Páginas

18 julho 2010

Um poema...

de António Botto

António Botto
.
História breve de uma boneca de trapos
.
Era uma vez uma boneca
Com meio metro de altura.
Insinuante, bonita,
Mas, pobremente vestida.
.
Um ar triste - uma amargura
Diluída no olhar ...
Grandes olhos de safira,
E um sorriso combalido
Como flor que vai murchar.
.
Quase a meio da vitrine
Lá daquela capelista
Essa boneca de trapos
A ninguém dava na vista!
.
Ninguém via o seu sorriso!
Ninguém sequer perguntava:
Quanto vale a «marafona»?
Quanto querem pela «Princesa»?...
.
Passaram anos. - Com eles,
Foi a minha mocidade
E cresce a minha tristeza.
- Quem é que dá p'la Boneca
Que os meus olhos descobriram
Lá naquela capelista
Quase à esquina do jardim?...
Quem dá por Ela? Ninguém.
.
E quantas almas assim!
.
In “Poesias avulsas

Sem comentários: