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06 março 2008

Dr.Jorge Seabra

O texto que hoje apresento é a "introdução" a um dos artigos
que, com alguma regularidade, o Sr. Dr. Jorge Seabra
apresentava na "Beira Baixa" e eram aguardados pelos
leitores com uma certa ansiedade.
Na verdade, a elegância do seu estilo e o humor com que
escrevia, aliados à figura muito respeitável que lhe conhecíamos
das suas estadias em Castelo Branco, por altura das primeiras
Romagens de Saudade*, levava a que desejássemos o dia da saída
do jornal para lermos as suas crónicas...
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À crónica de "hoje", que foi publicada em 4 de Dezembro de 1954,
deu o autor o nome de :
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"A Romaria da Senhora de Mércules".
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"Portugal é, indubitavelmente, o país das romarias. Sim, meus senhores, o país das romarias, pois enquanto houver Marias e Maneis, uma réstia de sol a acalentar os espíritos e um pouco de crença pelos vários santinhos e santinhas da “corte celestial”, - elas constituirão a mais gritante e expressiva faceta da vida nacional. Do Minho ao Algarve e de Trás os Montes às Beiras, - logo que o calorzinho estival entra de espicaçar o coração dos namorados – oh! os namorados! – as romarias surgem com a profusão de cogumelos, resplandecentes de luz, de vida e de cor… O entusiasmo é louco e os gaiteiros e pirotécnicos não têm mãos a medir…
E quem quiser avaliar a ternura e animação da boa gente portuguesa, meta-se a caminho e não deixe de regalar o espírito, saboreando com desusada gula o retumbante espectáculo das romarias da nossa Terra. Portugal, sem as suas tradicionais e incontáveis romarias, seria como um chàzinho sem açúcar ou um arroz doce sem canela… E o Minho, mais do que qualquer outra província, dá a este respeito, cartas ao resto do país, pela estonteante policromia dos trajos das suas lindas e encantadoras moçoilas, vistoso fogo de artifício – uma autêntica poalha de luz – e estrondear de morteirada. Quem nunca visitou Viana – a fascinante “Princesa do Lima – por alturas da romaria da Senhora da Agonia, não sabe, não pode avaliar o que é o mais belo e empolgante espectáculo do nosso pátrio torrão! O desfile de 300 a 400 raparigas, lindas e frescas como os amores, de rostos encantadores e corpos ondulantes, exibindo com graciosidade, os seus característicos trajos de cores berrantes, de chinelinha no bico do pé e engalanadas com cordões e arrecadas d’ouro – constitui, para a alma de quem sabe sentir, um espectáculo único, admirável, sem rival cá dentro e na “estranja”!
Mas eu hoje, amigos leitores, não vos vou descrever as romarias nortenhas, as romarias minhotas, - incomparavelmente mais mexidas, mais alegres e mais coloridas do que as da nossa Beira. É que a gente da Beira Baixa, pela sua índole meditativa e taciturna, não sabe ou não pode imprimir às suas festas o ritmo, alegria e o…estrondo de que se revestem as das províncias por alturas de andar, para lá e para cá, gozando docemente, os meus…rendimentos, sentado ao pé do cocheiro – o célebre Landrona – o qual, de rédeas e chicote na mão, incitava as pilecas a prosseguirem no seu triste e esfalfante fadário.
1954 12 04 BBx

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*Não esqueçam que este ano é "Ano de Romagem da Saudade".
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Realiza-se nos dias 22, 23 e 24 de Maio.

1 comentário:

Unknown disse...

Caro Sr.

Estou deliciada com o seu blogue, pois sou neta do Dr. Jorge de Seabra e ando agora a investigar a minha família de Castelo Branco. Uma das coisas que adorava fazer era reunir em livro as crónicas do meu Avô nos jornais Beira Baixa, Jornal do Fundão e com certeza em mais alguns da região. Será que me poderia ajudar? Tenho muita informação sobre Castelo Branco, principlmente fotografias, desde 1880 + ou -, até 1960.

Madalena Brandão