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05 outubro 2008

O doce pássaro

João Bénard da Costa veio de férias.
Já cá estava a fazer falta…

João Bénard da Costa

Adoro quando ele nos aponta os “canhões” da sua cultura e, também, quando nos fala da Arrábida…
Vale a pena ler a sua crónica de hoje. Nela faz cruzar o Paul Newman, com uma “jornalista”(!?), provavelmente iniciada na profissão ao frequentar as célebres aulas de “Iniciação ao Jornalismo” que um qualquer Ministério da Educação inventou para os alunos do secundário, há alguns anos atrás…
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Diz ele em certa altura, na Crónica desta manhã:
(...)

Assim, de praias da Arrábida o que resta? Uma língua de areia a meio do Portinho, cheia de barracas e palhotas de colmo, onde me dizem que em Julho e Agosto se juntam caravélicas multidões.
(…)
“Sozinho, percorro eu esse melancólico carreiro, quando numa volta dele, o telefone desata a tocar.
(…) Do outro lado, uma voz feminina pedia desculpa pelo “incómodo”, mas não sabia se eu sabia que tinha morrido “o actor Paul Newman”. Eu não sabia. Então perguntou-me se eu não queria dar um depoimento (era de uma rádio) sobre “como me situava face à morte do actor Paul Newman “. “Como me situava?” respondi e perguntei atónito. Apeteceu-me dizer-lhe que me situava numa curva de caminho escabroso, mas, como nos vamos habituando a tudo, aceitei o tal comentário, debitando meia dúzia de lugares-comuns ou de clichés feitos. Acho que até cheguei aos jeans a aos olhos azuis . No fim, a senhora, menina ou lá o que fosse saiu-se com esta:”Mas lamenta ou não lamenta a morte do actor?”. Só nessa altura desliguei.
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Falando agora sobre a obra Newman, tem frases soltas que marcam um estilo:
(…)
"O céu, num dia glorioso, tinha a cor dos olhos de Newman.”
(…)
…são recorrentes os planos de torso nu do actor – esse torso de estátua grega, quando a pedra parece carne e apetece morde-la -, esses planos não têm que ver com praias ou banhos de mar.
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E, mais no fim da sua Crónica, Bénard da Costa lembra um poema de Ruy Belo:
“Ruy Belo(…) escreveu um poema espantoso. Esse que começa com a pergunta “Para onde há-de ir billy the kid?”.

E mais adiante:
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“O caminho da ida e o caminho da volta
Não são afinal o mesmo caminho
Billy conheçe agora o destino. Sempre inquieto sempre a correr
Amou a vida como se amar fosse morrer
Sabe-lhe bem ser de novo menino.”
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Releio o poema e penso em paul Newman. Ele foi tão grande em velho. Ele foi tão bonito em velho. Mas quando pensamos nele – doce pássaro - é a juventude que mais lembramos, é o novíssimo Paul Newman – corpo e olhar ou corpo e alma – de quem temos mais saudades. E sabe-nos bem que ele seja de novo menino.”

Se puderem, não deixem de ler toda a Crónica que João Bénard da Costa nos escreve no "Público" de hoje

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