Sebastião da Gama
Enfermeira
As raras vezes que apareces
eu imagino-me doente.
A hora é branca, toda branca…
E tu, serena, resplandeces,
também de branco.
Há um silêncio que se enflora
de uma ternura desusada.
Talvez a chuva lá por fora…
Mas para mim não há mais nada
que a tua imagem, nessa hora,
sobre o meu leito debruçada.
Palavra alguma, nem um gesto,
vem confirmar tua presença,
que simplesmente se anuncia
pela suavíssima alegria
de imaginar que estou doente.
E não me ajeitas a almofada…
E não me pões à cabeceira
nem uma rosa nem um livro…
Mas é tão boa e verdadeira
tua presença ao pé de mim
que quando sais, misteriosa,
toda de branco
a tua ausência dói-me tanto,
e aquela hora, de repente,
fica tão fria e tão vazia
que escusa a minha fantasia
de imaginar que estou doente.
in Cabo da Boa Esperança,
Edições Ática, Lisboa
Outubro/1959
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