Rafaela Rovisco
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Um irresponsável... um condutor negligente... atropelou-a quando ela atravessava uma passadeira para peões! Dizem-me que ele ia pendurado num telemóvel... e nem sequer um automóvel ali já parado, antes da passagem de peões, o impediu de avançar para onde a Rafaela se deslocava.
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A Rafaela faleceu ontem no hospital.
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Quando esta noite entrei na Capela de São Paulo vi, ao longe, o esquife aberto e a cara da Rafaela descoberta. Não tive coragem de avançar mais...
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Lembrei-me de António Feijó e de um Poema lindo que ele nos deixou... e eu deixo também aqui.
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É uma homenagem à Rafaela.
Pálida e loira
Morreu. Deitada no caixão estreito,
Pálida e loira, muito loira e fria.
O seu lábio tristíssimo sorria
Como num sonho virginal desfeito.
- Lírio que murcha ao despontar do dia
Foi descansar no derradeiro leito,
As mãos de neve erguidas sobre o peito
Pálida e loira, muito loira e fria…
Tinha a cor da rainha das baladas
E das monjas antigas maceradas,
No pequenino esquife em que dormia…
Levou-a a Morte em sua garra adunca!
E eu nunca mais pude esquecê-la, nunca!
Pálida e loira, muito loira e fria…
António Feijó, in Líricas e Bucólicas, 1884
1 comentário:
Tinha 17 anos quando ela nos deixou. Não éramos amigas, mas tínhamos amigos em comum. Era um doce de pessoa. Lembro-me de que no funeral dela não parou de chover e fomos todos de branco. Mas o que mais me doi foi a vida dela só valer umas quantas horas de trabalho comunitário, para um condutor que tinha à data outros processos a decorrer.
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