas fugia-se cuidadosamente da verdade”.
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Simone de Beauvoire
1908-1986
Escritora e feminista francesa

19 março 2014

Um bonito enquadramento...

...da Física com a Matemática.
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As minha colegas Fernanda Canto e Violante Mestre,
algures no Centro de Portugal.

18 março 2014

Num ritmo perfeito...

... em um poema de Sophia
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Sophia de Mello Breyner Andresen
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O primeiro homem

Era como uma árvore da terra nascida
Confundindo com o ardor da terra a sua vida,
E no vasto cantar das marés cheias
Continuava o bater das suas veias.

Criados à medida dos elementos
A alma e os sentimentos
Em si não eram tormentos
Mas graves, grandes, vagos,
Lagos
Reflectindo o mundo,
E o eco sem fundo
Da ascensão da terra nos espaços
Eram os impulsos do seu peito
Florindo num ritmo perfeito
Nos gestos dos seus braços

Sophia de Mello Breyner Andresen
Obra Poética I

17 março 2014

Escrito no vento...

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"Confiança em nós e em quem está connosco é o primeiro segredo do sucesso."
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Emerson

16 março 2014

O delírio senil...

Na sua Coluna, na última página do Público,
Vasco Pulido Valente deixou ontem a sua Opinião,

num texto a que deu o título
A brigada do reumático"

Vasco Pulido Valente

"Um manifesto assinado por 70 personalidades (de facto, 74) provocou por aí uma grande comoção jornalística, não se percebe porquê. As ditas personalidades são na sua maioria políticos reformados, ou, para falar com franqueza, políticos falhados. Nenhum deixou uma obra que mereça ser lembrada ou que tenha mudado radicalmente o destino do país. Mas por razões que escapam ao cidadão comum não há um que não se ache importante na nossa mesquinha vida e não pense que a sua egrégia opinião nos faz muitíssima falta. Este imaginário sentido da responsabilidade acabou por os levar a comunicar aos portugueses (cuja idiotia eles tentam corrigir) algumas verdades práticas de que a Pátria precisa para se salvar. Antes de entrar na matéria, devemos manifestar a nossa gratidão pela sua sabedoria e pelo inevitável incómodo, que lhes custou escrever e assinar um papel.
O papel, visto com um olho desconfiado (e, se quiserem, cínico), não passa de um acto eleitoral. Por outras palavras, de um desabafo colectivo da oposição, que neste caso vai de Adriano Moreira a Francisco Louçã e de João Cravinho ao dilecto discípulo de Marcelo, Diogo Freitas do Amaral. Ficam muito bem juntos na sua essencial irrelevância. Parecem a “brigada do reumático”, virada do avesso e revista pela democracia. A intenção era embaraçar Cavaco, que não se embaraçou e pôs rapidamente na rua dois dos signatários; atrapalhar o Governo, que não se atrapalhou; e dar uma ajudinha ao camarada Assis na eleição para o Parlamento Europeu, coisa a verificar não tarda muito.
Mas, fora isso, esta inesperada união nacional apresentou um plano para nos tirar de apuros. Uma parte do plano repete a cartilha sobre as possibilidades de pagar a dívida e não impressiona ninguém, excepto quem andar no céu ou viver numa gruta. A outra parte do plano é do género hipotético: se a “Europa” não estivesse no estado em que está, se a sra. Merkel não pensasse o que pensa, se a Inglaterra não concordasse com a sra. Merkel, nem a Holanda, nem a Finlândia… tudo se resolvia num fósforo. Ou se a “reestruturação” da dívida portuguesa não abrisse um precedente, em que a Roménia, por exemplo, se pudesse pendurar… então. A conversa lembra definitivamente a velha conversa sobre a minha avó e as rodas que ela não tinha. Por mim, compreendo do coração as saudades de um mundo que passou. Mas não sou um grande entusiasta do delírio senil."
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NB - Acho que VPV premedita e pondera com cuidado tudo aquilo que nos dá a ler... Sou da opinião que a "omissão" da palavra "Caetano" à frente de "Marcelo" não será apenas um "descuido". Vamos deixar passar o tempo até às próximas "presidenciais" para vermos qual a atitude que irá tomar em relação ao "comentador" da TVI...

