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27 maio 2008

Mas porém a que cuidados?

Luís Vaz de Camões

"Camões e as Ninfas"
pintado por Columano Bordalo Pinheiro
no Museu Militar de Lisboa

.
A D. Francisca de Aragão, que lhe mandou glosar este verso:
. . . . . . . . "Mas porém a que cuidados?"

Primeira glosa

Tanto maiores tormentos
Foram sempre os que sofri,
Daquilo que cabe em mi,
Que não sei que pensamentos
São os pêra que nasci.
Quando vejo este meu peito
A perigos arriscados
Inclinado, bem suspeito
Que a cuidados sou sujeito.
Mas porém a que cuidados?
.
Segunda glosa

Que vindes em mim buscar,
Cuidados, pois sou cativo?
Eu não tenho que vos dar.
Se vindes a me matar.
Já há muito que não vivo,
Se vindes porque me dais
Tormentos desesperados,
Eu, que sempre sofri mais,
Não digo que não venhais.
Mas porém a quê, cuidados?
.
Terceira glosa

Se as penas que Amor me deu
Vêm por tão suaves meios,
Não há que temer receios,
Que vale um cuidado meu
Por mil descansos alheios.
Ter nuns olhos tão fermosos
Os sentidos enlevados,
Bem sei que em baixos estados
São cuidados perigosos.
Mas porém, oh! que cuidados!

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