Há poucos dias, com o título “Há pessoas com muita lata e descaramento”, circulou entre nós um “mail” que realçava os ordenados fabulosos auferidos pelo Governador e pelos outros membros do Conselho da Administração do Banco de Portugal.
Segundo aquele mail,
“O Governador Vítor Constâncio aufere anualmente 272.627€/ano
O Vice-Presidente António P. Marta aufere anualmente 244.174€/ano
O Vice-Presidente José M de Matos aufere anualmente 237.149€/ano”
É uma notícia que já nem nos admira e aceitamos com um encolher de ombros como quem diz: “Para quê ficar revoltado se isso nada altera o que foi decidido sobre os vencimentos destes Senhores?!”
Lemos, sorrimos e perguntamos como é possível…
Depois passamos à frente e, daqui a pouco, a gente já nem se lembra…
E a notícia seria de facto para esquecer, não fora o pormenor de um dos nomes visado me parecer conhecido e estar gravado na minha memória.
Na verdade, após um breve exercício, os poucos e “heróicos” neurónios que me restam, lembraram-se do Zé Matos que frequentou o nosso Liceu até 1970, onde fez o 7ºAno com notas soberbas, na alínea de Económicas, a alínea g).
Foi um bom aluno do Liceu Nacional de Setúbal.
Estudioso, aplicado, com ideias próprias, bastante modesto e muito íntegro, o Zé Matos preocupava-se já com as “assimetrias” sociais, económicas e culturais então vigentes nesta nossa área geográfica.
Pertenceu a um 7ºano cheio de interesse, com alunos que conheciam as dificuldades das gentes menos afortunadas aqui na região de Setúbal e que tentavam lutar contra a miséria e o infortúnio da maioria das gentes que viviam nos bairros mais problemáticos que então havia na Cidade.
Eram uns idealistas… a querer modificar o mundo!
“Nós é que vamos ter força para mudar isto!...”, pensavam eles.
Um dia, em 12 de Outubro de 1970, o jornal “Setubalense” apresentou, com um título “gordo” a três colunas, uma “Carta Confidencial a uma Cidade que eu amo”, da autoria do Zé Matos.
Titulo no "Setubalense", da Carta do Zé Matos
Era a Carta de um jovem que fazia esforço para não parecer revoltado e que, sob uma capa de boas maneiras, fazia uma crítica áspera a alguns aspectos negativos que, à altura, imperavam na cidade.
No mesmo dia comecei a receber os parabéns por tão feliz artigo e coleccionei parabéns durante um dia ou dois… A semelhança dos nomes levou a estes enganos. Foi assim que “acumulei” uma série de felicitações dirigidas ao Zé Matos e resolvi entregar-lhas, todas, num outro artigo, esse sim escrito por mim, e que o Setubalense publicou uma semana depois.
Mas vou separar o trigo do joio!...
Os dois artigos que mencionei, o do Zé Matos e o meu, não os quero deixar ligados a esta notícia que circula agora na internet!
Vou deixá-los para daqui a uns dias
Só então, os Amigos que me lêem farão o favor de tirar as suas conclusões…
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