Na Companhia de Jesus...

...com o Seu Ilustre "representante" em Oleiros,
o jesuita Padre António de Andrade.
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Uma pequena "homenagem" ao primeiro europeu chegado ao Tibete, em 1626.
(durante um passeio realizado em 8 de Março de 2014)
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"Escalador dos Himalaias e descobridor do Tibete em 1624."
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"Foi mui zeloso de propagar a nossa Santa Fé e descobriu o Tibete
com grande trabalho e perigo de vida."
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Padre António de Andrade
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Frade jesuita nascido em Oleiros, corria o ano de 1581, ingressou na dita ordem, em Coimbra, em 15 de Dezembro de 1596. Com vinte anos, jovem imberbe, partiu em 1600 para a Índia, na armada do Vice-Rei Aires de Saldanha, juntamente com dezanove companheiros: doze deles portugueses, outros sete da Itália. Termina em Goa a sua formação religiosa, onde chega a ser Reitor do Colégio de S.Paulo e Mestre de noviços. Posteriormente é enviado como Superior e Visitador, à Missão do Grão Mogol. Exercendo essas funções em Agra, no mês de Maio de 1624, com o objectivo de averiguar as notícias. havia anos espalhadas, àcerca do Tibete, decide encetar a jornada em forma de aventura ao dito território. Cabe-lhe, pasmem-se, a glória de ter sido o primeiro europeu a atravessar o Himalaia, bem como a descobrir o ramo principal das nascentes do Ganges. É Andrade que nos descreve, pela sua própria pena, a jornada:
 .
"Caminhando até ao alto de todas as serras donde nasce o rio Ganges de um grande lago,
do qual também nasce outro rio que rega as terras do Tibete."
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Ainda no ano de 1624, regressou a Agra de onde envia uma carta ao seu superior, com o sugestivo título de:

"Novo descobrimento do Gran Cathayo ou Reinos do Tibete, pelo padre António de Andrade da Companhia de Jesu, Portuguez, no anno de 1624."
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Memorial do Padre António de Andrade
no Jardim de Oleiros.

15 março 2014

São quadras, meu bem... são quadras!...



Os olhos são indiscretos,
Revelam tudo o que sentem,
Podem mentir os teus lábios,
Os olhos, esses, não mentem.
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Florbela Espanca

14 março 2014

As capas do mundo Ri...

O "Mundo ri", nº 135
de Novembro de 1964

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Com o traço de Vilhena

Sem palavras...

13 março 2014

Eles foram meus alunos...

...em 1960/61.
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Estou muito bem enquadrado
pelo José Custódio Sanchez Antunez (3ºC de 1959/60)  e  
pelo João Luis Martins Alves (5ºA de 1961/62)
no picoto do Centro Geodésico de Portugal,
num passeio a Oleiros, no dia 8 de Março...
Foi magnífico, não foi?!...

12 março 2014

Só podia ser dele...

... este pensamento!
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"Hoje em dia a fidelidade só se manifesta nos equipamentos de som."
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Woody Allen

11 março 2014

Escrito no vento...

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"Estou sempre disposto a aprender, mas nem sempre gosto que me ensinem."
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Winston Churchill

10 março 2014

09 março 2014

Humor antigo...

in. "Mundo ri", nº 135
de Novembro de 1964
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- Não acha que a minha filha tem sentido de humor?...

08 março 2014

Uma crónica de...

