Páginas

11 maio 2007

Edmundo Curvelo

Foi um dos mais brilhantes alunos do nosso Liceu.
Edmundo de Carvalho Curvelo… não foi apenas um jovem que fez em Outubro de 1926 a sua primeira matrícula no 1ºano do Liceu de Setúbal. Anos mais tarde, em 1938, regressou para ser aqui professor!

Em 1 de Março de 2007, Luis Soares de Oliveira dedicou-lhe algum espaço no seu blogue mencionando um texto que foi publicado no “Notícias de Arronches”, terra natal daquele “fabuloso professor de Filosofia”, da autoria do Prof. António Brotas que foi Catedrático do Instituto Superior Técnico e que reproduzimos em parte.

Nesse ensaio, que intitulou "Sobre o ensino da Filosofia", António Brotas diz o seguinte de Edmundo Curvelo:
"Eu tive um fabuloso professor de Filosofia. Foi o professor Edmundo Curvelo, no Colégio Militar, em 1946, por ocasião de uma muito curiosa experiência que vale a pena recordar. Havia, na altura, no então chamado ensino liceal, um exame no 6º ano (10º ano de escolaridade). O Ministério da Educação resolveu passar este exame para o 5º ano, mas não o quiz fazer sem antes realizar uma experiência pedagógica. Ou porque lhe era dificil faze-la numa escola dependente do Ministério, ou porque, simplesmente, a não sabia fazer, combinou com o Ministério da Guerra (antecessor do actual Ministério da Defesa) que a experiência fosse feita no Colégio Militar que dele dependia. O Ministério da Guerra, que não estava propriamente vocacionado para fazer experiências pedagógicas do ensino secundário, deu liberdade total aos professores do Colégio Militar para escolherem as disciplinas com os conteúdos, programas, métodos de avaliação e exames que muito bem entendessem. É assim que eu não tenho o curso do liceu, mas sim o curso do Colégio Militar, reconhecido como equivalente pelo Ministério da Educação.
O professor Edmundo Curvelo já tinha sido meu professor de História, disciplina em que não tinha adoptado nenhum livro. Em vez disso, convenceu o Director a abrir aos alunos a biblioteca do Colégio Militar onde até à data não tinham acesso. Também não seguiu, que eu tenha notado, qualquer programa. Distribuía-nos temas que preparávamos e, depois, éramos nós que dávamos as aulas (nalguns casos em francês). A Filosofia ensinada no Liceu tinha, na altura, quatro componentes: a Psicologia, a Lógica, a Estética e a Ética/Moral. Quando o professor Curvelo viu que não tinha de preparar os seus alunos para o exame oficial do 7º ano, pos imediatamente de lado a Estética e a Ética . Não falou do nome de nenhum antigo filosofo e interessou-se, sobretudo, pela Psicologia, em que só nos falou de duas coisas: das sensações e a da memória. Ensinou-nos a olhar para as nossas sensações e para a nossa memória e apaixonou-nos. E, como estava encarregue de organizar o Laboratório de Psicotecnologia do Colégio Militar, responsabilizou um aluno por cada aparelho de medida.
Passados todos estes anos, se escrevo artigos sobre a Educação é porque tive como professor o professor Edmundo Curvelo."


No dia 10 de Julho de 1930 acabou o Exame do Curso Geral com 18 valores
A fotografia aqui representada foi tirada num Estúdio Fotográfico que então existia em Setúbal, a Foto Cabecinha, de uma Família muito conhecida aqui existente e da qual recordo muito bem o Maestro Idalino Cabecinha que foi professor de Música na Academia Luisa Tódi e noutras Escolas.
.

Em 1999, na altura das Comemorações do Cinquentenário do Edifício do nosso Liceu, dediquei algum do meu tempo a uma pesquisa sobre a passagem do jovem Edmundo pelos bancos do Liceu de Setúbal.
Surgiram então documentos que o referenciam como aluno, do
1ºAno, em 1925/26, na 1ªturma com o nº733 (nº de matrícula)
2ºAno, em 1926/27, na turma A, com o nº733,
3ºAno, em 1927/28, na turma A, com o nº16
4ºAno, em 1928/29, na turma A, com o nº174 e
5ºAno, em 1929/30, na turma A, com o nº14.

