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30 setembro 2020

Lacrimae rerum...

Um lindo poema de 
Augusto Gil 
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Augusto Gil
(1873/1929)
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Lacrymae rerum
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Numa carta em estilo sorridente
(Mas sobre as linhas da qual
Os meus olhos choraram longamente)
Pus este aviso final:

E por notares que manchei
Isso que em cima ficou,
- Não vás supor que chorei...
Foi água que se entornou.
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De Augusto Gil
Lacrymae rerum

28 setembro 2020

Guia de Portugal...

Descobri este Guia de Portugal quando em Castelo Branco frequentava o Liceu.
Tinha nessa altura uns 12 ou 13 anos e das coisas que mais gostava era ter uns feriaditos... para podermos dar uns toques na bola. O nosso Reitor, o célebre Dr. Joaquim Sérvulo Correia, não era da mesma opinião e "tinha a mania" de nos mandar para a biblioteca quando algum dos nossos professores faltava...
Pois foi numa dessas ocasiões que descobri, numa daquelas enormes estantes que forravam aquela sala um livro, um livro com sinais de ter sido já muito consultado... 
Tratava-se de uma obra da autoria de "um tal" Raúl Proença que organizou, em oito volumes, um estudo que podemos considerar como um guia turístico, do Portugal de então... 

Muitos anos mais tarde, creio que em Fevereiro de 1983, a Fundação Calouste Gulbenkian publicou todos os volumes deste Guia de Portugal, o primeiro dos quais com uma tiragem de 7000 exemplares cartonados, no qual se lê: "Texto integral que reproduz fielmente a 1ªedição publicada pela Biblioteca Nacional de Lisboa, em 1924."
Apressei-me a adquirir todos os volumes desta reedição à medida que iam sendo publicados. 
E só ganhei com isso...
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A capa do primeiro volume
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Raúl Proença
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Raul Proença, foi um escritor, jornalista, bibliotecário e filósofo português, 
membro do grupo que fundou a revista Seara Nova.
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Vem tudo isto a propósito das alterações que desde há muitos meses a CMS vem fazendo no Largo de Jesus. 
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Transcrevo agora um pouco do que se escreve a respeito da nossa cidade e, em particular, sobre a Igreja de Jesus:
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" À dir. do Liceu o Campo do Bonfim, vasto terreno com perto de 20.000 m.q., ladeado de árvores e tendo ao centro, num recinto gradeado, um pequeno jardim com lago.
Ao fundo, a capela do Senhor do Bonfim, com azulejos apreciáveis. Na capela-mor, boa obra de talha. A O. correm os cruzeiros da via sacra instituída por Frei António das Chagas em 1728, e cuja última estação que fica por trás da igr., é constituída por um tríplice cruzeiro de mármore.
Passando pela rua de João Vaz, ao largo de Miguel Bombarda aí se vê o convento  e igr. de Jesus, o mais notável de Setúbal em antiguidade e valor artístico.
O templo é, escreve Watson,  o "melhor exemplo no país do gótico terciário modificado pela adição de certos pormenores manuelinos". "É uma das mais belas pequenas igrejas que eu ainda vi.", diz por seu lado Andersen. Infelizmente o terramoto de 1755 danificou-o muito, tendo perdido os pináculos e parapeitos que o coroavam. Na fachada lateral lindo portal em ogiva , infelizmente bastante deteriorado, em vista da qualidade da pedra, facilmente esboroável. Nele se admira uma dupla porta interior, de arcos policêntricos, tendo a meio um pilar sobrepujado do seu nicho. Avultam os colunelos, os pequenos capitéis, as mísulas, os baldaquinos, tudo lavrado no policrómico mármore da Arrábida. Aos lados, dois botaréus com nichos vazios de imagens, à dir. da portada o corpo da capela-mor, rasgada por uma alta e elegante janela manuelina, outrora revestida por belos vitrais (de 1539). É também digna de registo a torre que encima o templo".
Interior de abóbadas artesoadas e com seis curiosas colunas torsas. Capela-mor quadrada, mais alta do que as naves, de grande arco triunfal de ponto subido, e abóbadas de nervuras também torcidas. Os pilares e as janelas são em mármore da Arrábida. altar-mor do séc. XVII, e púlpito, da mesma época, de talha dourada.. No corpo da igr. um notável silhar de azulejos de moldura  polícroma (séc. XVII), em 18 painéis, decorando a parte superior das paredes, corre uma série de 15 magníficos quadros quinhentistas, da escola portuguesa, talvez de Gregório Lopes. Na capela-mor outro silhar de azulejos formado por 7 painéis.
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A Igreja de Jesus
(antes de 1924)

