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31 março 2017

Uma medíocre criatura...

Diário de
Vasco Pulido Valente
Jorge Sampaio

Tristezas
hopes expire of a low dishonest decade… (W. H. Auden)

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Vasco Pulido Valente
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O PSD – A comissão distrital do PSD aprovou a candidatura da dra. Teresa Leal Coelho à Câmara de Lisboa por vinte e tal votos contra um. Não me admira nada, só me admira que esse único discrepante não fosse imediatamente fuzilado. Os chefes mandam hoje nos partidos como quem manda em regimentos e deviam abandonar os títulos com que se ornamentam pelo título genérico decoronel, como antigamente no Brasil. Era mais sincero e exacto. A obediência é, do PC ao CDS, a grande virtude do militante e, como dizia Lee Atwater, o lendário conselheiro de Reagan, o segredo do sucesso está em “não se fazer notado, fazer-se de parvo e ir sempre andando”.

Mas não há críticos do PSD? : os defuntos partidários (Pacheco Pereira) e os generais reformados (Marques Mendes, Santana Lopes e Manuela Ferreira Leite, todos ex-presidentes daquela desaustinada agremiação). Isto dá vontade de morrer, como Bulhão Pato inventou que Herculano tinha dito perante um espectáculo parecido? Às vezes, , desculpem.
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Jorge Sampaio - Conheço este antigo Presidente por dentro e por fora desde os vinte anos. Mas nunca o julguei capaz de descer tão baixo. O segundo volume das memórias desta medíocre criatura, que tem todos os privilégios da praxe (uma grande pensão, gabinete de quatro ou cinco pessoas, escritório, automóvel e motorista), foi para meu espanto e até escândalo financiado pelas seguintes entidades: BPI, Fundação Oriente, Fundação Luso-Americana, Grupo Visabeira (ou seja, um grupo económico privado), Instituto Português de Relações Internacionais da Universidade Nova, PT e Mota-Engil. Esta indignidade de um homem em quem milhões votaram é um insulto para o país. E ainda há quem fique perplexo com a corrupção do PS. Previno já que vou ler e escrever sobre as ditas memórias com a maior repugnância.
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in. "Observador"
26.03.2017

30 março 2017

Nem uma flor pelos montes...

Num poema a que
Fernanda de Castro 
deu o nome de
Fim de outono.

Fernanda de Castro

Fim de Outono
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Fim de outono... Folhas mortas...
Sol doente... Nostalgia...

Tudo seco pelas hortas,
Grandes lágrimas no chão
Nem uma flor pelos montes,
Tudo numa quietação
Soluça numa oração
O triste cantar das fontes.

Fim de outono... Folhas mortas...
Sol doente... Nostalgia...

A terra fechou as portas
Aos beijos do sol ardente,
E agora está na agonia...
Valha à terra agonizante
A Santa Virgem Maria!

Fim de Outono... Folhas mortas...
Sol doente... Nostalgia

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29 março 2017

E outros sem ser por nada...

...num poema que
Fernando Pessoa
intitulou de 
No combóio descendente.
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Fernando Pessoa
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No comboio descendente
Vinha tudo à gargalhada.
Uns por verem rir os outros
E outros sem ser por nada
No comboio descendente
De Queluz à Cruz Quebrada...

No comboio descendente
Vinham todos à janela
Uns calados para os outros
E outros a dar-lhes trela
No comboio descendente
De Cruz Quebrada a Palmela...

No comboio descendente
Mas que grande reinação!
Uns dormindo, outros com sono,
E outros nem sim nem não
No comboio descendente
De Palmela a Portimão.

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in."Sol", 
13.11.1926

28 março 2017

Parecem-se uns com os outros......

