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24 fevereiro 2007

Ode anacreôntica

Bocage

Elmano Sadino


Ode anacreôntica

Em torno de áurea colmeia
Amor adejava um dia;
E, a mãozinha introduzindo.
Húmidos favos colhia.
Abelha mais forte que eu,
Porque de Amor não tem medo,
Eis do guloso menino
Castiga o furto num dedo.

Chupando o tenro dedinho,
Entra Cupido a chorar;
E, ao colo da mãe voando,
Do insecto se vai queixar.

Vénus, carinhosa e bela,
Diz, amimando-o no peito:
“Desculpa o que te fizeram,
Recordando o que tens feito.

O ténue ferrão de abelha
Dói menos que os teus farpões;
O que ela te fez no dedo
Fazes tu nos corações.


”Nasceu em Setúbal, assentou praça aos 14 anos e, em 1786, partiu como guarda -marinha para Goa, onde viveu dois anos agitadamente.
De novo em Lisboa, em 1790, continuou na mesma vida inquieta, que o levou ao Limoeiro, às prisões do Santo Ofício e ao internamento no mosteiro de S.Bento da Saúde, e daí para o Convento dos Oratorianos, depois de haver figurado na Nova Arcádia, onde foi conhecido por Elmano sadino. Morreu em grande pobreza ganhando com traduções o sustento próprio e de uma irmã. (J.Nunes de Figueiredo e Domingos Pechincha)

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