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07 abril 2007

A Coluna de Pacheco Pereira

Com a devida vénia transcrevemos alguns "passos" do apontamento de hoje, escritos no Público por José Pacheco Pereira.


José Pacheco Pereira - Historiador


"O silêncio e isolamento forçado do Público são uma face negra da situação da nossa comunicação social.

À espera que o assunto morra por si...

(…)
É exactamente por ser assim que nos podemos perguntar por que razão demorou tanto tempo, dois anos, até se ver a questão tratada num jornal de referência, o PÚBLICO.

A resposta a esta questão diz-nos muito sobre os males do jornalismo português, a sua complacência e deslumbramento com o poder, quando não a sua dependência dos "poderes", a começar pelas "fontes amigas" tão importantes para a carreira de um jornalista, a sua falta de coragem cívica…

(…)
O PÚBLICO quebrou esse muro de silêncio e fez jornalismo como deve ser. Não é "jornalismo de sarjeta", como afirmou o ministro que "tutela" a informação, que só é poderoso porque tem um largo sector da comunicação debaixo da sua "tutela", é jornalismo.

E o PÚBLICO foi imediatamente sancionado por ter violado o pacto de silêncio: durante vários dias contavam-se pelos dedos de meia mão só, os órgãos de informação que ousavam sequer reproduzir a notícia maldita do PÚBLICO.

(…)
Foi preciso esperar uma semana até que o Expresso acrescentasse mais achas para a fogueira, tornando o assunto, como se costuma dizer, "incontornável", coisa que ele não era desde 2005.

(…)

Estes dias de silêncio e isolamento forçado do PÚBLICO são um revelador e uma face negra da situação da nossa comunicação social e dos seus compromissos invisíveis com o poder socialista, o seu Governo e o primeiro-ministro.

Seria interessante saber, porque se trata de política no seu verdadeiro sentido, se houve ou não conflitos nas redacções entre quem queria e quem não queria dar sequência às notícias do PÚBLICO. Seria interessante saber por que critérios jornalísticos tal não foi feito, em particular pela parte da comunicação social que os portugueses pagam com os seus impostos e está sujeita ao governo, a RTP. Mais uma vez, a análise da cobertura televisiva da RTP, primeiro censória, depois desculpatória, revela a governamentalização do "serviço público".

(…)

Sabe-se hoje que foram dias de intensa actividade telefónica do primeiro-ministro e dos membros do seu gabinete com objectivos muito claros:

primeiro impedir que a história aparecesse (falhou no PÚBLICO);
depois que alastrasse (sucesso relativo durante alguns dias isolando o PÚBLICO);
depois que não chegasse à televisão (sucesso relativo);
depois que a forma de tratamento fosse a menos gravosa para o primeiro-ministro (conseguido na Renascença, desconhece-se o efeito nos outros órgãos de informação).
A chuva de comunicados e declarações oficiais revela também os mesmos objectivos, contendo inverdades e sugerindo distracções, tentando lançar confusão e apontando pistas falsas.

(…)
A não existir dolo, nem facilitação gravosa e excepcional no processo académico do primeiro-ministro, o que sobrará de toda esta questão é bem mais grave do que saber se José Sócrates é ou não engenheiro, agente técnico, ou estudante finalista: é o modo como a comunicação social se coloca perante o poder socialista.

É por isso que a grande esperança governativa é que o assunto morra por si, mesmo indo-se os anéis (os títulos académicos), mas ficando os dedos e os seus fios visíveis e invisíveis, os mecanismos que do poder chegam às redacções, explicando muita e muita coisa que escapa ao olhar do cidadão desprevenido destes meandros vitais do poder dos nossos dias."

1 comentário:

jocasipe disse...

Comentários para quem? O homem disse tudo!