.
1) Num país normal, governado por gente normal, os números e as estatísticas da execução fiscal de Janeiro seriam anunciados numa conferência de imprensa sóbria e solene. O primeiro-ministro faria uma comunicação curta e rigorosa explicando que, pela via fiscal, os números abrem uma expectativa de cumprimento dos objectivos orçamentais, mas reconhecendo que o trabalho na redução da despesa teria de continuar sem apelo nem agravo. Mas Portugal não é um país normal, nem tem um governo de gente normal. Obcecado com a propaganda e a ilusão de quem simplesmente não percebe o sarilho em que nos meteu, o Governo decidiu ganhar uns pontos de popularidade durante um fim-de-semana, soprando para um jornal uma versão totalmente romanceada sobre a execução fiscal. Evidentemente que nem dois dias durou a festa. A execução fiscal de Janeiro não convenceu ninguém, o drama do financiamento da economia portuguesa aprofundou-se ainda mais, os mercados simplesmente não acreditam em Portugal e exigem taxas de juro que hipotecam a economia portuguesa por muitos anos. O Governo só não perdeu credibilidade externa porque já não tem nenhuma, como mostram sistematicamente os mercados, os nossos parceiros europeus, a senhora Merkel e os agentes económicos. Neste momento, estando a década de 2010-2020 completamente perdida, o endividamento prosseguido pelo Governo com taxas de juro a dez anos superiores a 7% compromete efectivamente a década de 2020-2030. Estamos seriamente a hipotecar a vida dos portugueses para vinte anos. Mas nem o Governo nem os 30-35% de portugueses que continuam a apoiar o PS parecem preocupados. É irónico que a mesma camarilha que efectivamente afundou Portugal por muitos anos ande por aí com o lema "defender Portugal." Todos sabemos que quando chegar a factura, os 7% de juro não vão ser pagos pelos actuais dirigentes do PS que andam a "defender Portugal."
.
in."Jornal de Negócios"
03 03 2011
(continua amanhã...)
Sem comentários:
Enviar um comentário