ANTÓNIO BARRETO
escreveu sobre 
A actual Comunicação Social

António Barreto

É simplesmente desmoralizante. Ver e ouvir os serviços de notícias das três ou quatro estações de televisão é pena capital. A banalidade reina. O lugar-comum impera. A linguagem é automática. A preguiça é virtude. O tosco é arte. A brutalidade passa por emoção. A vulgaridade é sinal de verdade. A boçalidade é prova do que é genuíno. A submissão ao poder e aos partidos é democracia. A falta de cultura e de inteligência é isenção profissional.
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Os serviços de notícias de uma hora ou hora e meia, às vezes duas, quase únicos no mundo, são assim porque não se pode gastar dinheiro, não se quer ou não sabe trabalhar na redacção, porque não há quem estude nem quem pense. Os alinhamentos são idênticos de canal para canal. Quem marca a agenda dos noticiários são os partidos, os ministros 
e os treinadores de futebol. Quem estabelece os horários são as conferências de imprensa, as inaugurações, as visitas de ministros e os jogadores de futebol.

Os directos excitantes, sem matéria de excitação, são a jóia de qualquer serviço. Por tudo e nada, sai um directo. Figurão no aeroporto, comboio atrasado, treinador de futebol maldisposto, incêndio numa floresta, assassinato de criança e acidente com camião: sai um directo, com jornalista aprendiz a falar como se estivesse no meio da guerra civil, a fim de dar emoção e fazer humano.

Jornalistas em directo gaguejam palavreado sobre qualquer assunto: importante e humano é o directo, não editado, não pensado, não trabalhado, inculto, mal dito, mal soletrado, mal organizado, inútil, vago e vazio, mas sempre dito de um só fôlego para dar emoção! Repetem-se quilómetros de filme e horas de conversa tosca sobre incêndios de florestas e futebol. É o reino da preguiça e da estupidez.

É absoluto o desprezo por tudo quanto é estrangeiro, a não ser que haja muitos mortos e algum terrorismo pelo caminho. As questões políticas internacionais quase não existem ou são despejadas no fim. Outras, incluindo científicas e artísticas, são esquecidas. Quase não há comentadores isentos, ou especialistas competentes, mas há partidários fixos e políticos no activo, autarcas, deputados, o que for, incluindo políticos na reserva, políticos na espera e candidatos a qualquer coisa! Cultura? Será o ministro da dita. Ciência? Vai ser o secretário de Estado respectivo. Arte? Um director-geral chega.

Repetem-se as cenas pungentes, com lágrima de mãe, choro de criança, esgares de pai e tremores de voz de toda a gente. Não há respeito pela privacidade. Não há decoro nem pudor. Tudo em nome da informação em directo. Tudo supostamente por uma informação humanizada, quando o que se faz é puramente selvagem e predador. Assassinatos de familiares, raptos de crianças e mulheres, infanticídios, uxoricídios e outros homicídios ocupam horas de serviços.

A falta de critério profissional, inteligente e culto é proverbial. Qualquer tema importante, assunto de relevo ou notícia interessante pode ser interrompido por um treinador que fala, um jogador que chega, um futebolista que rosna ou um adepto que divaga.

Procuram-se presidentes e ministros nos corredores dos palácios, à entrada de tascas, à saída de reuniões e à porta de inaugurações. Dá-se a palavra passivamente a tudo quanto parece ter poder, ministro de preferência, responsável partidário a seguir. Os partidos fazem as notícias, quase as lêem e comentam-nas. Um pequeno partido de menos de 10% comanda canais e serviços de notícias.

A concepção do pluralismo é de uma total indigência: se uma notícia for comentada por cinco ou seis representantes dos partidos, há pluralismo! O mesmo pode repetir-se três ou quatro vezes no mesmo serviço de notícias! É o pluralismo dos papagaios no seu melhor!

Uma consolação: nisto, governos e partidos parecem-se uns com os outros. Como os canais de televisão.


27 março 2017

Escrito na pedra...

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In. “Público”
20.03.2017
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A educação tem raízes amargas, mas os seus frutos são doces.
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Aristóteles
384 a.C. 
-322 a.C.
filosofo grego

26 março 2017

Humor antigo...

in. "Anedota Ilustrada" nº4
de Dezembro de 1960

(com o traço de Wenzel)
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-  Não interrompa agora! O meu sócio 
deve estar a inspirar-se para o seu anúncio!

25 março 2017

Hoje há pintura...

