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29 novembro 2008

Quando o silêncio vale mais...

Na "Semana política"
de 2008.11.29
no "Público"
São José Almeida
escreve sobre a relação entre Dias Loureiro e Cavaco Silva

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Dias Loureiro, então ministro da Administração Interna e um dos braços-direitos de Cavaco Silva, dava a cara, em nome do chefe, para assegurar a ordem pública e o poder do Estado. E fê-lo num momento crucial, ficando aliado à defesa do poder vigente no episódio que entrou na história com o nome de "buzinão" e que é apontado como o princípio do fim do cavaquismo.

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Dias Loureiro é um dos principais correligionários políticos de Cavaco e Silva.

Dias Loureiro foi um dos principais obreiros da rede de poder político que dominou o país durante dez anos (Novembro de 1985 a Outubro de 1995) e que teve como líder Cavaco Silva. Dias Loureiro é uma das pessoas em que Cavaco Silva mais confia. Tanto que até o levou para o Conselho de Estado.
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Dias Loureiro não é assim um gestor de empresas qualquer, nem um político qualquer. Dias Loureiro é uma figura de primeiríssima linha no poder em Portugal.
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...por muito que possa parecer estranho um político do gabarito, da inteligência e da argúcia de Dias Loureiro ter tido uma atitude tão cândida, crédula e estupidamente confiante no presidente da Sociedade Lusa de Negócios e do Banco Português de Negócios, José Oliveira e Costa. Isso não significa que Dias Loureiro possa ser prejudicado ou punido por eventuais actos que garante não ter cometido.
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… se do ponto de vista legal não há nada que aponte a necessidade de Dias Loureiro se demitir de membro do Conselho de Estado, do ponto de vista político há todas as razões. Mais: Dias Loureiro deveria tê-lo feito e logo no primeiro momento em que o seu nome foi referido, de modo a evitar arrastar atrás de si e da onda de suspeitas e desconfianças que sabia que se iriam gerar, o nome e a figura do homem que sempre seguiu e apoiou politicamente e que hoje ocupa a cadeira de Presidente da República, Cavaco Silva. Por solidariedade política com aquele que foi o seu líder político e que ainda hoje serve - tanto que tem assento no Conselho de Estado por indicação deste -, Dias Loureiro deveria ter evitado a exposição e o constrangimento público que provocou e provoca a Cavaco Silva. Mesmo estando juridicamente inocente, como garante estar.
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Resta-lhe, como homem da sua absoluta confiança política e pessoal, Dias Loureiro. Por isso não o pode deixar cair. Há entre eles uma relação que vai para além da amizade. Agora, isso não quer dizer que Cavaco não queira que Dias Loureiro se demita. Há na actuação do Presidente da República, em todo este caso BPN, sinais claros de que teme a lama que pode inundar Belém com esta investigação.
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...mas é tarefa dos serviços que apoiam o Presidente da República alertá-lo para os riscos de que as precipitações para sacudir a lama possam tornar-se atractivas para essa mesma lama. Assim como é obrigação de uma personalidade com a experiência política de Cavaco Silva saber manter a calma, quando sente que pode ser colocado numa posição de eventual fragilidade. Há momentos em que o silêncio é de ouro.
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São José Almeida

Jornalista

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