Defronte da igr. um cruzeiro (mon. nac.)  de mármore vermelho da Arrábida, mandado erigir por D. Jorge de Lencastre, duque de Coimbra e mestre de S. Tiago.
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25 setembro 2020

Mais um Amigo que partiu...

... fomos colegas de carteira em alguns dos sete anos que frequentámos o Liceu Nacional de Nuno Alvares e sempre na mesma turma. No Livro de Despedida de 1952/53, o nosso comum Amigo Luis Marçal Grilo retratou-o na caricatura que aqui deixo como memória.
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João Correia Barata
7ºAno, em 1952/53
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Só ontem soube da notícia quando folhei o exemplar de Reconquista que continua a chegar-me às mãos, todas as semanas.
Com a idade de 87 anos faleceu ontem (17 de Setembro), em Lisboa o João Correia Barata, antigo funcionário do Banco de Portugal. Era natural do Retaxo e residia em Castelo Branco. Enquanto a saúde lhe permitiu ia semanalmente ao Retaxo a "ver a horta e a abrir a porta e as janelas da casa dos meus pais, pois já não consigo fazer mais nada". (in. "Texto da Associação Cultural e Social Rancho Folclórico do Retaxo)..
Já não via o João Correia Barata há muitos anos.
-
João Correia Barata
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Descansa em Paz
Amigo Barata.
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Para os Filhos, 
os meus sentidos pêsames.

23 setembro 2020

Gaudi

Uma maravilha 
em Barcelona
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A casa Batlló
(Antoni Gaudi)

22 setembro 2020

Hoje há pintura...

Pablo Picasso
Pintor espanhol
1881 - 1973

Retrato de Françoise (1946)
Museu de Picasso, Paris

21 setembro 2020

Escrito na pedra...

In “Público”
14.09.2020
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“Se a liberdade significa alguma coisa, será sobretudo o direito de dizer às outras pessoas o que elas não querem ouvir."
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George Orwell
1903- 1950
escritor

20 setembro 2020

Ficam com mancha...

