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23 março 2013

Uma vergonha nacional...

... é o título do artigo de Opinião de
Vasco Pulido Valente
hoje, na sua coluna de Sábado, no Público
 .
Vasco Pulido Valente

Uma vergonha nacional
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Sócrates volta; e volta a convite da RTP (uma empresa pública em que o sr. Relvas manda) para entrevista em que tentará justificar o seu Governo e para um programa semanal de 25 minutos, que se destina a reabilitar politicamente a sua pessoa a fazer dele um candidato plausível a secretário-geral do PS ou talvez mesmo à Presidência da República. Estas fantasias não interessam muito, excepto para confirmar o narcisismo da criatura e a sua obsessão com os media. Com tudo o que se passou desde que o dr. Cavaco o remeteu para mais verdes pastagens, Sócrates não percebeu ainda que a generalidade dos portugueses não lhe concede o favor da mais leve desculpa e o considera responsável pelo sofrimento e as misérias da crise. Até ao fim do dia 21 de Março já havia por exemplo um abaixo-assinado na Internet com 86.000 assinaturas, pedindo que ele ficasse longe, muito longe, da nossa vista.
Mas, como é óbvio, o problema não se esgota aqui. No seu tempo, Sócrates foi, sem dúvida, o primeiro-ministro que mais se esforçou para administrar a informação e, pelo menos, para controlar (às vezes com manobras sem nome) a televisão, a rádio e os jornais. Não foi por acaso que o país chegou à undécima hora sem a menor ideia do poço para que tinha sido conscientemente atirado. Por omissão e por comissão, Sócrates sempre se mostrou um homem muito flexível com a verdade. E pior: um homem que vivia bem no mundo imaginário que vendia, sem o menor escrúpulo, aos portugueses. E, pior, nem o desastre o regenerou: não disse ele em Paris que a dívida se administrava, não se pagava, enquanto Portugal inteiro se espremia precisamente para a pagar?
Resta saber por que razão o sr. Relvas (que também não se distingue, por uma particular credibilidade) resolveu oferecer ao sr. Sócrates no seu exílio “filosófico” um comício regular na RTP. Não compreendeu o sr. Relvas que atribuir um privilégio destes a um político desacreditado desacreditava simultaneamente a própria RTP e, de caminho, ofendia o país? Será que a manobra se destina só, no melhor estilo caciqueiro, a provocar uma pequena guerra civil no PS? Ou pensa o PSD que os dislates de Sócrates, tarde ou cedo, acabarão por os servir? Ou a ressurreição do indivíduo não passa de uma simples peça de um negócio maior e mais complexo, que por enquanto o país desconhece?
Existem naturalmente dezenas de hipóteses. Mas, qualquer que ela seja, é, com certeza, uma vergonha nacional.

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