Zoologia Geral
Cadeira do 2ºano do Curso de Ciências Biológicas
José Antunes Serra
Prof.José Antunes Serra (1914-1990)
Não foi o meu melhor professor… Bem longe disso!...
Deixemos esses “louros” para o Prof. Resende… um “prémio” muito bem entregue.
Apenas tive contacto com o Prof.Serra durante um ano e a minha opinião pode não coincidir com a opinião de muitos outros colegas meus. No entanto, recordando aqueles tempos de 1955, tenho uma opinião negativa do meu Professor de Zoologia Geral... Não como cientista, pois então ele tinha já um nome bem respeitado! O que eu penso é que lhe faltava a capacidade de tratar com os alunos que o achavam "metido numa torre de marfim" de onde só saía com um "halo de mau humor" à sua volta... Os alunos não era bem respeito que tinham por ele... Tinham medo dele!... E quem nos "safava", com quem nos abríamos, era com o "assistente" Germano Sacarrão... que o substituíu mais tarde na Secção de Zoologia.
Discípulo assumido e orgulhoso admirador dos seus mestres Aurélio Quintanilha e Abel Salazar, J.A.Serra nasceu em Vela, no concelho da Guarda, em 5 de Janeiro de 1914. Frequentou o Liceu da Guarda de 1924 a 1931 e, nesse mesmo ano, entrou na Faculdade de Medicina em Coimbra. Aurélio Quintanilha sugeriu-lhe a transferência para a Faculdade de Ciências.
Sobre o seu discípulo, Quintanilha escreveu, anos mais tarde:
“Logo no primeiro ano tive, no Curso de Botânica Médica, um rapaz excepcional. Chamava-se José Antunes Serra. (…) Em Botânica Médica, eu fazia um curso geral de biologia, insistindo particularmente nos conhecimentos de citologia e de genética. Serra interessou-se a tal ponto pela matéria, revelou tais qualidades de inteligência e de trabalho que arrancou no exame final 20 valores.”
Quase no fim da licenciatura aceitou, a conselho do Prof. Luís Carriço que regia a cadeira de Botânica (Quintanilha fora entretanto reformado compulsivamente), o convite que lhe foi feito, para o exercício da docência no Grupo de Zoologia – Antropologia..
Publicou mais de duas centenas de trabalhos durante os 54 anos de investigação e ensino. Estes trabalhos englobam diversos capítulos de Biologia e também assuntos de Medicina. Biologia da Senescência e Zootecnia.
Os seus primeiros trabalhos são sobre Antropologia aos quais se dedica até 1944.
Em Julho de 1939 obtém o grau de Doutor em Ciências (Biologia), defendendo uma tese sobre melaninas (biologia e bioquímica) tendo sido aprovado por unanimidade.
Publicação da JNPP - Lisboa/1949
Outra das linhas de trabalho que desenvolve é no domínio da Zootecnia, debruçando-se em particular sobre genética de ovinos. Publica entre 1948 e 1987, trinta e três trabalhos nesta área, dos quais logo o primeiro é um livro de referência, que em 1950 viria a ser traduzido em castelhano.
Parte do índice do Livro atrás mencionado
Que eu adquiri na altura própria...e ainda guardo.
E a fig.2, do mesmo livro, com a "representação semi-esquemática do que acontece aos cromosomas e ao núcleo celular quando da mitose e quando das duas divisões meióticas"
J.A.Serra cedo valoriza e destaca a grande importância das proteínas na química da Vida, importância que só agora começamos a alcançar em toda a sua dimensão. Aquilo que Maynard Smith viria a dizer – “o DNA é uma banda magnética e as proteínas a música da vida” – é uma ideia presente, desde muito cedo na sua obra científica. É a própria etimologia do termo “proteína” que emana em todo o seu significado, da sua obra científica (o termo “proteína” vem do deus grego Proteu, que era capaz de tomar milhares de formas, e as mais inesperadas, para escapar aos seus perseguidores).
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Para Serra a liberdade para investigar, questionar, discutir, aprender e ensinar era fundamental à sua sobrevivência enquanto trabalhador intelectual. Para ele, qualquer limitação à liberdade era um obstáculo ao trabalho original regular.
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A grandiosa actividade científica que o seu currículo atesta foi prosseguida sob as dificuldades impostas pelo regime fascista, não só as de meios materiais, como as organizativas, a que se juntaram, para Serra e vários outros universitários da época, as constantes perseguições políticas.
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JASerra aderiu ao MUD (Movimento de Unidade Democrática) em Outubro de 1945. Durante o fascismo, é frequentemente impedido de sair do país para as suas actividades científicas.
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E, no entanto, depois da Revolução de Abril, dizia:
“Há sempre o pretexto das dificuldades económicas mas, as causas dessa atitude para com a investigação científica são mais profundas e permanecem mesmo quando a política muda; tudo se passa como se no nosso país continue a não haver investigação científica, no sentido de actividade de interesse colectivo com alcance nacional, apenas havendo investigadores que, como sempre, só podem actuar a nível individual, sem que para a colectividade ou seus órgãos representativos isso faça aparentemente qualquer diferença.”
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José António Serra tem o seu retrato exposto no Mosteiro Augustiniano de São Tomás de Brno, onde Gregor Mendel viveu a sua prodigiosa aventura científica. É a justa homenagem que a História lhe pode fazer.
Nota: A foto de JASerra foi obtida a partir do livro "Memórias de Professores Cientistas", tal como o foram algumas passagens do texto, da autoria de Luís Vicente.
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