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"Comemora-se hoje o bicentenário do nascimento de Alexandre Herculano. Ou, mais exactamente, comemorar-se-ia, se o país que o sepultou nos Jerónimos, ao lado de Camões, não tivesse esquecido o homem que elevou a historiografia portuguesa a disciplina científica e que foi visto, por sucessivas gerações, como um reserva moral da nação."
Luís Miguel Queirós dixit...
in. "Público" - 27.03.2010
Ed.Círculo de Leitores - 1987
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"Os 200 anos do nascimento de Alexandre Herculano, que se cumprem hoje, estão a ser marcados por duas ou três louváveis iniciativas locais, enquanto o Estado, assoberbado com as comemorações da I República, ignora o fundador da moderna historiografia portuguesa e o pioneiro do romance histórico, para não referir a figura cívica que recebeu dos seus contemporâneos, numa alusão à integridade moral de que sempre deu provas, o cognome de "o homem de bronze"."
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Aos 11 anos, Herculano foi estudar com os padres da Congregação do Oratório de S. Filipe de Néri, que lhe ensinaram latim, grego, francês e filosofia, mas que também o tornaram um cristão convicto e um profundo conhecedor da Bíblia. Tendo sido sempre um espírito religioso, não deixa de ser irónico que muitos dos mais violentos detractores da sua obra historiográfica fossem homens da Igreja, que não lhe perdoaram a audácia de secularizar as origens da nacionalidade, dispensando a alegada intervenção divina na batalha de Ourique. Os seus estudos de Humanidades, que visavam a frequência posterior da Universidade de Coimbra, foram abruptamente interrompidos em 1826. O pai cegara, deixando de poder trabalhar, e a família enfrentava agora graves dificuldades económicas. Herculano decide então frequentar a Aula de Comércio - uma espécie de ensino profissional criado pelo Marquês de Pombal -, pensando conseguir o mais brevemente possível um lugar no funcionalismo público. O homem que iria revolucionar a historiografia portuguesa nunca chegou, portanto, a frequentar a universidade.
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"Mas o Portugal da primeira metade do século XIX tinha noções um pouco peculiares do que convinha ensinar a um futuro negociante ou escrivão. Uma das disciplinas da Aula do Comércio, ministrada no próprio Arquivo Real da Torre do Tombo, era a Diplomática, na qual Herculano aprendeu a valorizar papéis antigos e se familiarizou com várias ciências auxiliares da história, da paleografia e da epigrafia à numismática ou ao estudo dos selos utilizados para autenticar documentos."
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(Excertos do trabalho realizado pelo jornalista
Luís Miguel Queiroz, no "Público", em 27.03.10)
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