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24 novembro 2010

Quadras de António Nobre...

"Para as raparigas de Coimbra"

António Nobre
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1
Tristezas têm-nas os montes,
Tristezas têm-nas o céu,
Tristezas têm-nas as fontes,
Tristezas tenho-as eu!
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2
Ó choupo magro e velhinho,
Corcundinha, todo aos nós:
És tal qual meu avôzinho,
Falta-te apenas a voz.
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3
Minha capa vos acoite
Que é p'ra vos agazalhar:
Se por fóra é cor da noite,
Por dentro é cor do luar...
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4
Ó sinos de Santa Clara,
Por quem dobraes, quem morreu?
Ah, foi-se a mais linda cara
Que houve debaixo do céu!
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5
A sereia é muito arisca,
Pescador, que estás ao sol:
Não cai, tolinho, a essa isca...
Só pondo uma flor no anzol!
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6
A Lua é a hostia branquinha,
Onde está Nosso Senhor:
É d'uma certa farinha
Que não apanha bolor!
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7
Vou a encher a bilha e trago-a
Vazia como a levei!
Mondego, qu'é da tua agoa?
Qu'é dos prantos que eu chorei?
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8
A cabra da velha Torre,
Meu amor, chama por mim:
Quando um estudante morre,
Os sinos chamam, assim.
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9
- E só porque o mundo zomba
Que poes luto? Importa lá!
Antes te vistas de pomba...
- Pombas pretas tambem há!
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10
Terezinhas! Ursulinas!
Tardes de novena, adeus!
Os corações ás batinas
Que diriam? Sabe-o Deus...
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11
Ó boca dos meus desejos,
onde o padre não pôs sal,
São morangos os teus beijos,
Melhores que os do Choupal!
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12
Manoel no Pio repoisa:
Todos as tardes, lá vou
Ver se quer alguma coiza,
Perguntar como passou.
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13
Agora, são tudo amores
A roda de mim, no Caes,
E, mal se apanham doutores,
Partem e não voltam mais...
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14
Aos olhos da minha fronte
Vinde os cantaros encher:
Não ha, assim, segunda fonte
Com duas bicas a correr!
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15
Os teus peitos são dois ninhos
Muito brancos, muito novos
Meus beijos os passarinhos
mortinhos por porem ovos.
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16
Nossa Senhora faz meia
Com linha branca de luz:
O novelo é a Lua-Cheia,
As meias são pra Jesus
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17
Meu violão é um cortiço,

Tem por abelhas os sons
Que fabricam, valha-me isso,
Fadinhos de mel, tão bons...
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18
Ó Fogueiras, ó cantigas,
Saudades! recordações!
Bailae, bailae, raparigas!
Batei, batei, corações!
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António Nobre, in ''

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