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01 fevereiro 2008

Serenata... 14 de Março de 1953

O calendário marcava 14 de Março de 1953 e era sábado... Não havia "fins-de-semana" em Castelo Branco, por essa altura...

Por uma qualquer razão, se é que alguma razão houve... foi combinado um "jantar de confraternização" nessa noite.
Na tasca do Ivo.
Na rua Cadetes de Toledo.
Depois seguiu-se uma Serenata...

Eis uma "tradução" (capaz de ser lida), que figura num "Diário de recordações" escrito por essa altura onde se relatam alguns dos "acontecimentos" que se passaram nessa noite:
"Saí de casa depois do jantar, disposto a ir ao cinema. Nos Cafés encontrei a "malta" do 7ºAno que ia ao "Jantar de Confraternização" e, entre eles, estavam já o Júlio Casaleiro, o Victor Saludes, o Zé Castilho, o João Barata e o Vinagre.
Entusiasmaram-me... e entusiasmei-me! Corri a casa a vestir a minha "capa velhinha" e fui mesmo ao jantar. Embora tivesse já jantado em casa, comi que me fartei! Mas não "entrei no vinho"... Só assim se pode apreciar um bom espectáculo.
A meio do jantar, o Salvado já me tinha contado a vida toda desde pequenino... e já estava um pouco de "olhos brilhantes", mas "se estava assim era para esquecer a Marília"...
No jantar ainda se reuniu muita gente e a noite correu bastante bem.
Foram convidados os contínuos do Liceu que alinharam bem connosco.
Estiveram presentes muito mais de metade dos alunos do nosso 7ºAno. Alunos homens, claro!... As alunas-mulheres, à noite, ficavam em casa, nos lares, a ouvir os "Discos pedidos", na Emissora Nacional...com o Artur Agostinho a comandar.
A meio do jantar fizeram-se algumas fotos, para mais tarde recordar...


Na fila de trás, há 15 "cabeças" que identifico, da esquerda para a direita:

Manuel Nunes Marques, Manuel Barroso, Ilídio da Mesquita Nunes, Armando Lourenço Rodrigues, Francisco dos Reis Ribeiro, António Tavares, Victor Martins da Conceição, António Vinagre, Júlio Casaleiro, Paulo Hormigo, José Castilho Monteiro, jjmatos, João Correia Barata, José Serrano Raposo e António Ramalho Eanes.
Na segunda fila, de pé: Amândio de Azevedo Robalo, António Matias Sequeira, Joaquim Pires Simão, NN, o contínuo Sr.Rolão, o contínuo Sr.Videira, o António Paralta de Figueiredo, o Raúl Capelo, o contínuo Sr. José Carrondo, o contínuo Sr.Dias.
Mais próximo de nós há seis "figurantes":
Em primeiro plano o António Salvado, que também tocava viola e não sabia estar quieto!! Nem para fazer a fotografia... Encobriu assim o "Armandinho das guitarras"
(o Armando Henriques da Conceição) que esteve sentado toda a noite
por um motivo deveras curioso...
Depois aparece o Américo Mendes que tem ao seu lado, meio encoberto
o contínuo Sr.Mário e, à frente, o Joaquim Martins Baptista (viola) e,
finalmente, o "velho" contínuo Sr.Faria.
Ainda estava tudo bem!... Lá mais para o fim foi bem pior...

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No final do repasto e após as anedotas contadas pelo Vinagre que era um "contador" emérito que com facilidade nos punha a rir e bem dispostos, e depois de muita "imperial" (eram as bjekas da altura...) e muitas canecas de tinto, as coisas complicaram-se...
Tanto os guitarristas como os cantores (Vinagre incluído) resolveram que, ao sairem do Restaurante (do tasco!), iriam fazer uma serenata a algumas das nossas colegas.
E a primeira "vítima" foi a Júlia Costa que morava na rua Rodrigo Rebelo, ali mesmo a seguir à estação de camionagem, antes dos "Três Globos".

Em frente da casa da nossa colega Maria Júlia

Na primeira fila: Amândio Robalo, Paulo Hormigo, Raúl Capelo,
José Raposo, Manuel Marques e Castilho Monteiro.
Na fila de trás: o António Matias Sequeira, o António Tavares,
o Joaquim Pires Simão, o Victor Manuel da Conceição (Saludes),
o António Vinagre da Silveira, o Joaquim Martins Baptista, com a guitarra,
o Francisco dos Reis Ribeiro, o Armando Lourenço Rodrigues,
o Paralta de Figueiredo, o António Ramalho Eanes,
o Américo Mendes com a viola e o jjmatos.
Là no meio, com a viola e sentado, o Armando da Conceição.
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"Cantou o Paralta que tinha um "fraquinho" por ela... e o António Vinagre que lhe cantou o "Adeus..." do Francisco José! Isso mesmo... o "Adeus... não afastes os teus olhos dos meus..."
A Maria Júlia, se ouviu... nem deu sinal de si! Foi o que fez de melhor... E, no entanto, a serenata ali correu maravilhosamente bem em comparação com aquilo que sucedeu a seguir quando cantaram para a namorada do Américo, a Fernanda de Oliveira Mendes... Também aqui cantou o Paralta ao qual se seguiu o António Vinagre que, com mais meia hora em cima e uma "digestão atrapalhada", a meio da canção, esqueceu-se que estava a cantar, e começou a comer um papo-seco. Quando lhe veio à mente o que de facto estava a fazer ali começou a rir à força toda. às gargalhadas... e a serenata acabou naquele momento... quase à pancada, porque alguém se lembrou de lhe dizer que ele estava era "grosso"...
O Paulo Hormigo definiu muito bem aquela "pseudo serenata" quando sentenciou:
"Pareciam mesmo uns ceguinhos a tocar e a pedir esmola..."

Talvez fosse porque o Armandinho da guitarra tem estado muito doente, com uma íngua na virilha e não pode andar. Sempre que havia deslocações, ele era transportado aos ombros por dois parceiros, como nas promessas das romarias. Quando se fazia a serenata, um de nós levava um banquinho onde o Armando se sentava pois não aguentava ficar de pé..."

Já não estão entre nós alguns destes nossos colegas de Liceu.
O Américo Mendes, o António Vinagre e o Júlio Casaleiro
já nos deixaram.

Mas nem por isso deixarão de ser lembrados por nós com uma alegria igual àquela com que sempre viveram.

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