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01 março 2007

Uns versos de Laureano Rocha

O Sr. Laureano Rocha foi um dos bons Amigos que passou pela minha vida aqui em Setúbal.

Era um "português" da Galiza mais amigo de Portugal do que muitos portugueses que por aí andam… e conhecia-o desde 1959 quando, com o irmão Valentim, ambos geriam, com o maior zelo e eficiência, o melhor Restaurante de Setúbal: o Restaurante do Naval, ali no 1º andar do edifício da Avenida Todi que é agora do Montepio.

Passava o Verão de 1976... e os tempos estavam difíceis.Um amigo nosso, em férias em Las Palmas, enviou-me um postal ilustrado endereçado para o Clube Setubalense, talvez por não se lembrar do meu endereço completo.Aconteceu que o Carteiro, fazendo alguma confusão, acabou por deixar o meu postal ilustrado no Restaurante do Clube Naval Setubalense, em vez de o deixar no outro lado da Avenida, no Clube Setubalense.

Uns dias mais tarde, o postal vem parar às minhas mãos, dentro de um envelope que me era dirigido para o Clube Setubalense. O remetente era o "Zé da Banca", um nome que eu conhecia bem como autor dos "Perfis" que semanalmente saíam sob a forma de Soneto, no extinto jornal "A Voz de Palmela". E vinha acompanhado por uma carta em forma de verso... Tinha de ser!... E tinha piada!....

Mas na altura tive receio de dar publicidade àquela carta...Os tempos eram então muito difíceis! E tive medo...Tive medo, mas não por mim... Tive medo pelo sr.Laureano Rocha!Ele não merecia que pudessem vir a apoquentá-lo... pelo humor que então demonstrou!.

Este é o postal ilustrado que um Amigo me enviou

Las Palmas - Agosto de 1976

.

O texto do postal ilustrado era o seguinte:

Amigo Matos

Aqui vai a figura que muito bom político da nossa terra faz.Espero que os “galifões” não comam tudo, para que a nossa terra não fique árida como a que se vê na gravura.Um abraço para todos os nossos amigos

F, .

Os versos que acompanhavam o postal, por certo feitos de improviso, são os que reproduzo a seguir:
.
Doutor, desculpe o abuso
Mas veio aqui p’ró Naval
Por equívoco, o postal
Que na minha vai incluso.


É que, por acaso, li
O texto que vinha escrito
E eu só no fim vi que o dito
Era destinado a si!


Mas olhe, Doutor, gostei,
Porque o texto, na verdade,
É um hino à sociedade…
Dos “defensores” da grei…


A figura é subtil…
Camelos… só dois encerra
E há milhares nesta terra
Criados… no mês de Abril!…


E tão maus os “galifões”…
Tão cheios de hipocrisia
Que vivem… na porcaria
Duma corja de ladrões!...


Se o “Comba Dão”, esse santo…
Pudesse voltar e… ver,
Eu não sei, mas estou em crer,
Morria logo de espanto!


Pobre país que a loucura
Se aproxima tão veloz
Dum fim…que p’ra todos nós
Já é mal que não tem cura!...

Já não vejo salvação
Nem vida neste jardim…
--Os “pintasilgos” p’ra mim,
São aves de… arribação!...


Mas, Doutor, tenhamos fé…
Desculpe-me a ousadia.…
é que isto de poesia
É, pois, o fraco do “Zé”!...

Eu sei que o "Zé da Banca" está sorrindo lá em cima...a recordar-se destes seus versos feitos numa época em que o desânimo ocupava a maioria dos portugueses que sempre souberam trabalhar!...

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