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28 abril 2007

O Poeta António Salvado

Um Amigo de há muito...

Numa Homenagem que a Cidade de Castelo Branco prestou a António Salvado, em 6 de Outubro de 1998, são estas as palavras que o Presidente da Câmara Joaquim Morão lhe dedicou:.

" A dimensão de uma cidade não se mede apenas pelos valores materiais impressos ao longo de gerações no espaço. Na verdade, é o espírito que alicerça, edifica e projecta a grandeza sw qualquer lugar vivido.
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As casas tombam, as ruas desaparecem, as praças disformam-se, a paleta urbana altera-se continuamente. Então, onde residirá a paternidade de um presente que é permanente devir?
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Ensina-nos a história da nossa civilização, que aos grandes criadores devemos a capacidade de nos fazer ultrapassar os limites da efémera existência e de nos fazer participar naquilo que sublima o espírito humano, evocando a beleza da prática de sermos cidadãos, vinculados a um determinado território.
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Na inconstância do bulício há sempre alguém que evoca a plenitude dos silêncios, o encanto das pequenas grandes coisas e, além deste esforço de criação, nos alerta também para as inquietudes da vida.
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.Apraz-nos hoje patentear a um desses criadores e cidadão, o testemunho da nossa admiração.
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Chama-se António Salvado e nasceu na cidade de Castelo Branco."

.Assisti com alguma emoção a toda a cerimónia que se desenrolou no Palácio dos Motas, à Praça Velha, onde, acabado de restaurar, funcionava já o actual Arquivo Distrital.
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António Forte Salvado - 7 de Junho de 1985

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O António Forte Salvado nasceu em Castelo Branco, a 20 de Fevereiro de 1936.
Fez o Curso do Ensino Primário e do Ensino Liceal em Castelo Branco.
Licenciou-se em Letras na Universidade Clássica de Lisboa.
Foi Professor do Ensino Técnico - Profissional e do Ensino Liceal.
Foi Director – Conservador do Museu Tavares Proença Jr.
Foi Vogal do Conselho de Arte e Arqueologia da Câmara Municipal de Castelo Branco
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Foi Membro para a Educação e Cultura, do Conselho Distrital de Castelo Branco
Foi Editor de Cadernos de Cultura "Medicina na Beira Interior - da Pré-História ao SecXX"
É Membro da Cátedra de Poética "Fray Luís de León" da Universidade Pontifícia de Salamanca.
É Prémio Fernando Chinaglia/Personalidade Cultural, da União Brasileira de Escritores.
Tem a Medalha de Mérito da Universidade Pontifícia de Salamanca.
Tem a Medalha de Prata da Câmara Municipal de Castelo Branco.
É "O Mais da Beira Interior", votado pelos leitores de O Jornal do Fundão.
Tem a Medalha de Mérito Cultural do Ministério da Cultura de Portugal.
Tem a Placa e o Diploma de Honra da Universidade de Salamanca.

Um Curriculum de que deve orgulhar-se e nos honra a todos nós, albicastrenses e Amigos do Salvado.

Sou seu Amigo desde os tempos de Escola. Mais novo que eu um ano, o Salvado morava próximo de mim quando tínhamos oito ou nove anos.Já tocava muito bem viola quando passámos a frequentar o "Liceu Novo" (a actual Escola Secundária Nun'Álvares). E entusiasmou-me a aprender a tocar... Paguei-lhe adiantado Sete Lições de Viola por 7$50! Deu-me duas aulas... e depois, um de nós desistiu! Lembras-te disto António Salvado?! Foi p'rá i em 1947...

Nesta foto, obtida em 7 de junho de 1991, na Romagem de Saudade, ainda no antigo palco do "Cinema ao Ar Livre", é o Armando da Conceição a vedeta da viola! O Salvado deve estar ali a fazer as apresentações.
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Em 1961, quando esteve em Angra do Heroísmo, o António Salvado elaborou um Ensaio de Literatura que publicou na Revista Atlândida com o nome de “Itinerário Ascético de Frei Agostinho da Cruz (1540-1619)”

“Frei Agostinho da Cruz nasceu em Ponte da Barca e faleceu em Setúbal. Dizem que costumava “conversar com Deus, com a Virgem, com a natureza e ainda com a sua querida serra da Arrábida

Houve em Setúbal um Colégio com o seu nome situado no topo sul do antigo campo dos Arcos, hoje desaparecido.

O António Salvado, com o seu Ensaio, é como que um elo de ligação entre dois momentos da minha memória, isto é, entre juventude que passámos no Liceu onde ele já despontava como Poeta e uma fase mais madura em que evoca um “poeta de Setúbal”
ou mais propriamente "da Arrábida"…

António Salvado dá as Boas Vindas aos Romeiros da SAudade - Junho/85
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Em dada altura, o poeta albicastrense diz:
”Em Frei Agostinho da Cruz, a solidão apresenta-se também como um (entre outros) estado mortificante aceite com contentamento. A razão deste contentamento encontra-se nas estrofes que transcrevemos da endecha:

Alma entristecida
Façamos concerto;
Vamos fazer vida
Vida num deserto

Entre penedias
E vales medonhos
Onde nem por sonhos
Lembram alegrias

Não haja mais ver,
Quem fale, quem veja;
Tudo, tudo seja
Chorar, e gemer.

