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27 abril 2007

Um almoço no Fialho

09/11/1996

Depois de ter lido o jornal no Café do Beijinho durante um tempo que parecia não querer passar, vou para junto da casa do Flórido à espera que as 11h cheguem depressa...
Pouco tempo depois o Flórido e a Aida estavam junto do "minibus" e logo a seguir a Luísa Neto chegava com a Ana Paula, tendo encostado o carro ao lado do meu.

A Ana Paula trazia a notícia de que a Filomena não vinha connosco porque tinha piorado do ferimento que tinha no lábio resultante de uma cabeçada inadvertida do Pedro, no domingo passado. Foi uma pena perdermos assim a companhia da Filomena.
Fomos directamente para a Escola do Viso para recolher a Fátima que combinara sair mais cedo do curso de Informática. Deixámos a Luísa, a Aida e a Ana Paula tomando café num barzito próximo da Escola e fomos, eu e o Flórido, esperar com o "autocarro" a saída da Fátima, mesmo junto do portão da Escola do Viso.
Não nos castigou muito tempo... Apareceu logo em seguida. Recolhemos as "cafezeiras" e descemos até à Avenida Todi rumo à Estrada de Graça e direitos à auto-estrada.
Não teve muita história a viagem para Évora.

Tentámos pôr a Luísa Neto a falar... mas ela segurou se bem. Vinha lá atrás, com a Ana Paula. No banco do meio vinham a Aida, atrás de mim, e a Fátima, à frente da irmã. E assim quando ela (a Luísa ) queria, falava a meio tom e nada ouvíamos cá na frente... Lavrámos o nosso protesto, eu e o Flórido, mas não havia nada a fazer... Quando elas queriam, só elas entravam na conversa... Algumas das vezes, a Fátima ou a Ana Paula, traduziam para nós algumas das piadas da Luísa, mas é sempre mais gratificante ouvir a versão original...

A entrada em Évora aconteceu já depois das 13 horas e tivemos alguma dificuldade em encontrar a Praça do Giraldo o que finalmente conseguimos, até com uma certa felicidade, na medida em que estava um lugar de estacionamento, ali mesmo, à nossa espera...
Depois foi a caminhada, a pé, até ao Fialho, não sem que antes fizéssemos a fotografia do grupo, ali mesmo, com a Igreja por fundo.
Na Praça do Giraldo, a Aida, a Luisa Neto, o Flórido, a Ana Paula e a Fátima Barros

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Restaurante Fialho - Évora. Travessa das Mascarenhas, 16

À entrada para o "Fialho", o fotógrafo foi o Flórido.

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Ao Fialho, a este Fialho dos irmãos Amor e Gabriel, tem que se ir pelo menos uma vez na vida e com muito apetite. Manda na casa a gastronomia e os vinhos alentejanos, cultivados ambos, com grande maestria. A petisqueira de entrada é arrasadora, e os pratos de resistência também: sopa de cação, poejada de bacalhau, sopa de beldroegas (no seu tempo) com queijo, sopa de peixe, ensopado de borrego, pezinhos de porco de coentrada, carne de porco com amêijoas, perdiz à Convento da Cartuxa e sopa de panela, entre elas, na época de caça, uma de pombo que é de truz. Os queijos são bons. Os doces, receitas dos antigos conventos alentejanos, são de gritos.

Já no Restaurante aguardámos que um dos irmãos nos arranjasse uma mesa, o que aconteceu passados cinco minutos.
Enquanto esperávamos, de pé, junto do balcão, deu para ver os circunstantes gastrónomos, entre os quais, na primeira mesa logo à entrada, sobressaía o Dr. Fernando Teixeira, ilustre médico analista, com um magnífico Laboratório de Análises, na rua Rodrigues Sampaio, conceituado crítico tauromáquico e ex-Grão Mestre da Loja Maçónica do Grande Oriente Lusitano...
Nas outras mesas, nesta primeira sala, algumas famílias com ar lavado e próspero...
Um pouco mais tarde, e já na sala onde almoçámos, demos conta da entrada do deputado José Lamego, do PS.

