Recebi há dias uma mensagem cheia de interesse, do antigo aluno do nosso Liceu, Manuel Maria Poirier Braz, que me permito tornar pública após o devido pedido de autorização. Que gentilmente me concedeu...
Poirier Braz entrou no Liceu Nacional de Setúbal em 1 de Outubro de 1946 tendo sido incluido na turma B, do 1ºAno e a quem foi atribuido o nº 14. Claro que transitou para o ano seguinte!...
Entre outros, teve como companheiros de turma o João Salgueiro, o saudoso José Carlos Sequeira Lopes, o José Rica, o José Silva Cardoso (um General que é casado com a minha colega no Liceu de Castelo Branco, a pintora Maria Manuela Monteiro), o Luís Cabral Adão, a Maria do Carmo Noronha Gamito, a Paulina Pimentel, o Rui Palhão e a malograda Maria Helena Amorim.
Manuel Maria Poirier Braz
(Um homem que não fuma! O cachimbo é apenas para compor...)
(Um homem que não fuma! O cachimbo é apenas para compor...)
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Não consegui encontrar uma fotografia da tela aqui mencionada, mas sei que já a vi e creio que a tenho arquivada em qualquer sítio... Não sei onde!
Tive mesmo dificuldade em encontrar, na Net, uma referência a Fernando Santos...
Com este nome, a internet parece só "conhecer" um treinador da bola.
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"Meu Caro JJ Mendes de Matos
Numa tarde de Julho de 1956 (tinha eu somente 20 anos de idade), o José Cândido, que também era membro do Núcleo de Intercâmbio Cultural e já pontificava na Câmara Municipal de Setúbal, sabedor da minha admiração por BOCAGE, convidou-me para o acompanhar ao sótão do edifício municipal.
Segundo aquele nosso amigo, encontrava-se ali depositado, ao abandono e em estado lastimável, um quadro de grandes proporções da autoria do pintor setubalense Fernando Santos representando o poeta sadino rodeado de Musas.
Pintada em 1929, por encomenda do Município de Setúbal, a tela foi colocada em lugar condigno, na sala do Concelho Municipal.
Porém, durante a presidência do Dr. Pires de Lima (1940/44), o Cardeal Patriarca de Lisboa, Gonçalves Cerejeira veio a Setúbal em visita oficial e do programa da recepção fazia parte uma sessão solene na referida sala.
Receosa de que a nudez das figuras femininas (as Musas) pintadas no quadro pudesse ferir a sensibilidade do purpurado, a edilidade mandou retirá-lo daquele local e transferí-lo para o sótão, onde permaneceu desde então, coberto de pó e já com um extenso rasgão na tela, no meio de cantarias e outros objectos ali guardados.
De seguida fui pedir ao meu futuro cunhado, Joaquim da Piedade, que fosse connosco fotografar o quadro, para ficarmos com uma prova material da sua existência e do estado em que se encontrava.
Em 21 de Julho de 1956 publiquei, na Gazeta Setubalense, um artigo intitulado "Salve-se uma obra de arte", em que apelava para que o quadro fosse urgentemente retirado do sótão da Câmara e se aproveitasse o facto de o pintor ainda ser vivo para restaurar aquela sua obra, a bem do património artístico setubalense.
Em 9 de Agosto de 1956, a Gazeta Setubalense publica uma carta do pintor Fernando Santos, então presidente da Sociedade de Belas Artes em que este, depois de ter observado o referido quadro, considera que ainda pode ser salvo se lhe acudir, pois tem restaurado quadros com mais estragos do que este. Acrescenta que, embora sendo uma obra da sua juventude, a tela "Bocage e as Musas" mereceu a um júri composto por Columbano, Veloso Salgado e Luciano Freire o prémio "Rocha Cabral".
Em 12 de Setembro de 1957, o Dr. Falcão Machado, director daquele jornal, dirige uma "carta aberta" ao presidente da Câmara pedindo que, a todo o transe, se remediasse o erro que há tanto tempo vinha a ser praticado.
Após o restauro, finalmente ordenado pelo Major Magalhães Mexia, ao tempo presidente da CMS, o quadro foi exposto em 14 de Março de 1958, na Sociedade de Belas Artes, conjuntamente com outras obras de Fernando Santos e da esposa deste, a pintora D. Alda Machado Santos.
Registei o facto através de um artigo publicado na Gazeta Setubalense de 20 de Março de 1958.
Em 2005, a cidade de Setúbal e o País comemoraram conforme puderam - quanto a mim, de forma insuficiente - o II Centenário da Morte de Bocage.
No magnífico edifício onde outrora se situava a delegação do Banco de Portugal, na bela Avenida Luisa Tódi, que hoje pertence à Associação dos Empresários da Região de Setúbal (Aerset) teve lugar a exposição "Bocage, Textos e Contextos", organizada pelo Museu de Setúbal / Convento de Jesus.
Ali estava, logo ao lado esquerdo da entrada, a toda a extensão da parede, como verdadeiro "prato-forte" da exposição, o quadro de Fernando Santos "Bocage e as Musas".
Já o tinha ido ver, alguns anos antes, ao Museu de Setúbal onde, por motivo das obras crónicas, se encontrava tapado por um extenso pano que o protegia insuficientemente da poeira, mas a emoção foi tão intensa como quando, naquela tarde de Julho de 1956 o vi, pela primeira vez, abandonado no sótão da Câmara.
Quiz fotografá-lo e filmá-lo, ao que a zelosa funcionária que ali se encontrava tentou opor-se, mas tudo se desvaneceu quando lhe contei a história do quadro e da minha intervenção para que fosse salvo. Para reforçar a legitimidade da minha pretensão ainda lhe disse que tinha estado havia pouco tempo no Museu do Louvre e todas as pessoas podiam livremente filmar e fotografar a Gioconda.
