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31 agosto 2010

Os cinco sentidos...

Um poema de Almeida Garrett
.

Almeida Garrett
pelo escultor Barata Feyo

Os cinco sentidos

São delas, bem o sei, essas estrelas;
mil cores, divinais, têm essas flores;
Mas eu não tenho, amor, olhos para elas:
em toda a natureza
não vejo outra beleza,
senão a ti – a ti!
.
Divina – ai, sim! – será a voz que afina
saudosa, na ramagem densa, umbrosa,
Será; mas eu do rouxinol que trina
não oiço a melodia,
nem sinto outra harmonia,
senão a ti – a ti!
.
Respira, n’aura que entre as flores gira,
celeste incenso de perfume agreste.
Sei…sinto muito; minha alma não aspira,
não percebe, não toma
senão o doce aroma
que vem de ti – de ti!
.
Formosos são os pomos saborosos;
é um mimo de néctar o racimo.
E eu tenho fome e sede… Sequiosos,
famintos meus desejos
estão! Mas é de beijos,
é só de ti – de ti!
.
Macia deve a relva luzidia
do leito ser, por certo, em que me deito;
mas quem, ao pé de ti, quem poderia
sentir outras carícias,
tocar noutras delícias,
senão de ti? – em ti?
.
A ti! Ai, a ti só os meus sentidos,
todos num confundidos,
sentem, ouvem, respiram;
em ti, por ti deliram.
.
Em ti a minha sorte,
a minha vida em ti;
e, quando venha a morte,
será morrer – por ti!
.
Almeida Garrett
In. “Folhas Caídas”.

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