... no Público de ontem
no Espaço reservado a 
José Pacheco Pereira.
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José Pacheco Pereira
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Não se mistura "honra" com mundos muito pouco honrados. 
Como [os políticos na comissão de Vieira] não se retractaram, ficam com uma mancha.
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(...)
... Porque senão eles tornam-na num ataque contra a democracia, usando como pretexto a corrupção, que lhes é verdadeiramente indiferente. Mais do que nunca, temos de ter uma conversação rigorosa, dura, intransigente, mesmo impiedosa sobre a corrupção. 
Por vários motivos: um, estrutural, porque a corrupção é endémica em Portugal; outro, de circunstância: porque vem aí da Europa o alimento da corrupção, milhares de milhões de euros. Já se vêem os bandos de pombos atrás do milho. Por último, porque nada mais fragiliza a democracia nos dias de hoje do que a corrupção num debate público envenenado pelas redes sociais, com a crise de toda a informação de qualidade, mediada e séria ser substituída pelo clamor populista e pela crise colectiva da "educação para a cidadania" dos seus cultores...
Comecemos pelo carácter estrutural da corrupção em Portugal nos dias de hoje. O que é que se pode dizer quando temos enredados na justiça, arguidos, acusados, indiciados, toda a panóplia de graus de indiciação, um antigo primeiro-ministro, vários ex-ministros, vários secretários de Estado, autarcas, , dirigentes da administração pública, , militares de altas patentes, responsáveis policiais, juízes, procuradores, dirigentes desportivos de grandes clubes, empresários, gestores de topo, deputados, banqueiros, personalidades do jetset, génios das tecnologias, uma multidão de medalhados, doutorados, homenageados, por aí adiante? Quem é que escapa?
O que aconteceu é que toda esta gente se encontrou uma ou mil vezes perante uma tentação a que não resistiu, ou que acolheu de braços abertos, que nem chega a ser tentação, felizes pelas oportunidades de ganhar dinheiro ilegalmente, de fugir aos impostos, de vender ou comprar um favor, de roubar com colarinho branquíssimo, de usar os seus conhecimentos nas altas esferas e os melhores conselheiros no mercado, para defraudar os "parvos" dos outros. Tiveram oportunidades, e criaram oportunidades e é a facilidade com que isto aconteceu, e a fila enorme de gente importante que foi lá buscar o seu quinhão, que mostra que não é um problema de meia dúzia de corruptos, mas do "meio" que facilita o crime, ou seja, é estrutural e não conjuntural. Eles vivem no "meio" e são o "meio".
(...)
(...)
Isto significa que não se pode fazer nada? Bem pelo contrário, pode até fazer-se muito, mas de um modo geral não é o que habitualmente se faz na resposta pavloviana à pressão populista. O populismo é contraproducente para combater a corrupção; pelo contrário até a reforça. Não é aumentar as penas, não é diminuir as garantias do Estado de direito, não é oscilar entre a complacência e a intransigência. É pensar de uma ponta a outra a administração, das autarquias aos ministérios, é cortar radicalmente os milhares de pequenos poderes discricionários que por aí existem, obrigar a que sejam transparentes e escrutináveis muitos processos que nada justifica não serem públicos. Agora, que vêm aí vários barris de dinheiro, é vital que tal se faça.
Mas é também dar o exemplo, de que não se mistura a "honra" com mundos muito pouco honrados. Por isso é que a participação do primeiro-ministro, do presidente da Câmara de Lisboa. e de vários deputados num acto de promiscuidade com o poder fáctico do futebol é muito grave, porque significa indiferença face à corrupção, numa altura crítica do seu combate. Como não se retractaram, ficam com uma mancha.
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in "Público
19.09.2020

18 setembro 2020

Humor antigo...


in. "Almanaque"
Junho/1960
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- Se quer a minha opinião, até as pernas têm um ar culpado!

17 setembro 2020

São quadras, meu bem... são quadras!...

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De moderna a fama trazes
Pelos centros mais mundanos,
E, afinal, o que tu fazes
Já se faz há milhões de anos.
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in "Quadras à solta"
em "O Mundo ri

15 setembro 2020

Já Bocage não sou...

Manuel Maria Barbosa du Bocage.
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Manuel Maria Barbosa du Bocage
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Já Bocage não sou!... À cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento...
Eu aos céus ultrajei! O meu tormento
Leve me torne sempre a terra dura.
Conheço agora já quão vã figura
Em prosa e verso fez meu louco intento.
Musa!... Tivera algum merecimento,
Se um raio da razão seguisse, pura!

Eu me arrependo; a língua quase fria
Brade em alto pregão à mocidade,
Que atrás do som fantástico corria:

Outro Aretino fui... A santidade
Manchei!... Oh! Se  me creste, gente ímpia,
Rasga meus versos, crê na eternidade!