Continuo a frequentar assiduamente o seu blog e felicito-o pelo que tem vindo a fazer a bem da história geminada de Setúbal e de Castelo Branco.
Com um abraço e os desejos de muita saúde do
"Meu Caro JJ Mendes de Matos
Numa tarde de Julho de 1956 (tinha eu somente 20 anos de idade), o José Cândido, que também era membro do Núcleo de Intercâmbio Cultural e já pontificava na Câmara Municipal de Setúbal, sabedor da minha admiração por BOCAGE, convidou-me para o acompanhar ao sótão do edifício municipal.
Segundo aquele nosso amigo, encontrava-se ali depositado, ao abandono e em estado lastimável, um quadro de grandes proporções da autoria do pintor setubalense Fernando Santos representando o poeta sadino rodeado de Musas.
Pintada em 1929, por encomenda do Município de Setúbal, a tela foi colocada em lugar condigno, na sala do Concelho Municipal.
Porém, durante a presidência do Dr. Pires de Lima (1940/44), o Cardeal Patriarca de Lisboa, Gonçalves Cerejeira veio a Setúbal em visita oficial e do programa da recepção fazia parte uma sessão solene na referida sala.
Receosa de que a nudez das figuras femininas (as Musas) pintadas no quadro pudesse ferir a sensibilidade do purpurado, a edilidade mandou retirá-lo daquele local e transferí-lo para o sótão, onde permaneceu desde então, coberto de pó e já com um extenso rasgão na tela, no meio de cantarias e outros objectos ali guardados.
De seguida fui pedir ao meu futuro cunhado, Joaquim da Piedade, que fosse connosco fotografar o quadro, para ficarmos com uma prova material da sua existência e do estado em que se encontrava.
Em 21 de Julho de 1956 publiquei, na Gazeta Setubalense, um artigo intitulado "Salve-se uma obra de arte", em que apelava para que o quadro fosse urgentemente retirado do sótão da Câmara e se aproveitasse o facto de o pintor ainda ser vivo para restaurar aquela sua obra, a bem do património artístico setubalense.
Em 9 de Agosto de 1956, a Gazeta Setubalense publica uma carta do pintor Fernando Santos, então presidente da Sociedade de Belas Artes em que este, depois de ter observado o referido quadro, considera que ainda pode ser salvo se lhe acudir, pois tem restaurado quadros com mais estragos do que este. Acrescenta que, embora sendo uma obra da sua juventude, a tela "Bocage e as Musas" mereceu a um júri composto por Columbano, Veloso Salgado e Luciano Freire o prémio "Rocha Cabral".
Em 12 de Setembro de 1957, o Dr. Falcão Machado, director daquele jornal, dirige uma "carta aberta" ao presidente da Câmara pedindo que, a todo o transe, se remediasse o erro que há tanto tempo vinha a ser praticado.
Após o restauro, finalmente ordenado pelo Major Magalhães Mexia, ao tempo presidente da CMS, o quadro foi exposto em 14 de Março de 1958, na Sociedade de Belas Artes, conjuntamente com outras obras de Fernando Santos e da esposa deste, a pintora D. Alda Machado Santos.
Registei o facto através de um artigo publicado na Gazeta Setubalense de 20 de Março de 1958.
Em 2005, a cidade de Setúbal e o País comemoraram conforme puderam - quanto a mim, de forma insuficiente - o II Centenário da Morte de Bocage.
No magnífico edifício onde outrora se situava a delegação do Banco de Portugal, na bela Avenida Luisa Tódi, que hoje pertence à Associação dos Empresários da Região de Setúbal (Aerset) teve lugar a exposição "Bocage, Textos e Contextos", organizada pelo Museu de Setúbal / Convento de Jesus.
Ali estava, logo ao lado esquerdo da entrada, a toda a extensão da parede, como verdadeiro "prato-forte" da exposição, o quadro de Fernando Santos "Bocage e as Musas".
Já o tinha ido ver, alguns anos antes, ao Museu de Setúbal onde, por motivo das obras crónicas, se encontrava tapado por um extenso pano que o protegia insuficientemente da poeira, mas a emoção foi tão intensa como quando, naquela tarde de Julho de 1956 o vi, pela primeira vez, abandonado no sótão da Câmara.
Quiz fotografá-lo e filmá-lo, ao que a zelosa funcionária que ali se encontrava tentou opor-se, mas tudo se desvaneceu quando lhe contei a história do quadro e da minha intervenção para que fosse salvo. Para reforçar a legitimidade da minha pretensão ainda lhe disse que tinha estado havia pouco tempo no Museu do Louvre e todas as pessoas podiam livremente filmar e fotografar a Gioconda.
Continuo a frequentar assiduamente o seu blog e felicito-o pelo que tem vindo a fazer a bem da história geminada de Setúbal e de Castelo Branco.
Com um abraço e os desejos de muita saúde do
Manuel Poirier Braz."
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Num post que publiquei em 28 02 2009, pode ler-se uma notícia do jornal "Setubalense" que referencia o restauro aqui mencionada por Poirier Braz:
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02-10-1957
"Bocage e as musas"
O quadro de Fernando Santos vai ser restaurado.
Fernando Santos esteve em Setúbal e levou consigo a tela do seu notável quadro de cujo restauro se encarregou.
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Meu caro
Poirier Braz
Fico-lhe grato por este apontamento que teve a gentileza de me enviar.
A "memória" deste nossa terra vai ficar mais rica depois da leitura das suas palavras.
Um abraço
jjmatos