Sandro Botticelli
Pintor renascentista italiano
1445 - 1510
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Venus e Marte
National Gallery

24 março 2017

Coração que não desiste...

... num poema a que 
Miguel Torga
deu o nome de
"Escuta"
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Miguel Torga
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Escuta

Ouço o dia.
Chora uma nora perra num quintal;
Canta melancolia
Um cuco, além, num pinheiral
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Do mormaço do sol, quente,
Ouço apenas mormaço;
Mas ouço-o perfeitamente,
Na auscultação gelada que lhe faço.
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Duma voz infeliz,
Que me fala das brumas da saudade,
É que não ouço bem o que me diz.
Embora me pareça que é verdade...
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Também ouço a pancada
Deste meu coração que não desiste,
E não ouço mais nada.
Um dia realmente triste.
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Miguel Torga
in."Diário - Vol.1"

23 março 2017

Escrito no vento...

É mais fácil ter ciúmes de um amigo feliz, do que ser generoso para um amigo que esteja na desgraça. (…) Creio que a amizade é mais difícil e mais rara do que o amor. Por isso, há que salvá-la a todo o custo.” 
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(Alberto Moravia)

22 março 2017

Eles foram professores do Liceu...

Sebastião Tomás dos Santos
Em 1 de Julho de 1916, tomou posse como Professor do 5ºGrupo (Geografia) mas é como professor de Gimnástica que, no ano seguinte assina o auto de posse.
Sem mais referências, o seu nome volta a surgir no ano lectivo de 1922/23, desta vez como procurador do professor Carlos Costa, pelo qual tomo posse em 5 de Setembro de 1922, o que pode levar-nos a crer que ainda seria professor no Liceu de Setúbal.
O Dr.Sebastião Tomás dos Santos era conhecido pelo “Justin Clarel”, actor de cenas de pancadaria em filmes de episódios que corriam naquela época, por ter uma compleição física de atleta, parecida com a daquele actor.

21 março 2017

Escrito na pedra...

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In. “Público”
15.03.2017
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O progresso é impossível sem mudança. Aqueles que não conseguem mudar as suas mentes não conseguem mudar nada.
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George Bernard Shaw
1856 - 1950
escritor irlandês

20 março 2017

São quadras, meu bem... são quadras!...

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Se flores jamais me deres,
Se eu rir e tu não rires,
Se quando eu chegar fugires
Ninguém dirá que me queres!

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Reinaldo F

19 março 2017

Humor antigo...

in. "Anedota Ilustrada" nº4
de Dezembro de 1960

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- Garanto-lhe minha senhora! O seu marido saíu agora mesmo!!! 

18 março 2017

Hoje há pintura...

Antonello de la Messina
Pintor renascentista italiano
1430 - 1479

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A virgem e o menino (1460-69)
National Gallery

17 março 2017

Um luminoso sol de certo dia...

...num poema que 
Miguel Torga 
escreveu em 6 de Novembro de 1939.
Estava em Leiria.
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Miguel Torga
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Memória

Chove

Mas, afinal, já chove há muitos anos...
O mundo dos meus pés nunca se move
Sem chuva, tristeza e desenganos...
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Apesar disso,
Lembro-me perfeitamente bem
Do luminoso sol de certo dia...
Um lindo sol que doirava
Num toco que rebentava
Uma folha nascia.
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Miguel Torga
In."Diário - Vol.I"

16 março 2017

Nas revistas masculinas...