Bocage 
15.09.1765

14 setembro 2020

Setubalense - 1973 - Abril

1973
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06.Abril
CMS
Foi ontem assinada a escritura da 2ªfase do Bairro Marcelo Caetano que será dotado de mais 431 moradias.
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06.Abril
Está tudo preparado para começar imediatamente a construção do Palácio da Justiça de Setúbal.
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09.Abril
Frederico Burnay assina a reportagem "Quando a aventura tem o nome de esperança", em que entrevista um casal holandês que estão a construir um barco nos estaleiros da Praia da Saúde.
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09.Abril
Assumiu o cargo de Patrão-Mor da Capitania de Setúbal, o Ten. Joaquim Manuel Ancarim Letras. 
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09.Abril
Óbito
Morreu ontem em Setúbal a Sr.ª D. Isaura de Jesus Machado Sant'Ana Ferreira da Cunha, viúva do Sr. Humberto Américo Ferreira da Cunha e Mãe do Sr. Eng. Cunha.
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09.Abril
Tribunal
O Dr. Vasco Manuel Ervedoso Dias Pereira é o Síndico de Falências.
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11.Abril
António Augusto Simões que no passado dia 3 de Abril completou 88 anos foi homenageado num restaurante de Palmela
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13.Abril
Na reunião da Câmara (11.4.73) foi autorizado que o vencimento dos fiscais de obras, presentemente de 3.200$00, seja aumentado para 3.500$00.
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16.Abril
Concerto
A banda de música do Batalhão de Caçadores nº5, sob a regência do capitão Maestro Sílvio Lindo Pleno, fez um concerto no Coreto da Avenida.
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16.Abril
Falecimento
Faleceu no passado sábado (14.04.73), no Hospital de S.Bernardo, com 58 anos, o Sr. Manuel dos Prazeres Teixeira, que foi chefe de secretaria do comando da PSP.
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16.Abril
Andrea actuando em Alessandria (sic), com foto.
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16.Abril
Falecimento
Faleceu na madrugada de ontem, no Hospital da Estrela, o Sr. Coronel Augusto de Carvalho, de 75 anos, natural da Guarda. Frequentou a Escola de Guerra cujo curso terminou em 1916. Promovido a aspirante foi colocado no Regimento de Infantaria, 21 (Covilhã), de onde transitou em 1922, e a seu pedido, para o RI 11, em Setúbal, cidade que serviu com toda a dedicação até ao momento da sua morte. Nesta cidade foi Comissário Geral da Polícia, chefe do Distrito de Recrutamento nº11, Comandante do RI 11 e comandante Militar.
Foi fundador e Presidente da Delegação da Sociedade Histórica da Independência de Portugal.
Foi professor do Externato Frei Agostinho da Cruz servindo nesta qualidade o ensino liceal desde Novembro de 1922.
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23.Abril
Os Estacionamentos,
em se tem esforçado a CMS para dotar a cidade com o maior número possível de parques de estacionamento.
Presentemente está em acabamento um, na zona da Av. Manito, com entrada pela rua Perestrelo da Conceição.
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23.Abril
Vinda de Paris, onde exerceu a profissão de manequim, encontra-se entre nós a jovem Maria Helena Martins que vem participar no concurso Miss Portugal, na qualidade de Miss Comunidades Portuguesas no estrangeiro .
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27.Abril
A Sociedade Agrícola da Quinta da Comenda de Mouguelas, há largos anos de posse da Família francesa d'Armand, foi vendida às firmas Torralta e Soberana.
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30.Abril
Ontem rebentaram petardos em vários pontos do distrito de Setúbal (Setúbal, Cacilhas, Barreiro, Almada e Moita).

13 setembro 2020

A pintura de Graça Lagrifa...

 Foi Graça Lagrifa quem escreveu.
"Refiro sempre a autoria da foto que me serviu de referência. Hoje não consigo saber senão que é uma jovem de Kashmir/India".
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Uma jovem de Kashmir

12 setembro 2020

A opinião de António Araújo...

