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30 agosto 2009

A "brecha" da Arrábida...

Há poucos dias, creio que foi no dia 10 de Agosto, ao ler o Setubalense, passou sob os meus olhos um artigo assinado por João Francisco Envia, que me chamou a atenção.
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Por discordar da utilização do material escolhido para executar o cruzeiro do Largo de Jesus, o autor fala de uma rocha “vulgarmente” conhecida por “mármore da Arrábida" e que se encontra em alguns locais restritos dos arredores da Setúbal como a Arrábida, o Viso e a Reboreda.
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Tal como noutras regiões do país davam o nome de mármore a qualquer “pedra” susceptível de polimento, fosse ela o mais duro dos granitos ou o mais suave das “carbonatos de cálcio recristalizados”, também aqui acharam que aquelas rochas características deveriam ser chamadas de mármores.
Mas são de facto muito diferentes!
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A rocha em questão, utilizada quer no Cruzeiro do Largo de Jesus quer no próprio Convento é uma “Brecha”, ou seja, um Conglomerado de detritos angulosos, uma Rocha Sedimentar de origem Detrítica com elementos angulosos (não erodidos, não arredondados…) de dimensão superiores a 10 mm até 50mm, todos eles aglutinados por um cimento que pode ser de várias origens: argiloso, calcário ou ferruginoso, quase sempre estes três tipos em simultâneo. (1)
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Pelo contrário, o Mármore é uma rocha Metamórfica que resultou da acção de grandes pressões endógenas ou de temperaturas muito elevada que se desenvolvem em zonas profundas da crosta da terra e originam uma “recristalização” de terrenos sedimentares calcários de origem química.
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Os “mármores”, ditos da Arrábida ou do Viso, nada têm a ver com os verdadeiros mármores… Apenas os construtores, alguns "construtores”, assim os passaram a denominar só pelo facto de poderem ser susceptíveis de polimento e darem uns revestimentos bonitos, uns cinzeiros lindos ou uns tampos de mesa “muito catitas”…Devo acrescentar que algumas das vivendas existentes na Reboreda (junto ao Hotel ali existente) e no Viso, estão assentes em brecha argilo-ferruginosa de que alguns exemplares existiam (existem, com certeza...) ainda há poucos anos no Laboratório de Ciências Naturais do nosso Liceu.
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Algumas destas rochas são mais escuras, outras mais claras, porquanto essa coloração que a rocha tem, vista a média distância, resulta tão só da cor dos detritos macroscópicos de que são feitas, muito heterogéneos, (e eventualmente do “cimento” utilizado), terem esta ou aquela cor… Não poderemos afirmar que os da Arrábida são de uma cor e os do Viso de uma outra, só pelo facto de estarem em locais afastados…Nos finais da era Secundária (períodos Jurássico e Cretácico), quando “toda esta zona onde vivemos” era o fundo de um oceano… não havia sectores “para despejar os detritos” consoante a sua origem… crómica ou outra…
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(1) A cimentação natural das rochas sedimentares detríticas grosseiros de elementos soltos, como o cascalho, os calhaus rolados e os calhaus estriados, transforma-as em rochas lapidificadas – os Conglomerados que tomam a designação de “pudins” quando constituídos por detritos arredondados e “brechas” quando constituídos por detritos angulosos.
Cfr. “Lições de Geologia”, de Natércia Guimarães e Augusto Medina – Porto Editora.
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Os detritos arredondados dos “pudins” revelam uma erosão intensa antes da lapidificação pressupondo, por exemplo, uma localização prévia em zonas de rebentação das ondas, nas orlas marítimas, ou em leitos de rios de caudal elevado e tumultuoso… durante muitos e muitos milhares de anos…
Os detritos angulosos das “brechas", pelo contrário, podem revelar um processo de lapidificação bem mais rápido do que o anterior… impedindo assim um “arredondamento”, uma erosão mais intensa dos seus componentes…
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De qualquer modo não podemos comparar a “rapidez” destes processos geológicos “apenas” com a passagem de “algumas centenas de anos”...como refere João Francisco Envia a propósito do “filão da pedra do Viso até à Serra de S.Filipe, que foi engolido possivelmente pelas movimentações terrestres de há algumas centenas de anos…”
A unidade de tempo em Geologia é o milhão de anos… As formações geológicas da Arrábida remontam à era Secundária!... cujo Sistema geológica levou 150 milhões de anos a formar-se e se iniciou há cerca de 200 milhões…
Depois disso, os terrenos então formados emergiram na sequência de forças endógenas
integradas nos "enrugamentos alpinos" que "constituem, sem dúvida, o acontecimento geológico capital da Era Cenozóica", também designada por Era Terciária.
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Foi nessa altura que os fundos marinhos, existentes nesta zona da Península Ibérica, enrugaram e deram origem à Serra da Arrábida tal como a conhecemos neste momento.
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A pedreira, há muito inactiva, da "Brecha da Arrábida" situa-se no extremo inferior esquerdo, a sul da bifurcação da estrada que, vinda dos Casais da Serra, conduz ao Vale do Solitário e ao Portinho.
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Um grupo de professores da região de Lisboa e de Setúbal, na área das Ciências Naturais, que se preparavam para ser os pioneiros do ensino do recém criado 12ºAno, realizaram uma visita de estudo à Serra da Arrábida e a Sesimbra.
Ei-los aqui, descendo para a pedreira das "brechas da Arrábida", cerca de 100m metros mais abaixo... (foto obtida em 22 11 1980)
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A pedreira existente na Serra da Arrábida (38º 27' 28. 69" N - 09º 00' 37. 36"W) fotografado em 22 de Novembro de 1980.
Nessa altura, a pedreira estava interdita há muito tempo e não havia exploração activa...
No entanto, a "brecha da Arrábida" continuava a aparecer à venda sob os mais diversos aspectos!
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Um fragmento de "brecha da Arrábida" muito bonito,
já devidamente trabalhado e polido.
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Os detritos calcários de tom amarelado medem, na sua maior dimensão,
respectivamente, 4, 6 e 5 centímetros
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Do local onde se situa esta pedreira, e olhando para o lado poente, vislumbra-se uma imagem "assombrosa"... Convinha que alguém decifrasse o enigma que por ali se observa...
Na verdade, a Serra do Risco parece ter sido uma onda alterosa que parou no ar e se transformou em rocha!
A quem olha de nascente para poente nota que falta ali alguma coisa... nota que a Serra do Risco não tem a vertente sul.
O que teria sido feito da "aba" sul daquela zona da Serra da Arrábida?

A Serra do Risco na sua vertente norte. Logo a seguir um desnível enorme para o oceano. Parece uma onda parada... (foto de Gonçalo Elias)

1 comentário:

Anónimo disse...

aqui perto de casa tem desta rocha é incrível moro no brasil e aqui é quase proibido mexer com isso, mas conceteza é a mesma