Páginas

16 abril 2007

Um "Guia de Portugal"

De Raúl Proença (1924) e
Fundação Gulbenkian (1983)


O "Guia de Portugal", de Raúl Proença
.
“Há-os para todos os gostos, dos Routards aos Vuittons, dos Michelins aos Wallpapers. Mas, para mim, quando viajo, o guia que levo sempre é outro. O meu Guia de Portugal está-se nas tintas para a sua letra minúscula, pouco se importa com o seu peso incomodativo e concede raríssimas fotografias, aliás sempre muito pouco nítidas.


Foto do Portal do Convento de Jesus
.
Quanto a traduções para qualquer outra língua que não o português, bem podem procurá-las. O primeiro volume foi editado, imagine-se, em 1924.
(…)
No entanto, graças à Fundação, eles continuam inteiramente disponíveis para gáudio de quem os souber encontrar. Vale a pena, pois este é o melhor de todos os guias e aquele que mais nos ensina não apenas a olhar mas a saber ver Portugal.
(…)
Entre os seus colaboradores contam-se nomes como Raul Brandão, Aquilino Ribeiro, Jaime Cortesão, António Sérgio, Matos Sequeira, Teixeira de Pascoaes, Reynaldo dos Santos, José de Figueiredo, Raul Lino, Orlando Ribeiro, Francisco Keil do Amaral ou Sant"anna Dionísio. Mas o seu primeiro mentor foi mesmo Raul Proença e alguns dos seus textos são prosa de minuciosa originalidade e fulgurante poesia.”


Estas são palavras de Catarina Portas, na sua Coluna de Sábado, no Público, a que deu o título “Ler o céu”.
0 0 0

Nos finais do ano lectivo de 1945-46, quando foi inaugurado o novo edifício do Liceu Nun’Álvares, em Castelo Branco, eu estava no primeiro ano do Curso liceal.

Instalações magníficas com aquecimento central a lenha, espaços ajardinados, pátios assombrosos, um ginásio enorme e bem apetrechado, anfiteatros, salas de música, cantinas, laboratórios de Química, de Física e de Ciências Naturais “dernier cri” e… uma Biblioteca memorável!

Acabara de tomar posse como Reitor, no início desse ano, o Dr. Sérvulo Correia (uma “fera”) que, em 1950, nos deixou para ir “tomar conta” dos alunos do Liceu Camões, então carentes de uma disciplina que não conheciam…

A disciplina era férrea e “jesuítica”… Andávamos todos na linha! Por vezes era um tanto exagerada toda aquela “ordem”. Mas ao fim de tantos anos sabemos melhor, agora, como foram eficazes aqueles anos de disciplina…

Quase não havia feriados… Os professores não faltavam… É claro que uma vez por outra havia um feriado! E nessa altura, a ordem dada aos Contínuos era conduzir os Alunos para a Biblioteca…

De início aquilo custou!... Mas como não havia qualquer alternativa para além das “aulas de substituição” (que já existiam naquela época!) desde que houvesse algum Professor disponível para as dar, os alunos entravam na biblioteca e, para passar o tempo, viam-se obrigados a pedir livros à D.Antónia, a contínua da Biblioteca, que tinha “pelo na venta” e não admitia quaisquer brincadeiras extra, para além da leitura na enorme sala da “sua” Biblioteca…

Tudo isto para dizer que foi por essa altura que me interessei pela obra original a que se refere Catarina Portas no seu artigo de sábado.

Tinham um aspecto antigo, uma boa impressão, letras de boa leitura, fotos e gráficos e mapas desdobráveis com as plantas das cidades de Portugal que eu só conhecia apenas por ouvir falar…

Algumas cidades eu passei a conhecer apenas pela leitura dos textos agradáveis e muito bem escritos que apresentavam e da análise das suas ruas e praças nas plantas desdobráveis que continham.

Os anos foram passando… Mas a recordação pelo gosto da leitura, em geral, que ganhei naquela Sala, e a memória que me ficou daquele velho Guia de Portugal, de Raul Proença, marcaram muito a minha vida.

Foi por isso que rejubilei quando, em Janeiro de 1983, a Fundação Gulbenkian anunciou a publicação do “texto integral que reproduz fielmente a 1ªedição publicada pela Biblioteca Nacional de Lisboa em 1924”

Exactamente com o mesmo aspecto saiu, em Fevereiro de 1983, uma edição de 7000 exemplares, em tudo semelhante ao original de Raul Proença.

E no decorrer dos anos seguintes, a Fundação Gulbenkian foi publicando todos os outros.

Tenho agora todos os volumes desta Obra que comecei a “consultar” quando tinha apenas 10 ou 11 anos… porque o Reitor, um “tirano”, nos mandava passar os feriados na Biblioteca do Liceu…

A planta de cidade de Setúbal, num desdobrável do Guia

Sem comentários: