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07 novembro 2006

Breve Crónica de uma viagem ou a história de uma paixão


















MCRebelo Calejo

Foi numa manhã dos finais de Julho último que, ao descer do avião que me levou e aos meus de Lisboa, literalmente beijei o solo do meu querido Moçambique, nove anos depois de um primeiro e indescritível regresso, em 97.
Confesso o turbilhão de sentimentos que me assaltam de cada vez que se aproxima a data da partida para a terra que sempre senti minha – um misto de forte ansiedade e expectativa, alegria e algum receio de não conseguir vencer a forte emoção que, inevitavelmente, me assola. Explico: foi aí que vivi, com familiares e amigos, alguns dos anos mais felizes da minha vida, foi aí que aprendi a amar África e as suas gentes, aprendi o sentido da amizade, os valores que, hoje e sempre, norteiam o meu caminho. Numa palavra, cresci. Sei que encontro conforto e alento quando, em espírito, viajo até ela.
Do Maputo das belíssimas e rubras acácias e dos harmoniosos jacarandás – onde nasci e repousam minhas avós – a Inhambane – berço de meus tios – e à linda praia do Tofinho, passando depois por terras da Maxixe, de Morrumbene, da Maçinga e de Vilankulos – por entre os poderosos embondeiros e os imensos coqueirais, as doces mangueiras e os saudosos cajueiros, ao encontro de Rongas e Changanas, Tsongas e Chopes, Senas e Ndaus – até ao Inhassoro e ao Inchope e, finalmente, à minha querida Beira, onde vivi a minha não longa mas eterna existência em terras de Moçambique, a cada passo desfiei um rosário de emoções.
Alegrei-me por cada lugar reabilitado, calei em mim a dor pelos muitos degradados. Calcorreei ruas, horas a fio, procurei com os olhos cada esquina, cada edifício, visitei igrejas e mesquitas, os jardins e as escolas da minha infância, olhei com o coração as casas que nos viram crescer – a mim e a meu irmão – e as de familiares e amigos, apertei nas mãos a areia da praia, senti-a minha, entrei no mar, chamei-lhe meu. Abracei primos, amigos queridos, tomei o pulso às gentes e auscultei as lutas do seu viver, rocei o ombro pelo das crianças e jovens à saída das escolas, na ânsia indiscreta de lhes ouvir os interesses e preocupações, regozijei-me quando vi progresso, chorei quando vi “chorar”, vivi!
Pensei, enfim, que é nessa terra, com todas as suas vicissitudes, que me reencontro sempre, e a que, na hora da despedida, faço votos íntimos e ardentes de mais um e ainda um outro retorno.
Até lá, é no silêncio da minha mente que retorno e revivo, vezes sem conta.
Sim, sou portuguesa de nacionalidade. Em Portugal criei laços e vi aumentar a minha família, a esta terra aprendi a afeiçoar-me, mas... alguém perguntou qual a nacionalidade da minha alma?
Até sempre, Moçambique!

MCRebelo Calejo

Setúbal, Outubro de 2006

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