...António Lobo Antunes
escrita em 1997 03 09
António Lobo Antunes
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“A vida mais ou menos”
"Parece que nestes últimos tempos se podia ler acerca de ti nos jornais: que eras a maior especialista em Vieira da segunda metade do século vinte, que foste uma professora de excepção, uma intelectual brilhante, que sobre o barroco ninguém como tu e patati patatá, e para além de se poder ler nos jornais, o teu retrato
(sempre me pareceu teres qualquer coisa de pássaro, os olhos, as sobrancelhas, o nariz, a boca) iluminava a página. Qualquer coisa de pássaro: não falavas muito, não sorrias muito, só nos pretéritos perfeitos se notava o teu sotaque do Norte, a voz do meu pai ao telefone:
- a Margarida morreu agora mesmo
a voz da minha mãe
- Havia uma empatia especial entre vocês os dois
nunca tinha ouvido a minha mãe usar a palavra empatia e percebi que estava comovida porque a minha mãe não fala desse modo, ao chegar ao Hospital da CUF o Miguel vinha a sair, acho que nunca nos abraçamos com tal força, depois fechei-me com o João no gabinete dele (há séculos que não via o João de bata)
e
(sabes como são os Lobo Antunes, sabes como é o João)
não dissemos quase nada um ao outro e estávamos os dois tão tristes mas quando saímos para o corredor julgo que disfarçamos bem. Nessa noite sentei-me na mesa da cozinha com os meus pais
( o tempo das criadas acabou-se)
a minha mãe servia o jantar, discutimos Herculano o tempo todo
(conheces o estratagema da família: mal a gente se comove começa a discutir Herculano ou Antero ou Eça de Queiroz)
e nisto o pai levantou-se com a brusquidão do costume, ouviram-se os passos dele nas escadas e ao descer mostrou-me sem uma palavra uma dedicatória tua num livro em que dizias que gostavas muito dele: espantei-me transgredires umas das nossas regras que é a de gostar sem nos referirmos a isso, por pudor, por discrição, porque não é preciso. Ao sair da casa de Benfica pensei
- Vou à igreja
e não fui capaz
(tu sabes que não era capaz)
primeiro por me sentir esquisito
( e patati patatá)
segundo por não querer tomar conhecimento que morreste. Tenho uma fotografia tua na praia com o Zé Maria pequenino e estás muito bonita nela, de pé, com a cabeça baixa, a olhares o teu filho numa atitude do corpo, um bocadinho inclinado para a direita, que conservaste toda a vida.
O enterro foi no sábado. Levei o pai e o azul dos olhos dele
(igual ao azul dos olhos de nós todos)
impressionou-me. Não me lembro o escritor que discutimos
(imagino o teu sorriso ao leres isto)
e todavia lembro-me de querer ficar para trás e de o Miguel me chamar. De modo que após a carreta ia a tua mãe, o teu irmão, e o Miguel, e eu a seguir, abraçado ao Zé Maria e ao João Maria, sou padrinho do mais velho dos teus filhos, estávamos um bocado tensos
(quando escrevo um bocado tu percebes)
e como ías à frente não me viste chorar. Não imaginas a quantidade de enterros que há aos sábados. Dá ideia que as pessoas
(nisto não foste muito original)
esperam a sexta-feira para morrer e incomodarem menos a família porque aos sábados não é costume trabalhar-se. Vai-se ao supermercado e é um pau. O resto passou-se depressa: desceram o caixão, deitaram terra por cima, as flores sobre a terra, ainda estou a ver o Miguel à beira da cova
( hei-de recordar-me sempre do Miguel, direito, à beira da cova, quis fazer-lhe uma festa ou dar-lhe um beijo
e patati patatá
e não dei, claro)
e a seguir, pronto, viemo-nos embora. Tenho uma vaga ideia de estar bastante gente, tenho uma vaga ideia de apertar mãos, tenho uma vaga ideia de bochechas molhadas, tenho uma vaga ideia da alavanca das mudanças do automóvel não funcionar. Logo nesse dia, caramba, a merda da alavanca que funciona sempre. Agora estou aqui sentado à espera do Natal. É que no Natal vens
é o costume
ter comigo para autografar um livro e levá-lo ao Porto ao teu pai. De fevereiro a dezembro, parecendo que não, é imenso tempo. Pode ser que telefones antes
(às vezes telefonas)
a pretexto de me garantires que na tua opinião sou um grande escritor. Nas últimas semanas telefonaste bastante. Claro que não vou contar as nossas conversas mas posso explicar que na última
- Eu depois ligo
deste a entender que dentro em breve te ouvia. E agora desculpa acabar de repente porque a campaínha está a tocar e é capaz de seres tu
- António é a Margarida
é melhor que sejas tu já que
e patati patatá
mesmo que não mostre, e faço os possíveis para não mostrar, tenho saudades de te ouvir. Que gaita de coisa ter tantas saudades de te ouvir."
in. Livro de Crónicas, 1998
António Lobo Antunes