...numa resposta à carta que 
José António Saraiva
escreveu há uns dias
no "Público"

António Araújo
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Nas suas crónicas de imprensa, José António Saraiva (J.A.S.) tem revelado uma tendência crescente para o registo demencial em chave dupla patético-pateta. Ao ler o livro que acabou de publicar, conclui-se que é também um empenhado cultor da ignorância profunda, e já sem salvação possível nos anos que lhe restam. Agora, com a "carta" que enviou ao PÚBLICO, verifica-se que propende igualmente para a fraude artística, ainda que com menos sucesso do que os carteirista da Baixa.
Na verdade, só um expediente fraudulento e cartomante permite inventar a espantosa figura do "anonimato público". Segundo J.A.S., a "fonte" em que se baseia para a sua construção de opereta final não é anónima, esclarece ele. "Deu a cara, mas pediu o anonimato público, o que é diferente." Como, senhor arquitecto?! Se alguém se recusa a prestar testemunho público, verificável, como podemos indagar a veracidade do que afirma? Não há anonimato público nem privado. Há anonimato, ponto. A partir do momento em que uma testemunha não quer dizer quem é, ao que vem, o que faz na vida que proximidade tem ou não tem relativamente aos factos sobre os quais se pronuncia, o seu depoimento, do ponto de vista da construção da verdade, é nulo, quase tão nulo e caricato como este livro de J.A.S. Ainda ontem, por exemplo, várias pessoas aqui no Bairro da Graça me garantiram a pés juntos que o senhor arquitecto Saraiva é um idiota chapado e um vulgar aldrabão, mas, como quiseram todas guardar o anonimato público, eu não posso escrever nesta página que o senhor arquitecto Saraiva é um idiota chapado e um vulgar aldrabão -- e, por isso, não escrevo.
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in "Público"
11.09.2020
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NB - Transcrevo apenas os primeiros parágrafos deste artigo de crítica implacável que merece ser lido na íntegra

10 setembro 2020

Recordações...

Na Tróia
em 20 de Agosto de 1984
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                    GI

09 setembro 2020

todo o lixo do mundo...

… num poema de 
Eugénio de Andrade
a que o autor deu o nome de
"Há dias".

Eugénio de Andrade
(visto por Artur Bual)
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Há dias que julgamos
que todo o lixo do mundo nos cai
em cima. Depois
ao chegarmos à varanda avistamos
as crianças correndo no molhe
enquanto cantam.
Não lhes sei o nome, Uma 
ou outra parece-se comigo.
Quero eu dizer: com o que fui
quando cheguei a ser
luminosa presença da graça,
ou da alegria.
Um sorriso abre-se então
num verão antigo.
E dura, dura ainda.
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Eugénio de Andrade
in. "Os lugares do lume"
1998 - 2ªedição                      

08 setembro 2020

Parabéns!... 8 de Setembro.

A Alexandra faz hoje anos!
Beijinhos e um belo dia de aniversário...
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Alexandra Kolontai Fernandes Ferreira Godinho

07 setembro 2020

Reuniões&Passeios...

Na Paia da Galé,
em 16.11.2013

numa reunião em que o
S.Martinho e o magusto
predominaram...
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Depois de um belo almoço e antes das castanhas... um passeio com algum vento e algum frio...

06 setembro 2020

Escrito na pedra...

In “Público”
01.09.2020
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“Melhor ou pior, todos pretendemos, com as férias, rasgar uma clareira na nossa vida quotidiana."
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Davis Mourão-Ferreira
1927- 1996
escritor

05 setembro 2020

Uma opinião...

