Por motivos vários, só há poucos dias tive a oportunidade de iniciar a leitura do último romance do José Rodrigues dos Santos, “O sétimo selo”, que o meu filho me ofereceu no último Natal.
Foi com algum espanto que me encontrei com “Filipe Madureira”, um cientista português radicado na Rússia e figura importante na trama deste curioso romance português.
A figura central desta obra é “Tomás de Noronha, professor universitário de História, perito em línguas antigas e um dos maiores criptanalistas do mundo…” . Também ele “antigo aluno” do Liceu de Castelo Branco!
Mas este, já eu conhecia dos dois anteriores romances do mesmo autor, “O Codex 632” e “A fórmula de Deus”
.
Não soubesse eu ser o autor Rodrigues dos Santos natural de Moçambique e bem o podia imaginar meu conterrâneo, tal a simpatia que sentimos ele nutrir pelo Liceu daquela cidade… A ponto de ter colocado, como antigos alunos do “nosso” Liceu. dois personagens de primeiro plano, na sua última obra literária.
José Rodrigues dos Santos
Transcrevo, com a devida vénia ao seu autor, dois pequenos excertos do romance “O sétimo selo”:
Primeiro (pgs 36-37):
O telemóvel tocou.
“Professor Noronha?”
Era um português quase perfeito, mas um leve sotaque traía a sua voz a voz estrangeira. “Sim?”
“O meu nome é Alexandre Orlov e trabalho para a Interpol.”
O homem calou-se, esperando que o seu interlocutor apreendesse esta informação.
“Sim?”
“Preciso de ter uma conversa consigo. Está disponível para jantar… digamos, amanhã?”
Tomás franziu o sobrolho, desconfiado. O que lhe quereria a Interpol?
“Qual o assunto?”
“É uma questão de certa delicadeza. Se não se importa gostaria de a expor pessoalmente, não ao telefone.”
“Mas pode dar-me uma ideia do que se trata? Como deve calcular sou uma pessoa ocupada.”
“Com certeza”, concordou a voz do outro lado da linha.
“Professor Noronha, o nome de Filipe Madureira é-lhe de algum modo familiar?”
Tomás hesitou, surpreendido.
“Filipe Madureira?”
“Sim.”
“Bem… foi meu amigo no Liceu de Castelo Branco.”
“O Liceu… uh… Nuno Álvares, não é?”
“Sim, esse mesmo. Porquê? O que tem o Filipe?”
“O seu amigo anda desaparecido”…
.
O último romance de J. Rodrigues dos Santos
7ºEdição - Novembro de 2007
E, mais adiante (pgs 284-285):
(…)
“Confesso que estou embasbacado com o teu russo”, observou Tomás. “Onde é que o aprendeste?”
“Aqui na Rússia, claro.”
“Vives aqui há muito tempo?”
“Vivi aqui há muito tempo.”
“Viveste?”
“Sim. Não te lembras que os meus pais eram do Partido comunista?”
“Então não me lembro?”, sorriu Tomás. “Eles eram um escândalo em Castelo Branco. Votavam em candidatos com nomes estranhos, como Octávio Pato e outros do género.”
“Por causa dos meus pais, quando terminei o liceu arranjei uma bolsa e fui tirar Geologia para a Universidade de Leninegrado. Foi no tempo da União Soviética, claro.”
“Leninegrado? Sampetersburgo, queres tu dizer.”
"Leninegrado era o nome que a cidade tinha na altura.”
“E então? Gostaste?”
“A cidade é espectacular”, disse. “Mas, como é bom de ver, ao fim de duas semanas eu já me tinha tornado um anticomunista primário.”
“Foste-te logo embora.”
“Não. Fiquei quatro anos.”
“Quatro anos?”
Filipe encolheu os ombros.
“Foram as russas que me fizeram ficar”, disse, uma expressão entre o impotente e o resignado. “O país era uma merda, as pessoas antipáticas, o sistema comunista não funcionava, fazia um frio incrível no Inverno, mas mesmo assim não consegui ir-me embora,” Suspirou. “As miúdas aqui foram a minha perdição, não havia nada a fazer.”
“O que têm elas de especial?”
O amigo olhou para Nadezhda como se exibisse a prova.
“Então não vês?”
.
Cfr. “O sétimo selo”
7ªEd. – Gradiva - Novembro/2007
Há um bocadinho de Filipe Madureira em todos os antigos alunos do Liceu de Castelo Branco... Não há?!...
1 comentário:
Boas,
por acaso estou a ler esse livro agora, e o facto de ter estudado em castelo branco, mas nao no liceu, despertou me curiosidade, e gostava de saber realmente, se essas duas personagens existem mesmo..se kiser trocar opinioes directamente cmg aqui fica o meu mail brunodias69@hotmail.com.. saudaçoes
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