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O Pedro Salvado - há já muito tempo...
Aqui há tempos, o Pedro Salvado escreveu-me uma carta simpática penitenciando-se por ter deixado passar muito tempo antes de me agradecer já nem sei o quê...
Eu também podia muito bem penitenciar-me por só agora "pegar" no texto que então me enviou...
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"Exmº Senhor
Penitencio-me por apenas agora lhe agradecer e comunicando o quanto me sensibilizou, e surpreendeu, a edição da fotografia da minha figura de há, e como muito bem diz , um bom par de anitos. A imagem abonou três coisas. A primeira é que uma fotografia aviva o que já foi, intensificando o momento esquecido que regressa em busca de coordenadas na nossa memória. A segunda é que uma fotografia nunca reproduz a realidade. A terceira é que uma fotografia confirma, sempre, a fugacidade do tempo. O tempo que foge continuadamente, esculpindo todas as coisas e substâncias, a vida e os corpos, como assinalou um dia Marguerite Yorcenar de maneira tão bela.
É com tudo isto que, creio, se prende o pdf que lhe envio e que gostava de ver anunciado, se achar bem, no seu extraordinário blog. Refere-se ao seu velho Amigo e meu querido Pai. Reproduz a revista de poesia Arquitrave que se edita, imagine, na Colômbia, um dos periódicos poéticos mais importantes e conceituados no mundo da literatura hispânica. O poeta Harold Alvarado Tenorio, director da Arquitrave, tem desempenhado um ímpar papel mundial ao difundir e a desocultar muitos artesãos do sentir de todas as latitudes, cabendo agora ao António essa honra. Vale a pena ler a entrevista e as traduções dos poemas, vertidas pelo também poeta e professor na Universidade de Salamanca, Alfredo Pérez Alencart, grande amigo de meu Pai.
O António Salvado... há muito mais tempo ainda.
E um olhar atento para a capa que comprova a passagem do tempo e se institui como uma estranha superfície de recordação? Ela desperta os perfis daqueles vossos fantásticos e doces tempos de juventude. Aqueles dias claros e longos, dos jardins frescos e dos passos ansiosos, das imaculadas e renovadas manhãs albicastas, das ruas de albicastro então sem sombras, nem perfídias. Mas o que une tudo não é a memória. foi e será sempre a vossa reavivada, longa e exemplar amizade. E também a Poesia, algo que dilui sempre a certeza da morte. A Poesia como um traço de permanência que exalta e celebra sempre a vida da vida, atravessando e vencendo todos os tempos: os da recordação, os da memória e os do futuro.
Perdoe-me estes arrazoados filiais, abraça-o este seu admirador.
Pedro Salvado
PS (Salvo seja…) - Tem de ir pensando em reunir os seus achados, resultantes das suas persistentes escavações da memória colectiva da nossa querida cidade de Castelo Branco. O seu blog é já considerado por muitos, um incontornável documento histórico. Para quando a sua passagem a papel?
António Salvado (Castelo Branco, 1936), autor de meia centena de títulos de poesia, em “Na eira da Beira” (2005) reúne boa parte do seu trabalho de meio século. É Prémio Chinaglia da União Brasileira de Escritores.
A Revista transcreve cinco dos seus poemas, traduzidos para castelhano, depois de lermos uma entrevista a António Salvado, conduzida pelo tradutor dos Poemas, Alfredo Perez Alencart e que este intitulou "Un arco iluminado"
Apenas transcrevo, no castelhano original, uma pequena passagem dessa entrevista:
"António Salvado há hecho de cada verso suyo un arco iluminado por esa humildad que permite soportar cualquier postergación. Himnos de ternura y desgarro encontramos en sus textos. Conocedor de los clásicos griegos, latinos y chinos, amante de Camoens, el siempre discreto hace bien en recordarnos cómo debe conservarse la poesía:
No siempre el canto encanta
al pasar el verano a la primavera:
una cigarra asesinada yace,
sin luto o llanto,
inútil cosa muerta sobre la tierra:
destrozadas voz y alas.
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Su lírica siempre es epigramática, tiene extensas odas, magníficos sonetos…, libre o con métricas distintas, con cánticos que tienen su fuente en los temas de siempre, pero siempre nuevos por la impronta que él moldea. De lo erótico a lo tanático, pasando por lo social.
Con Salvado me une una entrañable amistad. Hemos hablado de cosas terrenas y divinas; hemos leído al alimón en no pocas oportunidades; hemos caminado, hombro con hombro, tanto en Salamanca como en Castelo Branco o en Toral de los Guzmanes; nos hemos traducido ...
Coméntame tu aproximación al mundo poético…
Desde muy temprano se manifestó mi apetencia por la lectura de textos poéticos. Para ser sincero, esa realidad fue paralela al hecho de escribir poesía. Al inicio fueron lecturas no cronológicas, pero después, poco a poco, fui constatando que desde el siglo XII la poesía portuguesa se levantaba como algo muy original. Originalidad aún más concreta cuando otros intereses me llevaron hasta la poesía española o francesa. Entonces, ‘absorbí’ con pujanza los atributos de la poesía medieval galaico-portuguesa, a los poetas renacentistas (Camoens, con especial insistencia) y, también, a otros notables: Bocage (un pre-romántico), Garrett y Herculano (principalmente el segundo, con la fuerza religiosa de sus versos). Ya más próximos a nuestros días, leí a António Nobre, Cesário Verde, Fernando Pessoa, Mário de Sa-Carneiro, José Régio… A todos ellos debo alguna cosa, pero, reafirmo que Camoens fue y sigue siendo mi alianza más genuina.
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Constato que tu poesía está impregnada de profundo amor, muchas veces inclinadado a Eros…
… A tu pregunta falta, tal vez, otro elemento consustancial: Tánatos. Es una complejidad muy ‘portuguesa’. Amplias parcelas de mi poesía (amplias o amplísimas) se configuran mediante la cristalización de la palabra, por la elección de aquellos tres temas: en numerosos poemas existe esa articulación de la fuerza interior que los nutre. Del amor-loa, con vigor también en lo erótico, mi poesía se ovilla de tanto en tanto con la ‘provocación’ de la muerte. Ya Unamuno escribió que los portugueses resultan un pueblo triste. De ahí los suicidios de los grandes personajes de la literatura y de las artes portuguesas.
Varios han sido los críticos que me clasifican como un poeta elegiaco, lo que no se ajusta por entero a la verdad. No es por casualidad que la palabra esperanza impregna, como palabraclave, mi mensaje poético.
(...)
.E transcrevo agora um dos seus cinco poemas insertos nesta revista colombiana "Arquitrave".
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Serenidad
Cubre de serenidad
tu corazón. En las fiestas
no dejes que nunca se seque
la flor plantada en la tierra
donde florece cada día.
El destino cumple la suerte
que le dictaste: para siempre.
Y la directriz sólo recorre
la senda sin curvas ni vueltas
que trazaste por la frente.
Deja enfriar la tristeza
como brezal inútil y frío.
No des espacio a la penumbra.
Y entierra las amarguras
donde no puedan punzar
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António
Onde quer que estejas recebe um abraço amigo
do Amigo de sempre
jjmatos
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