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16 dezembro 2009

Galleria degli Uffizi

Anunciação
Leonardo da Vinci
1452-1519

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Anunciação

Obra de juventude, executada por volta de 1470-1475 na oficina de Verrocchio, anterior mesmo á colaboração de Leonardo no Baptismo. A composição, baseada na coordenação dos volumes num espaço definido pela perspectiva linear, é tradicional. Mas em volta dos sólidos volumes já vibra o “esfumado”, conferindo às figuras um sentido de agitação profunda, e para além do parapeito, por entre os perfis das árvores que cortam o frio céu da manhã, esfumam-se na atmosfera transparente os campos, as montanhas, a praia com o porto.
Desde as primeiras obras que Leonardo da Vinci tende a transferir para o plano de uma sensível linguagem pictórica aquela irrequieta procura de movimento que um Pallaiolo ou um Verrocchio tentavam exprimir através dos meios de uma linguagem predominantemente formal. Ele resolve de facto o movimento no palpitar do “esfumado”, isto é, numa ténue vibração molecular de luz e sombra. Aqui ainda o vibrar da luz e da sombra acompanha quase em surdina o cândido ritmo formal das imagens, mas isto basta para diluir a sua psicologia e para as mergulhar numa atmosfera poética de inquieta ansiedade. Figuras humanas e elementos da natureza são por outro lado irmanados, sob a acção subtil do “esfumado”, numa contemplação ansiosa de captar os segredos da natureza. Este desejo de penetrar os desejos do universo – que será o motivo inspirador da incansável actividade de investigação científica de Leonardo – se liga também a observação agudíssima das coisas maiores (rochas, montanhas, águas) tal como das mais pequenas (ervas, flores) da natureza. É um interesse pela natureza muito diferente do professado pelos Flamengos e que naquela altura começava a penetrar também na pintura florentina: não é provocado por uma recente curiosidade, mas antes pelo sério desejo de compreender a estrutura e o funcionamento das criações da natureza. São disso exemplo as asas do anjo, não já inertes e decorativas como de costume, mas antes apresentadas na evidência da sua função (é conhecido o interesse de Leonardo pelo voo dos pássaros), e as ervas e as flores do prado, desenhada por uma delineada clareza que faz sentir a sua vida e o seu crescimento. Pense-se no que se transformarão, alguns anos mais tarde, aquelas flores, numa tradução deliciosamente ornamental, no prado da Primavera de Botticelli.
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Cfr. Roberto Salvini
In “Grandes Museus do Mundo
Ed.Verbo – Setembro/1973

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