.

A "caderneta" do aluno Edmundo Curvelo no 2ºano, em 1926/27.

.

No ano lectivo de 1925/26, matriculado no 1ºano, teve como companheiros de turma, entre outros, o Eduardo Miguens Rosado Pinto e os "terríveis" irmãos José e Adolfo Pereira Beija; como companheiros de ano, mas da outra turma existente, fomos descobrir os nomes de Aurora da Silva Maximiano, Maria Virgínia de Sousa Fialho, José Cândido Arôcha e Alexandre Faria Blanc.

Edmundo Curvelo com 10 anos

.
Curioso é o que se pode ler numa Acta da Reunião conjunta das duas Turmas do 3ºAno, realizada no dia 26 de Outubro de 1927.



...que passamos a "traduzir":

Quando se comenta o aproveitamento do aluno nº16 podemos ler que "foi unanimemente reconhecido este aluno o melhor da classe e não apenas da turma A, mas de ambas as turmas. Já pela sua atenção que pode classificar-se impressionante, já pelo seu completo e inexcedível aproveitamento. O Director da Classe salientou o facto de este aluno poder não só merecer um lugar de destaque durante todo o seu curso como até ser convenientemente utilizado pelos professores como um verdadeiro auxiliar na preparação dos alunos mais atrasados.”
.

Anos mais tarde, após os estudos que fez na rua da Academia das Ciências, em Lisboa, onde se licenciou, Edmundo Curvelo regressa ao Liceu de Setúbal para se dedicar ao ensino.
Na primeira reunião de que fez parte, como professor, ocorrida em 22 de Dezembro de 1938, ocupou o cargo de Secretário da Turma A, do 6ºAno, de que era Presidente o Dr. António Pires. Do grupo de professores daquela turma, faziam ainda parte o Dr. Sequeira Ribeiro, a drª Felismina Madeira, o Dr. Pina de Almeida, o Dr. Bernardino Gracias e o Revº Padre Mário de Carvalho.

Como alunos, figuravam alguns nomes bem conhecidos, como:
José Luis Gonzaga Boaventura Claro, José Manuel Noronha Gamito, Maria Lurdes Marques Ramos Reynaud, Maria Manuela S.A. Vieira de Abreu, Sérgio Boaventura Gonçalves Mendes, Vanda Fonseca Silva Galhoz, António Felisberto Pica, Mário Pedro Simonete e Miguel Rendas dos Reis Mendes.
.
Eis uma cópia dessa Acta:


Acta da Sessão ordinária do Conselho de Professores da Turma A, do 6ºAno

.

Edmundo Curvelo colaborou em várias publicações. No seu curriculum consta os dois artigos seguintes que publicou na Revista "Mundo Literário"

.

CURVELO, Edmundo (1946). A Bomba Atómica, a Tabuada e o mais que adiante se verá.
(Com desenhos de Noémia Cruz.) Lisboa.
.

CURVELO, Edmundo (1946). O Resto da Bomba Atómica. (Desenhos de Noémia Cruz.) Lisboa

.


Este apontamento, com alguns dados sobre Curvelo, terminava com a frase seguinte:

"Mais tarde foi Professor Catedrático na Faculdade de Letras de Lisboa e impedido de prosseguir a sua carreira por motivos políticos, na mesma linha de Manuel Valadares e Aurélio Quintanilha"

Colocado como legenda da fotografia tirada em 10 de Julho de 1930, este "quadro" esteve afixado no átrio do Liceu, no dia 30/03/1999, fazendo parte de uma Exposição Diária a que chamei

"Fotografia da Saudade e de Outros Tempos"


"50 Anos - A Foto do Dia"

.

Durante dois meses, cinco dias úteis vezes oito semanas, impreterivelmente às 9 horas da manhã, era retirada a foto do dia anterior e colocada a foto do próprio dia. Penso serem essas fotografias que ficaram guardadas no, agora chamado "Arquivo Histórico do Liceu", que estão sendo utilizadas como "coisas" sem autor.

Nota final:

Que eu tenha conhecimento, no nosso Liceu nunca esteve matriculado qualquer aluno chamado Eduardo de Carvalho Curvelo...

Sem comentários: