Fernando Pessoa
com o traço de Almada Negreiros
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Glosa a uma quadra de Augusto Gil
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MOTE
Teus olhos, contas escuras,
São duas Ave Marias
D'um rosário d’amarguras
Que eu rezo todos os dias.
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GLOSA
Quando a dor me amargurar,
Quando sentir penas duras,
Só me podam consolar
Teus olhos, contas escuras.
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D’elles só brotam amores:
Não há sombras d’ironias;
Esses olhos sedutores
São duas Ave Marias.
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Mas se a ira os vêm turvar
Fazem-me sofrer torturas
E as contas todas rezar
D’um rosário d’amarguras.
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Ou se os alaga a aflição
Peço p’ra ti alegrias
N’uma fervente oração
Que rezo todos os dias!
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Esta glosa, foi o primeiro texto publicado por Fernando Pessoa, num jornal, quando tinha apenas 14 anos. Referência completa da publicação:
Jornal "O Imparcial", Ano II, N.º 433, 18 Jul. 1902
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