Num texto publicado em 
13 de Janeiro de 2008
na Revista Pública
por
Faíza Hayat
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Faíza Hayat
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Todos os meses gasto algum dinheiro em revistas masculinas. Compro várias. Fiz-me até assinante da “Esquire” espanhola, quando a revista lançou o primeiro número, há poucos meses. Onde mais, senão em revistas masculinas, é possível ver, digamos, o modelo americano Brad Kroening com barba de três dias ou o actor britânico Naveen Andrews a correr despenteado?
Certamente não em revistas para mulheres, cujas páginas estão cheias de… miúdas.
É simples explicar este meu sexismo de macho: as boas revistas masculinas são, basicamente, sobre “homens no seu melhor”, como diz o lema da “Esquire” desde há décadas.
Confesso que o melhor dos homens é a única coisa que eu aprecio neles.
Quando têm classe, as revistas para homens são como os perfumes masculinos: caem muitíssimo bem a uma mulher, muitíssimo melhor do que os produtos “femininos”. E, sem dúvida, caem muitíssimo melhor do que a um homem.
Do que os homens de bom gosto gostam eu também não vivo sem: boa roupa (e não é preciso ser cara), bons “gadgets” (e não precisam de ser inúteis; comprei no Natal uma câmara fotográfica digital “soft touch” verde limão, linda!), “coulness” (e não precisa de ser petulância), garotas (e não precisam de ser estúpidas, nem de estar nuas, o que parece ir uma-coisa-com-outra), carros (e não preciso de poder comprá-los), filmes, restaurantes.
Chega-me, por diferentes vias “noticiosas” (basta abrir o portal do meu webmail), a antecipação da grande entrevista da supermodelo Naomi Campbell com o ex-páraquedista venezuelano Hugo Chavez, na edição de Fevereiro da GQ britânica.
Fiquei curiosa.
Naomi é a nova colaboradora editorial da GQ. Anuncia-se uma série de entrevistas com personalidades da política, do entretenimento e da moda.
Em antecipação, Naomi resume Hugo Chavez como um “anjo rebelde”, diz que lhe pediu para ele doar dinheiro à Fundação Mandela e admite que lhe interessou na entrevista apenas “o homem”, sem “julgar” as suas “visões políticas”.
Naomi revelou também que os venezuelanos estão mais felizes que há 10 anos, quando ela esteve na Venezuela para uma sessão fotográfica da revista Sports Illustrated.
Do lado do Presidente da Venezuela, ficámos a saber que Fidel Castro é o líder mundial com mais estilo e que tem as botas sempre bem engraxadas e o uniforme sempre bem engomado.
Hugo Chavez convidou também Naomi a apalpar-lhe os músculos, em resposta a uma pergunta sobre se o Presidente da Venezuela se deixaria fotografar em tronco-nu, como o Presidente Putin da Rússia.
Fico perplexa com tanta estupidez de ambos os intervenientes. É claro que vou comprar a GQ de Fevereiro.
Ler para crer.
Pergunto-me, entretanto o que milhares de vítimas do regime cubano pensarão do barbudo engomado. Talvez Naomi, que está tão cingida aos velhos códigos dos jornalistas, possa abusar um pouco da entrevista estilosa com Chavez e discorrer sobre o que vê Fidel quando olha para a biqueira das suas próprias botas: talvez a imagem nítida e sombria de um país em derrocada.
As revistas masculinas também têm este lado:os homens revelam melhor o seu lado idiota quando julgam que estão perante uma mulher estúpida, só porque ela é uma mulher bonita. Naomi, por ironia, tem reputação de ser melhor do que o fez para a GQ.
Mas talvez o lado inteligente das mulheres não interesse aos homens? Aí está uma resposta que ainda não encontrei nas revistas masculinas. Fico, por isso, com um problema nas mãos: a beleza, quando abdica da inteligência, ganha contornos de monstruosidade.
Entre a bela e o monstro, versão modelo e Presidente, não sei quem é afinal bonito.
Talvez nenhum, engolidos em tontice.
Folheio um número da “Esquire” e refugio-me, por minutos, numa entrevista à moda antiga, feita por um redactor anónimo. Fala Iggy Pop, um homem no seu melhor. “O sexo mede-se melhor que o amor. Sabes logo a seguir se foi bom ou não”.
Ora bem.
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In. Revista “Pública
13.01.2008

15 março 2017

Como o que o Dr.Cunhal nos preparava...

Diário de
Vasco Pulido Valente

António Costa

Uma democracia “diferente”?
hopes expire of a low dishonest decade… (W. H. Auden)



Vasco Pulido Valente

Uma parte da opinião ficou esta semana escandalizada e até assustada com o ataque da Esquerda ao governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, e à Presidente do Conselho de Finanças Públicas, Teodora Cardoso, com as proezas de um bando de idiotas numa universidade qualquer, que impediram Jaime Nogueira Pinto de fazer uma conferência para que aliás fora convidado, e, finalmente, com o veto do primeiro-ministro a Teresa Ter-Minassian, proposta por Carlos Costa e pelo Tribunal de Contas para o Conselho de Finanças Públicas.

Não há razão para surpresas. Esta aliança de “frente popular” não se interessa por salvar ninguém da miséria ou por uma economia paralisada e pobre. Logo do princípio o seu grande objectivo foi ocupar e dominar o Estado, de maneira a nunca ser removida do poder. Uma política que Marcelo, na sua natural ligeireza e esquecido como sempre de que é Presidente, aprecia e jura que está de “pedra e cal” ou mesmo de “cimento armado” para eterna felicidade dos portugueses.

Desde que emergiu das combinações torpes de 2015 o governo só pensa, de facto, em alargar o Estado, revertendo as privatizações de Passos (a TAP e os transportes urbanos, por exemplo), aumentando o funcionalismo público e, agora, restaurando a sua progressão nas carreiras (na prática sempre corporativa, paroquial e automática).

Claro que qualquer instituição independente é para este benemérito regime uma provocação, seja o Conselho de Finanças ou a rede ferroviária. Segundo Jorge Coelho, “quem se mete com o PS leva”. Carlos Costa, Teodora Cardoso e outros réus de autonomia e liberdade própria vão agora levar com um “organismo de cúpula” que os meta na ordem e force a não destoar da mascarada estabelecida. Se a Geringonça durar acabaremos na “democracia diferente”, em que um cidadão ande bem vigiado e em que o governo controle a economia, como a que o dr. Cunhal nos preparava e, no “11 de Março”, esteve quase a impor.
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Publicado em 11 de março de 2017
in. "Observador".

14 março 2017

Escrito na pedra...


In. “Público”
13.09.2015
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O ignorante afirma, o sábio duvida, o sensato reflecte.
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Aristóteles
-384/-322
Filósofo da Grécia antiga

13 março 2017

Eles foram professores do Liceu...

