Amofinou-se o candidato que lhe teria pedido uma justificação para que o Mestre lhe não tivesse dado um tão desejado 20…
E a resposta não se fez esperar.
“Vinte, meu caro Colega?!... Um vinte…só Deus!!
Um Dezanove?!… Dezanove tive eu!...
O seu Dezoito é uma belíssima nota!..."
E a conversa terminou por ali…
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Em 41 anos de carreira docente apenas dei um 20 a um aluno!
Foi no fim do ano lectivo de 1992/93.
A um aluno que pertencia a uma bela turma que não esqueço.
Chama-se Nuno Vasconcelos Dias
Nuno Vasconcelos Dias
O Nuno fazia parte da Turma E, do 12ºAno, onde pontificavam também a Ana Luisa Torres Melo, o José Rafael Túlio Antunes, a Maria Daniela Fialho Alface, a Maria Margarida do Vale Queiroz, a Susana Isabel Afonso e o José Duarte Gaspar Alves
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Alguns alunos do 12ºE
Lembro-me de, na última aula, quando falávamos sobre as notas que todos iam ter no fim do Curso, ter dito ao Nuno que ficava com a esperança de ser comigo que ele iria realizar a sua primeira consulta, após a formatura em Medicina…
Todos nos rimos!
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O tempo passou.
Soube que tinha feito um Curso brilhante.
Vim a saber mais tarde, através do Pai que fortuitamente encontrei e me contou com alguma decepção, que o Nuno tinha deixado Setúbal (onde seria hoje um Senhor, no Hospital de S. Bernardo), e Portugal, e se instalara na Suécia onde exercia a sua profissão no Hospital da Universidade de Malmö.
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Apontamentos de um “diário”, em 31 de Janeiro de 2004:
“Aproveitei este passeio pelos corredores do hospital para conversar com o Dr.Vasconcelos Dias sobre a permanência do filho, como médico, na Escandinávia. Voltou a dizer-me que já tinha perdido a esperança de o filho regressar a Portugal para fazer medicina… “A minha mulher ainda tem fé que ele venha para cá! Eu já não acredito!” Diz que o filho está bem, que tem vindo cá passar férias, eles próprios têm-se deslocado à Escandinávia para estar uns dias com ele e a família… mas só isso.”
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Alguns meses mais tarde, o Nuno Vasconcelos Dias fez chegar às minhas mãos uma prenda que me emocionou e que guardo religiosamente. Foi a melhor prenda de Natal que me deram naquele ano...
Trata-se da sua Tese de Doutoramento, feito em 11 de Junho de 2004, que apresenta com o título ““Intra-Aneurysm Sac Pressure and Clinical Results” e com “Nuno Dias” como autor. Publicado em Malmö 2004.
Capa da "Doctoral Dissertation"
Apontamentos de um “diário”, em 16 de Dezembro de 2004:
“A dedicatória que o Nuno escreveu fez-me lembrar o dia em que fizemos umas fotografias na aula, para recordar mais tarde os meus alunos do ano lectivo de 1992-93. Foi no dia 9 de Junho 1993. Aquelas “coisas” que dizemos aos nossos alunos no último dia de aulas e pensamos que, logo a seguir, eles vão esquecer e nunca mais recordarão…
A conversa com o Nuno foi rápida mas decorreu de modo a que todos pudessem ouvir… Ele foi o meu melhor aluno em 41 anos de ensino! O único a quem, no final do ano, dei a classificação de 20 valores!! E a conversa havida teria terminado com qualquer coisa como isto:
“Vais ser um médico excelente! E ficas já a saber que a primeira consulta que fizeres vai ser comigo!”.
Onze anos mais tarde, o Nuno mostra que, ao contrário do que eu podia ter pensado, não esqueceu esta nossa conversa. Na verdade, a dedicatória que escreveu na sua Tese de Doutoramento e fez o favor de me fazer chegar às mãos, diz o seguinte:
“Para o Senhor Dr. Matos com um beijinho e abraços, Isabel e Nuno” mas, logo a seguir, acrescenta um PS:
“Ps – Como não pode ser a 1ª consulta, fica o livro.”
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A "dedicatória"
São "estas coisas" que nos fazem chorar de alegria e nos confirmam que, apesar de tudo, valeu a pena... É por estas “pequenas coisas”, tão gratificantes, que me custa ver o estado de desânimo total que se abateu ultimamente pelas Escolas! A nossa incluída...
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…mas, permito-me dar um conselho aos meus colegas de profissão:
“Lembrem-se sempre que, da actual “Çenhora menistra”, quando sair porta fora, corrida a pontapé… ninguém mais se lembrará do seu nome, ao fim de um mês ou dois!!
Mas a maioria dos vossos Alunos, mesmo os mais problemáticos, ao fim de muitos anos, saberão ainda o Vosso nome e, mais adultos então, ter-se-ão arrependido de muitas asneiras que teriam feito na escola….
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As “lurdecas” passam… São os Nunos que permanecem para sempre nas nossas memórias!
Um abraço, Nuno! Os Professores também têm memória...
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