Helena Garrido
no Jornal de Negócios
29.01.2009 13:00
Helena Garrido
Afinal os bancos também podem cair, abatidos pela ganância e invadidos por vigaristas. Esta é a realidade a que nos estamos a habituar desde há quase dois anos, abalados e desnorteados pelo facto de sabermos que o sistema bancário só funciona no actual modelo porque confiamos nele. O que nos pode e deve consolar é a actuação das autoridades e o facto de se estarem a descobrir as vigarices.
(…) Hoje, com uma grande violência, verificamos que nada nem ninguém tinha condições de proteger as nossas poupanças, se a elas tivessem acesso vigaristas. Como tiveram.
Tínhamos, afinal, na banca uma confiança quase próxima da fé. Sem nunca nos termos dado conta disso. Hoje temos consciência de que também toda a arquitectura da supervisão e regulação estava em grande parte alicerçada na confiança, fundada na carreira e no estatuto de quem dirigia os bancos.
(…) o sistema bancário estava alicerçado na confiança que as autoridades tinham na capacidade e seriedade dos banqueiros. Não era qualquer um que chegava ao topo de uma instituição financeira. A sua carreira ou a sua história familiar, idónea e profissional, justificavam essa confiança das autoridades. E todo o sistema estava apoiado no pressuposto da seriedade de quem dirigia os bancos. Porque não existem sistemas de informação, em democracia e mercado livre, que tranquem as portas da vigarice.
O mais grave nesta crise bancária é a ferida que se abriu na confiança que tínhamos nos banqueiros e nos bancos.
(…)Hoje nenhum supervisor pode confiar num banqueiro com base no quadro de referências que tinha no passado. E, mais grave ainda, sabe que não terá nunca, em democracia e com a banca em mãos privadas, meios para garantir que nada acontecerá a um banco.
A escolha é nossa. Se queremos liberdade e mercado, teremos de nos sujeitar aos riscos dessa opção. Ninguém será capaz de prevenir vigarices. Teremos de ser nós a escolher melhor o nosso banco, estando atentos à informação dos supervisores.
Os banqueiros, como os idealizávamos, podem estar em vias de extinção. Mas, até mais bem do que mal, há supervisores e há a justiça.
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