Francisco Lopes Vieira de Almeida
Esteve dois anos no Liceu de Setúbal como professor efectivo do 4ºGrupo (História e Filosofia) com a primeira tomada de posse registada no dia 10 de Novembro de 1915.
Mais tarde foi Professor Catedrático de Letras na Universidade de Lisboa.
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Prof. Francisco Vieira de Almeida
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"Figura filosófica e cultural de grande relevo na sociedade portuguesa, durante a primeira metade do século XX, Vieira de Almeida foi, enquanto professor, autor e personalidade, um caso invulgar de rigor filosófico e atenção cívica que, embora hoje pouco lembrado, não pode ser esquecido quando se trabalha a história e a cultura portuguesas contemporâneas.” (Carlos Leone)
Não deixa de ser interessante reler o que, sobre o Prof. Vieira de Almeida, escreveu ainda Carlos Leone.
“Licenciado e doutorado pela Faculdade de Letras de Lisboa em Filosofia, ingressou como docente na Universidade pelo grupo de História (em 1915). Em 1921 voltou à área de Filosofia onde ascende a catedrático em 1932, mantendo-se em actividade permanente até 1958.
Apesar de entre a sua extensa bibliografia encontrarmos poesia, romance a e teatro, bem como traduções, é a sua actividade como professor e ensaísta na área de Filosofia, e também de História, que o distingue.
Ora, Vieira de Almeida foi (…) um dos raros autores portugueses com trabalhos de relevo em Lógica (e na sua divulgação), mas nunca abdicando de um compromisso político explícito apesar dos dissabores que o regime lhe causou mesmo em idade avançada.
Monárquico, e próximo de autores como Pequito Rebelo e Hipólito Raposo nos alvores da I República, não demorou muito a cativar simpatia noutros quadrantes e não espanta, por isso, ver o seu nome entre os fundadores da Revista dos Homens Livres («Livres das Finanças e livres dos Partidos»), projecto frentista contra a degeneração da República na década de 1920.
(…)
…implantada a ditadura que estará na base do Estado Novo, Vieira de Almeida encontra-se já próximo do grupo Seara Nova, com o qual mantêm contactos, através de Câmara Reys, mesmo depois de António Sérgio se afastar da revista. Era já então uma figura intelectual de referência…
…na ressaca da campanha do General Humberto Delgado e do seu desfecho, encontramos Vieira de Almeida entre os «quatro grandes» (expressão de Mário Soares no volume de homenagem a Vieira de Almeida no centenário do seu nascimento, v. Referências bibliográficas) que se juntam a Delgado para convidar os socialistas Aneurin Bevan e Mendès-France para conferências em Portugal, em 1959.
Impedidas as conferências, e presos os quatro notáveis (além de Vieira de Almeida, Jaime Cortesão, António Sérgio e Azevedo Gomes), o regime tentou voltar à normalidade. Não o conseguindo, não impediu no entanto Vieira de Almeida de morrer em casa, lúcido e comunicativo, estimado pelos mais variados sectores da vida intelectual portuguesa.”
Num artigo publicado na “Labor” – Revista do Ensino Liceal, nº212, de Maio de 1962, pudemos recolher alguma informação sobre este insigne Mestre:
“Grande valor entre os diplomados do Curso Superior de Letras, nasceu em Castelo Branco em 1888 e faleceu em Lisboa, em Janeiro de 1962.
Tendo exercido o ensino, como professor do 4ºgrupo, nos liceus do Funchal, SetúbalBeja e Pedro Nunes, ascendeu em 1930 ao quadro de professores da Faculdade de Letras de Lisboa, onde deu provas de extraordinárias qualidades de inteligência e de caracter.
Na “Colóquio” – Revista de Artes e Letras da Fundação Gulbenkian, nº17, de Fevereiro de 1962, escreveu a respeito deste colega o Prof. Hernâni Cidade: “…Vieira de Almeida, de efervescência espiritual que o interessava pela especulação e pela crítica de ideias e de formas literárias, tanto como pela erudição filológica, e assim tão capaz de traduzir o Latim de Santo Agostinho como o Grego de Demóstenes, de construir o romance tanto como de criar a poesia, e igualmente tão propenso às tarefas mais pesadas como às agitações menos cautelosas da política…”    
Em 1988, foi-lhe prestada uma devida homenagem pelos Antigos Alunos do Liceu de Castelo Branco que descerraram uma placa evocativa na casa onde viveu, naquela cidade.
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Ali esteve presente o filho, Vasco Vieira de Almeida, e o sobrinho Carlos Manuel Vaz de Carvalho que fez o elogio do homenageado.
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Vasco Vieira de Almeida e o
Presidente da Câmara Manuel Castelo Branco

É verdade. Há uma outra história divertida: o Ortega y Gasset veio fazer uma conferência à Faculdade de Letras e os alunos e professores pensaram que era um motivo para se fazer um grande frente-a-frente. O Ortega y Gasset foi apresentado ao meu pai e perguntou: “Es usted un profesor decano?”, o meu pai respondeu: “Não, não sou de cano, sou de ar livre!”. Sempre detestou tudo o que tivesse um ar pesado, sisudo e convencional. (numa entrevista de Anabela Mota Ribeiro).

12 março 2017

São quadras, meu bem... são quadras!...

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Porque fui dançar na boda,
Em que foi que te ofendi?
Andei sempre à roda, à roda,
Mas sempre à roda de ti.
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Augusto Gil

11 março 2017

Humor antigo...

in. "Anedota Ilustrada" nº4
de Maio de 1961

com o traço de Kiraz
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- Já que quem paga as multas é o seu papá... 
este par de açoites paga-o a menina!

10 março 2017

A Fernanda Canto deixou-nos hoje...

Faleceu ontem no Hospital de S.Bernardo,
com problemas do foro cardiológico.
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Dr.ª Maria Fernanda Gomes Canto
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Foi professora de Física no Liceu De Setúbal.
Estará presente na Igreja de S.Paulo, a partir das 17 horas e o
funeral realiza-se amanhã, pelas 9h 15m, após missa de corpo presente.
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Que descanse em Paz.

Recordações...

Tróia
01.11.1973
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GI

09 março 2017

Uma nesga de terra...

Num poema  a que 
Miguel Torga
deu o título de
Pátria
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Miguel Torga
(visto por Rui Zilhão)
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Pátria
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Soube a definição na minha infância.
Mas o tempo apagou
As linhas no mapa da memória
A mesma palmatória 
Desenhou.
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Hoje
Sei apenas gostar
Duma nesga de terra
Debruada de mar.
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Miguel Torga
in."Portugal" - 1950

08 março 2017

Hoje há pintura...

Albrecht Dürer
Pintor renascentista alemão
1471 - 1528

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Autorretrato - 1498
in. Museu do Prado

07 março 2017

Difícil é colher o espinho...

...num poema de
Fernando Namora
com o título de
Acto cirúrgico.

Fernando Namora
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Acto cirúrgico
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Difícil é apalpar a dor
como um objecto e contornar-lhe
as vertentes e os picos
os mares que a poliram
as setas que a vararam.
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Difícil é arredar-lhe 
as espumas e ver-lhe a exacta
superfície para a saber
redonda ou com arestas.
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Difícil é colher 
o espinho no preciso local
onde foi cravado
e expor a ferida que do
espinho resta e expondo-a
queimá-la viva com
um perfurante cautério.
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Fernando Namora
in. "Nome para uma casa" - 1984
Ed. Livraria Bertrand

06 março 2017

Eles foram professores do Liceu...

António Luis Pereira de Almeida
Regeu a disciplina de Geografia (5ºGrupo) tendo tomado posse pela primeira vez em 4 de Janeiro de 1915, no ano lectivo de 1914/15, como professor efectivo. Segundo consta nos registos, manteve-se ligado ao Liceu até 1921 (ano lectivo de 1920/21). No entanto, em 25 de Novembro de 1916, ao mesmo tempo que assinava o seu auto de posse como professor, assinava uma nova posse, agora como Médico Escolar, função que desempenhou a par com a de professor, até Agosto de 1921. Existe uma informação relativa ao ano lectivo de 1919/20 onde consta que “foi autorizado a exercer a função de Médico Escolar”.
Era um homem muito metido consigo, sóbrio mas dotado de um invulgar sentido de humor e repentista. Usava, recobrindo o queixo, uma perinha que lhe caracterizava o rosto.
Contam dele que em certo dia, já com uma certa idade, descansando à tardinha, num banco da avenida Luisa Todi, por ele passou um qualquer pescador que lhe dirigiu um impropério… “Eh! Amigue… más que grrande perrinha!... Já só te faltam os cornes para serres caberrão!...”
Não mostrando o incómodo por tamanha falta de respeito, o Dr. Pereira de Almeida apenas respondeu com uma breve frase: “Olhe que a si, só lhe falta a pêra!...”

Segundo a preciosa memória do Dr. José do Soveral Rodrigues, que foi aluno no Liceu na época em que aqui leccionou este professor, o Dr. Pereira de Almeida acabou por morrer devido a uma esclerose renal e era da opinião que talvez tivesse vivido um pouco mais se a hemodiálise já fosse prática corrente naquela época.

São quadras, meu bem... são quadras!... 09

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Se a luz que trago no peito
Fosse como a do luar
Já teria achado um jeito
De um dia te vir a amar...               

05 março 2017

Setubalense - 1970 - Junho

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03 Junho
Vai ser extinta a P.V.T.
A Polícia de Viação e Trânsito vai deixar de existir e as suas funções passarão para a GNR.
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03 Junho
Falecimento
D.Maria Emília Lobo de Moura
Em Lisboa, faleceu na 2ªfeira, a Sr.ª D. Maria Emília Branghton de Meneses Sousa Lobo de Moura, de 54 anos, solteira. Natural de Setúbal, proprietária e residente na Estrada dos Ciprestes.
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06 Junho
Liceu de Setúbal
Dispensados de exame os alunos do 7ºAno, com média de 14 valores.
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06 Junho
A criação da Diocese
…O Conselho presbiterial aprovou por unanimidade a proposta da criação das novas dioceses de Setúbal e Santarém.
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03 Junho
Falecimento
Amadeu Aldeano Ferreira
Na sua residência faleceu na 5ªfeira, o Sr. Amadeu Aldeano Ferreira, de 58 anos.
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11 Junho
Em “Pontos de Vista”, o "Desporto de Minha Escola…”, João Lúcio põe em destaque os professores de Educação Física da Escola Técnica (“e do Liceu, embora em menor escala”) e dos alunos desportistas por eles “fabricados”.
Entre os primeiros “Domingos do Rosário (e por força da justiça: José Manuel Páscoa – que “morre de saudades… por estar agora no Montijo) Luís Paquete, Fernando Anjos, Maria Antónia de Freitas, professora; Maria Adelaide Anjos e Isabel Gomes, instrutoras, são nomes que merecem uma palavra de elogio pelo contributo, dedicação com que desempenham as suas funções”.
Entre os alunos, Manuel Cravo, Joaquim Simões, Paula Vaz (a filha do Artur “Fininho”), campeã de Badmington, Luisa Correia, Aida Carvalheira e Teresa Leonarda, campeãs de 60 metros e salto em altura…”
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15 Junho
O Eng. António Martins era o Presidente da Comissão de Planeamento.
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15 Junho
A secção masculina da Escola Preparatória de Bocage teve a sua festa de fim de ano.
Realizado no Pavilhão do Clube Naval, estiveram presentes os Srs. Dr. João José Mendes de Matos, vice Presidente da CMS, a professora D. Edite do Rosário, em representação da Directora da Secção Feminina, da mesma Escola.
Falaram os professores Celestino Moreira, a respeito da festa, e o Dr. Jorge Coelho sobre as Actividade Circum Escolares.
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17 Junho
A Academia de Música e Belas Artes
Actuou no Salão Nobre da Câmara, no passado domingo.
Abriu a Sessão a Classe de Canto Coral dirigida por Idalino Cabecinha.
Os “Quatro Cantares do Cancioneiro Português”, a duas vozes, foram acompanhador por Fidélio Barroca (flauta) e por José Eduardo da Encarnação Fernandes (clarinete) e Idalino Cabecinha (piano).
As alunas Isabel Santana da Silva, Maria do Carmo Campos, da Professora Ema Lisboa Dias, executaram números de violino.
Das Classes de Piano das professoras D.Maria Amélia Carmona, D.Maria Laura de Morais e D. Natividade Lopes da Silva, actuaram os alunos Maria Lin de Sousa, Maria do Carmo Campos, José Manuel e António Manuel Aleixo, Maria do Rosário Cunha do Vale e Maria Manuela Santana Carlos Wengorovius.
A aluna Maria Isabel Pinho Duarte encerrou a audição.
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17 Junho
José Estrela Leão
Foi distinguido com a nomeação de Director do Centro Português de Informação e Adido Comercial à Embaixada de Portugal, na Dinamarca.
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27 Junho
Laureano Rocha obteve uma menção honrosa no Concurso de Quadras Populares, das Festas de Setúbal.
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27 Junho
PSP
O Comissário Eugénio Lobato foi promovido e colocado na cidade do Porto.


04 março 2017

Parabéns!... 4 de Março

O meu neto 
Pedro Constantino
faz hoje anos. 
Vai um abraço grande.
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Pedro Maria Matos de Oliveira Constantino

03 março 2017

Hoje há pintura...

Eduard Manet
Pintor francês
1832 - 1883

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  Le Déjeuner (1868)
Nova Pinacoteca de Munique

02 março 2017

Fotografias de Setúbal...

Uma bonita fotografia 
de autor desconhecido.
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Com a doca das Fontaínha em primeiro plano, a dos Pescadores lá mais ao longe e, entre as duas, a doca de Recreio, junto ao Clube Naval Setubalense.