de José Ribeiro e Castro.
nas páginas do "Público"
ontem, dia 4 de Setembro.
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José Ribeiro e Castro
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No célebre filme de Gary Cooper, o comboio apitou três vezes. No último artigo de Rui Tavares, o comboio também apitou três vezes. Devia ter apitado quatro. Apitou para os muçulmanos da mesquita. Apitou para os ciganos, E apitou para os imigrantes. Devia ter apitado também para os outros, a gente que se manifestou.
A cada apito, Rui Tavares desculpou-se a muçulmanos, ciganos e imigrantes, por os mencionar ao engano. Três vezes se desculpou. Faltou desculpar-se também a Cavaco Silva, a Passos Coelho e a D.Manuel Clemente, bem como às dezenas de outros que omitiu, subscritores do abaixo-assinado pelas liberdades de educação. Eu também sou dessa gente.
O artigo de Rui Tavares mostra bem como é resvaladiça a disciplina de Cidadania e Desenvolvimento, quer na questão de fundo, quer no passo concreto que, após vários incidentes dispersos, projectou o escândalo a nível nacional. Tão resvaladiço e tão envolto em preconceito que apeteceu pisar a fronteira do "racismo e xenofobia". Rui Tavares dirá certamente que não quis estigmatizar. Mas, sob pena de o argumento não funcionar, ele deslizou anonimamente para dentro da multidão unânime que rejeitaria as exigências quanto á educação dos filhos -- e, em subtexto, lá estão os estereótipos que imporiam a recusa da "deriva comunitarista" (os muçulmanos), da "discriminação do género" (os ciganos) e da evasão a "integrar-se" (os imigrantes).
Aqui, ecoa o velho poema, dramático: primeiro, vieram pelos muçulmanos; depois vieram pelos ciganos, a seguir vieram pelos imigrantes; e, enfim, vieram pelos outros, esta gente. Ora, em direitos fundamentais, é igual para todos: não há muçulmano, nem imigrante, não há cigano, nem "outros"-- somos todos "nós".
Isto não tem a ver com subtextos a que podemos recorrer para impressionar frisas e camarotes. Isto tem a ver com cada questão concreta que se ponha. Se muçulmanos, ciganos e imigrantes -- até negros, veja-se lá, e índios, mais indianos e os da loja do chinês  -- assinarem o abaixo-assinado das liberdades da educação têm todo o direito, porque, como pais têm o mesmo direito fundamental às liberdades de educação em Portugal.. Aí, eu também sou muçulmano, cigano, imigrante. E, na mesma linha, é batota apontar Cavaco Silva, Passos Coelho e D. Manuel Clemente para, em subtexto, atrair antipatias politico-partidárias ou sugerir uma fractura religiosa. É questão de cidadania, ainda que os cidadãos, como cidadãos livres, tenham direito à liberdade religiosa e à liberdade de consciência. Não esquecer.
(...)
A primazia dos pais quanto à educação dos filhos -- com a consequente posição subsidiária do Estado (presta um serviço, não ordena) -- é matéria de direito natural, abundantemente consagrada em declarações internacionais de direitos, em textos constitucionais e nas leis. Em boa fé  e com recta intenção, não sofre a mais pequena dúvida e não é possível opor-se-lhe qualquer reserva. Basta ler a Constituição. E também não oferece a menor dúvida o ensino obrigatório, no interesse de todas as crianças e jovens serem fluentes a ler, escrever e contar, consolidarem ciências e humanidades, ganharem saberes para a realização pessoal e profissional na vida adulta.
É falácia absoluta, quanto à Educação para a cidadania, convocar, em paralelo, disciplinas como Literatura, Português, Matemática e outras. Não são estas questões que estão colocadas e todas se afigurariam disparatadas. Ouvi perguntar: a cidadania não é obrigatória? Também não é isso, até porque a cidadania é livre, A questão é saber se, aproveitando-se da ambiguidade do âmbito de uma matéria , o Estado pode aproveitar para despejar os conteúdos que lhe apetecer, a fim de "doutrinar" os alunos. Não pode: a Constituição proíbe-o. Tudo depende do bom senso. Se o ministério se vestir de Grande Educador e se puser ao serviço de correntes que animam controvérsia contínua, incluindo temas que incendeiam acções de rua e confrontos eleitorais , suscita naturalmente a rejeição de muitos pais e pode, no limite,  estragar a escola. Estes pais têm de ser respeitados. Não há volta a dar. Em nome dos filhos, é deles a liberdade, o direito e, também o dever.
(...)
in "Público"

04 setembro 2020

Humor antigo...

... com o traço
de Lassalvy
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- São duas boleiazinhas... uma para mim e outra aqui para o meu irmãozinho!...

01 setembro 2020

Escrito na pedra...

In “Público”
30.08.2020
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“Pouco me importa se uma pessoa vem de Sing-Sing ou de Harvard. Nós contratamos a pessoa, não a sua história."
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Henry Ford
1863-1947
empresário