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Pouco tempo depois fomos convidados a avançar para a sala ao lado, onde nos haviam preparado a mesa do centro, um pouco de nada apertada entre as outras e a mesa das frutas, onde sobressaíam alguns abacaxis... Mas acomodámo-nos a contento.
Sete cabeças de veados com armações correspondentes a várias idades de "pecado", ornamentavam as paredes da sala onde nos encontrávamos agora... Por baixo de algumas delas, alguns casais ou grupos deliciavam-se com os divinos manjares postos à sua disposição por um "maître" que é, com certeza, um "expert" na arte que escolheu...
Fomos muito bem tratados!...Mas fizemos muito por isso... A escolha recaiu em três pratos diferente.
Bifes de Javali para o Casal Flórido,
Borrego para a Fátima e para a Ana Paula e
Cação para a Luísa Neto e para mim.
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Entretanto, foram chegando as entradas. Muitas e muito variadas... com o "maître" a abusar da situação, perante a complacência de todos nós, que estávamos encantados, não apenas com o ambiente "raffinée" emprestado pelos presentes...mas, principalmente, com o ambiente, muito divertido e cheio de encanto, que pairava na nossa mesa. Mesa essa em que os homens tomaram a cabeceira...
O Flórido, de costas para a rua, tinha à sua direita a Ana Paula e à esquerda a Aida; eu, de costas para a entrada da sala, tinha à minha direita a Luísa Neto e à minha esquerda a Fátima Barros.
O vinho tardou um pouco, mas quando apareceu, mostrou-se de grande categoria. Uma garrafa de "Cartuxa – Évora VQPRD Tinto Colheita de 1994"
... Macio, suave, acetinado, 12,5º... uma pequena preciosidade a pedir a presença de uma "irrmã gémea" após a morte da primeira...
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A série de "entradas" foi também de assinalar!
1 pratinho de "lascas" de presunto
1 pratinho de grão com bacalhau
1 pratinho de feijão com atum
1 pratinho de ovas de peixe com ovo cosido
1 pratinho de ovos de codorniz com rodelas de chouriço
( Oh! Flórido... Tu ainda te lembras destes ovos do codorniz?!...)
1 pratinho de pimentos verdes em calda de ...??
1 pratinho de empadinhas
1 pratinho com creme de sapateira
1 pratinho de esparregado
O "Maître", à medida que nos ia trazendo todos estes pratinhos, ( e na minha modesta opinião ), ia sofrendo, numa evolução regressiva, a transformação de "Maître passé"... em "Maître fripon"!!!
Já no final, e enquanto escolhíamos as sobremesas, ainda nos carregou para a mesa com
1 pratinho de "queijinhos de ovos" e
1 pratinho de "queijadas" ...já muito "à pressão"...
Quanto aos doces que acabámos por escolher serviram-nos um Doce Fidalgo, muito bom mas também um tanto enjoativo, que todos comemos com excepção da Luísa Neto que se delambeu com um tal "Doce Pão de Ralo". Quanto à Dona Aida, ela não quis entrar em guloseimas...
O "Maître" achou por bem entregar a "carteira", com a "conta calada" lá dentro, à Dona Fátima. Achou que ela seria a mais respeitável das criaturas ali presentes...
A Fátima abriu a "carteira", olhou, mirou... e remirou a pequena tira de papel e, sem gaguejar, mas falando muito pausadamente, e a meio tom, meneando a cabeça em tom reprovador, sentenciou:
"É carote!!! Mas foi muito bom... Valeu a pena!"
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Depois foram as despedidas com o Fialho, junto à porta a perguntar se tudo tinha corrido bem, se tínhamos sido bem servidos... Aquelas coisas, do costume, que dão nome às boas casas...

Duas fotografias à porta e rumámos direitos ao Templo de Diana, a pé, para remoer aquele almoço memorável...

Foto já depois do almoço, junto ao Templo de Diana.

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Logo em seguida entrámos "numa de misticismo"...
Visitámos a Sé, ali em baixo, logo a seguir... Uma música celestial, de órgão, vinda de dentro, foi o chamariz...
Ali nos demorámos um bom bocado descansando a mente numa penumbra de luz filtrada pelos "
janelões góticos de duas luzes e óculos trilobados situados no tambor, de planta octogonal, da mais bela torre-lanterna construída em terras portuguesas".
A Catedral de Évora "foi dedicada a Santa Maria e foi o primeiro edifício católico fundado entre Tejo e Odiana, nos derradeiros anos do séc.12" (Vê Doutora! Vê!... Isto não podia ser do século 16...)
Embora a planta seja de estilo românico, "quer a estrutura quer a decoração, pertencem à nascente arte gótica, evidenciada na imponente nave central, de altas abóbadas, e nos belos arcos ogivais. O trifório de arcos quebrados ( galeria estreita sobre as naves laterais ), que corre ao longo das paredes, foi inspirado no da Sé de Lisboa".
A Capela-mor, desenhada pelo mesmo arquitecto do Convento de Mafra, João Frederico Ludovice, concebida na tradição clássica românica, é totalmente forrada por mármores polícromos portugueses e italianos.

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Apesar da luminosidade limitada tive a oportunidade de fazer uma fotografia muito bonita que é umas d "As minhas fotos preferidas"...
A Roseta e o candelabro

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Descemos depois até à Praça do Giraldo onde havíamos deixado o Minibus. Aí, as meninas" aproveitaram para se dessedentarem, entrando num café da Praça e, enquanto isso, dou com o Armindo Taborda, já um Alentejano "chapado", passeando no "miolo da Praça do Giraldo". Fui ao carro buscar as fotografias que tinha prometido levar-lhe (e já suponha ter de trazer de novo para Setúbal...) e lá fui ter com ele ao meio da Praça, onde conversámos durante uns momentos, até as minhas companheiras terem acabado de tomar as bebidas frescas, no café.

O saudoso Armindo Taborda, Amigoda Juventude e Professor na Universidade de Évora

Depois foram as despedidas e o início do regresso para Setúbal.
À saída de Évora, a Fátima voltou a referir, à direita Bairro Social que deu um prémio internacional ao Arquitecto Siza Vieira. O Flórido desviou da estrada e aproximou-se do Bairro para que o víssemos de perto. Que desilusão!! Que coisa horrorosa!!! Lembrei-me logo do bairro social de Idanha a Nova...e do prémio, também europeu, que o Luis Grilo ganhou com ele!

O Bairro do Siza Vieira em Évora (foto Net)

Não há comparação possível! Nem posso crer que "aquilo" que vi na Malagueira seja da autoria do Sisa... Viva o Arq.Luis Grilo!!! Também é verdade que o Joaquim Morão não deixaria construir uma coisa daquelas lá na terra dele... ao contrário do "presidente" de Évora que deixou erguer aquele amontoado de casas só pela "ressonância" do nome do arquitecto que o idealizou...

Bairro Social em Idanha a Nova (foto em 11.Jun.1994)
O Arq.Luis Marçal Grilo, à esquerda, com um grupo de amigos.


O Arq. Luís Marçal Grilo, em Junho de 1994

Um abraço, Luís!

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