Vamos ver da serra
Do monte deserto
O Céu mais de perto,
De mais longe a terra.


Ver o céu de mais perto, de mais longe a terra ” – eis o autêntico motivo…”a purificação da alma, conduzindo a uma passividade onde a vontade se perde em função de uma mais visível aproximação de Deus.

Em 1964, num encontro de Natal, o António Salvado ofereceu-me o último livro que havia publicado.

Leituras II - 1994


Diz ele, logo de início que: “Em Leituras II se juntam quatro textos que serviram de prefácio a igual número de antologias por nós organizadas: Antologia da Poesia Feminina Portuguesa (1972), Anunciação e Natal na Poesia Portuguesa (1968), A Paixão de Cristo na Poesia Portuguesa (1969) e A Virgem Maria na Poesia Portuguesa (1970).

Foi simpática a dedicatória que ali escreveu naquele Natal de 1964:


Dedicatória em "Leituras II"


.Numa Antologia que editou em 1985, e me enviou para Setúbal,

Antologia - 1985

o António Salvado escreveu “umas linhas” que me enterneceram por recordarem factos que “também (tão bem!) conhecíamos”…


Dedicatória de Antologia/85

Lembro-me de lhe ter respondido, tarde e a más horas
"O espaço é grande… E tão pequeno é, quando me lembro do tempo em que ansiavas o futuro já tão perto então!
Esses instantes, que tu e nós também (tão bem…) conhecemos do passado, projectados no futuro que agora vivemos, dão-nos a ternura das recordações que tentamos, de certa forma, voltar de novo a viver…
A lacuna que havia aqui em casa, até há pouco tempo, está agora ultrapassada com os livros que tivesta a amabilidade de enviar-me.
O agradecimento é que pecou pela demora, mas isso eu espero que me perdoes.
Um abraço do amigo de sempre
J.J."

1 comentário:

Joaquim Baptista disse...

Gostei, particularmente, deste seu apontamento biográfico sobre o também meu Amigo António Salvado. Fui seu funcionário quando o Dr. António Salvado desempenhou funções como director do Museu de Francisco Tavares Proença de Castelo Branco. Quanto ao poeta grande que é, faço minhas as palavras do crítico brasileiro Magela Colares:
Escreveu ele: «Percebe-se em toda obra de António Salvado uma trajectória marcada por notável equilíbrio aliado à qualidade que, desde suas primeiras experiências literárias, asseguram-lhe um destacado lugar dentro de sua geração e no próprio cenário das letras portuguesas. Seus versos, finos e consistentes, exibem imagens poéticas de uma luminosidade quase palpável. (…) Poeta de uma obra já densa em qualidade e quantidade, António Salvado, nascido em 1936, estreou na poesia em 1955, época que em Portugal afirmavam-se grandes poetas que os historiadores costumam rotular de Geração de 1950. Ora reunidos em torno de Cadernos de Meio-Dia e de Árvore, revistas surgidas naquela década, ora na revista Poesia 61, poetas como José Gomes Ferreira, Casais Monteiro, Saul Dias, Carlos de Oliveira, Jorge de Sena, Eugénio de Andrade, João José Cochofel, Raul de Carvalho, Egito Gonçalves, Ramos Rosa, José Terra, Alexandre ONeil, David Mourão Ferreira, Fernando Echeverria, Fernando Guimarães, Jorge de Amorim, Pedro Tamen, Herberto Hélder, Cristovam Pavia, João Rui de Souza, Maria Teresa Horta etc., a exemplo do que se deu com Salvado, tiveram suas obras marcadas mais por um carácter de individualidade estilística e aproveitamento temático do que a opção por uma tendência uniformizadora. Cada um, a seu modo e dentro do seu tempo de amadurecimento, procurou ter voz e matiz próprios.
Além de uma preponderância não exclusivista pelo tom lírico, há na poesia de António Salvado uma reiterada prática de composição que consiste em desmontar as palavras para que, a partir dos inesperados resultados, possa reconstruir um mundo imaginário, que poderíamos chamar de “o seu mundo ou universo poético”. E no logro desse traço de originalidade, cremos, reside a dificuldade a que se acham inexoravelmente tentados a superar todos os grandes poetas. Tudo se passa como se não fossem suficientes as infinitas sugestões do mundo que nos cerca. Ao criador de sonhos e quimeras parece não restar outra saída, a não ser a necessidade de fundar novos cominhos e, se possível, instaurar universos poéticos que só a ele cabe inaugurá-los pelo milagre da poesia.»


Também sou antigo aluno do liceu albicastrense e guardo no meu íntimo memórias sentidas desses tempos já passados. O seu blog possui um peculiar interesse neste país de amnésicos. Linquei-o, à secção Património Regional do meu Blog “Por terras do Rei Wamba”, as de ontem e as de hoje.