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23 abril 2009

Um livro...

Alguma ansiedade caiu sobre mim desde que há dias me prometeste o envio desta excelente Obra que dignifica a Cidade onde nasceste.
Recebi esta manhã a tua oferta que enriquecerá certamente a minha pequena biblioteca.
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António Salvado
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Uma magnífica, e incomum, encadernação faz realçar ainda mais o seu conteúdo feito de poemas como só tu consegues exprimir.

O rosto da última Obra de António Salvado

E a gentil dedicatória que o autor me deixou:

Li já alguns dos poemas que compõem esta Obra.
Escolhi um deles para aqui deixar…
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O poema de abertura

I
A carga do desejo
e os corpos molestados…,
se o amor proibido esquece a condição
que os reprimia e avança sem fronteiras
até deixar que o laço se produza,
até que o sangue ferva
no cerne do prazer,
e cada vez a dor seja maior
quando os gritos transpiram o suor
dos loucos movimentos do delírio,
quando o franger dos ossos
quase que rasga acutilante a carne,
quando o alor se faz anunciar
mas tarde em sobrevir
Porém ele acontece. E sob os corpos
doloridos. Exaustos,
vai-se apagando a carga do desejo.

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E um outro poema de que gostei, de entre os que já li:

XX
Contritos corações,
definhadas vontades de viver
sede gretando os lábios,
fome secando a pele –
a são milhares arrastando o pó
sob seus pés descalços,
os olhos marejados de lonjura
que os faz tombar ali
(num singular destino
a que Deus certamente é alheio)
e são homens mulheres e crianças
na busca d’outra pátria menos crua
onde tenha cessado
o horror de correr.
e palmilham sem-fins de desespero
ou de resignação
e não param (deterem-se
seria como ver a morte próxima)
até à frágil extrema enevoada
na espera de chegarem
ao outro lado onde a metralha – dizem –
por minutos deixou de ribombar.
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"Odes é neste livro um “diminuto harpejo”, quando muito uma “canção dolente”, à qual o poeta teima em dar voz para aliviar o peso dos dias iludidos…
(…)
Ora, é também dessa claridade – rompendo o artificialismo e a opacidade do útil no quotidiano – que emerge a obra do pintor Raul Costa Camelo, aqui num fraterno diálogo com a poesia de António Salvado. De mãos dadas, respirando beleza neste livro, chegam desta forma até nós duas excelsas expressões artísticas, a elevar um canto, feito Odes, para maior enlevo do espírito que nos habita."
Paulo Samuel
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Pintura de Raul Costa Camelo (1924-2008)

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Meu caro António, o Paulo Samuel provavelmente nem sonha… e tu próprio, não sei se recordarás. Quando tínhamos oito ou nove anos e tu moravas na rua d’Ega, o Raul Costa Camelo era quase teu vizinho… Se esta memória “maldita” não me atraiçoa, era na rua do Muro, ali bem junto da entrada para o Jardim-Escola, que vivia com os pais o futuro pintor que se radicou em Paris onde deu nome, também, à Cidade em que estudou. Costa Camelo faleceu em Paris no início de Novembro de 2008.
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O livro "Odes", do poeta António Salvado, lançado na Biblioteca Municipal, em Castelo Branco, no dia 17 de Abril, termina com um poema manuscrito que aqui fica para recordar.´O Poeta deu-lhe o título "Foi ali que floriram..."
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Poema manuscrito

Como sabes António, hoje é quinta-feira... dia de receber a "Reconquista"!...
Depois do almoço, folheei a publicação... Nem uma linha sobre a noite do dia 17 de Abril, decorrida na Biblioteca Municipal da nossa Cidade!...
Sobre futebol?!... 7 (sete) páginas...
São opções...
Pouco teremos a ver com elas!...
Mas que são um desrespeito aos assinantes da "Reconquista"...lá isso são?!...
O que diria disto o nosso querido professor Dr. Manuel Duque Vieira se "por cá andasse ainda?"... Ele que foi o primeiro redactor da "Reconquista", juntamente com o Dr.Ulisses Pardal, sob a direcção do Dr. José de Sena Esteves... Nenhum deles era "profissional" do jornalismo! Eram apenas amadores competentes!... E com nível...

Resta uma palavra de simpatia para a Câmara Municipal de Castelo Branco que aqui deixo nas mãos do Sr.Presidente Joaquim Morão. Provavelmente a publicação desta bela Obra - "Odes", do António Salvado teria sido mais difícil sem a bondade da sua ajuda.

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