Vinícius de Moraes.
1913 - 1980
.
Procura-se um amigo
.
Não precisa ser homem, basta ser humano,
basta ter sentimento, basta ter coração.
Precisa de saber falar e calar, sobretudo saber ouvir.
.
Tem que gostar de poesia, de madrugada,
de pássaros, de sol, da lua, do canto
dos ventos e das canções da brisa.
.
Deve ter amor,
um grande amor
por alguém,
ou então sentir falta
de não ter esse amor.
.
Deve amar o próximo
e respeitar a dor
que os passantes
levam consigo.
.
Deve guardar segredo
sem se sacrificar.
.
Não é preciso que seja de primeira mão,
nem é imprescindível que seja de segunda mão.
Pode já ter sido enganado,
pois todos os amigos são enganados.
.
Não é preciso que seja puro,
nem que seja de todo impuro,
mas não deve ser vulgar.
.
Deve ter um ideal
e medo de perdê-lo e,
no caso de assim não ser,
deve sentir o grande
vácuo que isso deixa.
.
Tem que ter ressonâncias humanas,
seu principal objectivo deve ser o amigo.
.
Deve sentir pena
das pessoas tristes
e compreender
o imenso vazio
dos solitários.
.
Deve gostar de crianças
e lastimar as que
não puderam nascer.
.
Procura-se um amigo
para gostar dos mesmos gostos,
que se comova quando chamado de amigo.
.
Que saiba
conversar
de coisas simples,
de orvalhos,
de grandes chuvas
e das recordações
da infância.
.
Precisa-se de um amigo para não enlouquecer,
para contar o que se viu de belo e triste durante o dia,
dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade.
.
Deve gostar de ruas desertas,
de poças de água
e de caminhos molhados,
de beira de estrada,
de mato depois da chuva,
de se deitar no capim.
.
Precisa-se de um amigo
que diga que vale a pena viver,
não porque a vida é bela,
mas porque já se tem um amigo.
.
Precisa-se de um amigo
para se parar de chorar.
.
Para não viver
debruçado no passado
em busca de
memórias perdidas.
.
Que nos bata nos ombros
sorrindo e chorando, mas que
nos chame de amigo,
para ter-se a consciência
de que ainda se vive.
.
Vinícius de Moraes
1913 - 1980
Não precisa ser homem, basta ser humano,
basta ter sentimento, basta ter coração.
Precisa de saber falar e calar, sobretudo saber ouvir.
.
Tem que gostar de poesia, de madrugada,
de pássaros, de sol, da lua, do canto
dos ventos e das canções da brisa.
.
Deve ter amor,
um grande amor
por alguém,
ou então sentir falta
de não ter esse amor.
.
Deve amar o próximo
e respeitar a dor
que os passantes
levam consigo.
.
Deve guardar segredo
sem se sacrificar.
.
Não é preciso que seja de primeira mão,
nem é imprescindível que seja de segunda mão.
Pode já ter sido enganado,
pois todos os amigos são enganados.
.
Não é preciso que seja puro,
nem que seja de todo impuro,
mas não deve ser vulgar.
.
Deve ter um ideal
e medo de perdê-lo e,
no caso de assim não ser,
deve sentir o grande
vácuo que isso deixa.
.
Tem que ter ressonâncias humanas,
seu principal objectivo deve ser o amigo.
.
Deve sentir pena
das pessoas tristes
e compreender
o imenso vazio
dos solitários.
.
Deve gostar de crianças
e lastimar as que
não puderam nascer.
.
Procura-se um amigo
para gostar dos mesmos gostos,
que se comova quando chamado de amigo.
.
Que saiba
conversar
de coisas simples,
de orvalhos,
de grandes chuvas
e das recordações
da infância.
.
Precisa-se de um amigo para não enlouquecer,
para contar o que se viu de belo e triste durante o dia,
dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade.
.
Deve gostar de ruas desertas,
de poças de água
e de caminhos molhados,
de beira de estrada,
de mato depois da chuva,
de se deitar no capim.
.
Precisa-se de um amigo
que diga que vale a pena viver,
não porque a vida é bela,
mas porque já se tem um amigo.
.
Precisa-se de um amigo
para se parar de chorar.
.
Para não viver
debruçado no passado
em busca de
memórias perdidas.
.
Que nos bata nos ombros
sorrindo e chorando, mas que
nos chame de amigo,
para ter-se a consciência
de que ainda se vive.
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Vinícius de Moraes
1913 - 1980
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