...é assim que José Manuel Fernandes intitula o seu "editorial" de hoje, e do qual queremos deixar aqui um ou outro apontamento.
"Público" - 02.02.07
JMFernandes
"Muito dinheiro e muita centralização não melhoraram o nosso sistema educativo. É tempo pois de mudar de rumo"
"(…) A taxa de escolarização estagnou na segunda metade da década de 1990, se é que não começou a cair.
(…) e o problema não é apenas demográfico, não resulta apenas de os portugueses terem menos filhos e existirem menos crianças em idade escolar. O problema é que as que estão em idade escolar ou abandonam o sistema antes mesmo de concluir o básico, ou fazem-no antes de concluir o secundário.
(…) o problema é que a percentagem de retenções, vulgarmente conhecidas como "chumbos", tem vindo a aumentar.
(…) Como se tudo isso não chegasse, um despacho do final do ano passado torna um pouco mais fácil a conclusão de alguns destes graus escolares, como se uma diminuição de exigência resolvesse o problema da falência do sistema educativo, mascarando as suas deficiências.
(…) Começa a tornar-se igualmente evidente que as medidas dirigistas das cúpulas da 5 de Outubro acumulam fracassos e multiplicam burocracias.
(…) enquanto a atitude da maioria dos portugueses for a de que a educação, é um exercício pouco útil para ter sucesso na vida, nada mudará. Na escola descarregam-se as crianças, da escola espera-se que faça o que não se faz em casa, pois a telenovela é mais interessante e, no quarto dos miúdos, o canal Panda assegura que estão entretidos.
(…) o paternalismo dirigista do Ministério da Educação só ajudou a agravar a situação. Tão mau como (…) só a cultura de que aferir conhecimentos e alimentar uma cultura de exigência e responsabilidade penalizaria os mais fracos. Segregá-los-ia ainda mais, acentuaria a exclusão social.
O que é preciso assumir é que isso é mentira. O que é preciso é estimular nas famílias uma cultura de responsabilidade e não de desresponsabilização, algo que só é possível dando-lhes, ao mesmo tempo, mais liberdade de escolha.
A obrigação do Estado não é garantir a todos uma educação onde o medíocre não se distingue do bom: é assegurar a todos que podem ter a melhor educação que estiver ao seu alcance, sem discriminação, e que isso pode fazer a diferença quando os hoje estudantes forem adultos.
Isso implica introduzir factores de concorrência e reais garantias de liberdade de escolha, isto é, permitir que mesmo os mais pobres podem escolher as "escolas dos ricos" se o desejarem e se a elas conseguirem aceder por mérito.
Mais uma vez trata-se de escolher: ou enviamos sinais aos pais de que têm de se envolver na educação dos seus filhos e têm os instrumentos para o fazer, ou continuaremos bloqueados por um sistema público que teme a concorrência. Não será amanhã, mas um dia também esta maré mudará no sentido de uma maior liberdade e responsabilidade, única forma de inverter a actual atracção do abismo."
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