chamado Caravaggio
(1573 – 1610)
A Ceia em Emaús
"Depois de tirocínio em Milão, ainda jovem, o pintor passa a Roma e lá permanece 15 anos. A sua presença na arte romana é uma presença polémica, na medida em que altera os hábitos pictóricos académicos dos tardios epígonos do Renascimento. Dele se disse que era uma figura em contínua contradição com todo o Renascimento italiano, por se reportar directamente às coisas e às figuras da Natureza. Realmente, procurou, por todas as formas, pôr em evidência os factos naturais com uma franqueza que parecia brutalidade e era, pelo contrário, mais um princípio moral do que um novo motivo pictórico. E para realizar esta sua visão, que trazia à pintura italiana a vida nas suas coisas mais quotidianas e reais, buscou, também, neste quadro, uma iluminação realista, lateral e do alto, com fortes efeitos de luz e de sombra, de modo que as figuras, a fruta, o pão e a louça da pobre mesa assumem uma evidência palpável, um relevo quase físico. Ao gosto amaneirado dos pintores romanos podia chocar esta natureza. Num quadro como este de Londres poderia chocar que Cristo aparecesse sentado a uma mesa de taberna, com o taberneiro ao lado, assim como chocaram os pés sujos dos peregrinos de Nossa Senhora dos Palafreneiros, que na realidade foi retirada do altar. Mas este retorno à simples evidência das coisas era, para Caravaggio, um retorno à verdade, um retorno ao quotidiano, porque é nele que a vida se manifesta no fogo das paixões e na força dos acontecimentos.
Uma tal lição pictórica, que foi também uma lição moral, influiu profundamente na pintura europeia do século XVII, especialmente na espanhola e na holandesa.
Este quadro foi pintado, provavelmente, em 1598 para o Marquês Ciriaco Mattei. A garrafa à esquerda, é a mesma que se vê no Baco dos Uffizi, a cesta da fruta repete quase fielmente a Cesta da Ambrosiana e as personagens aparecem quase todas nas várias pinturas religiosas, da Vocação de S. Mateus à Morte de S. Pedro.
O quadro passou para a colecção do cardeal Scipione Boughese e permaneceu em Roma até 1798. Chegou à pinacoteca londrina em 1839, por doação de Lord Vernon".
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Cfr. Marco Valsechi
In “Grandes Museus do Mundo”
Ed. Verbo - Setembro/1973
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