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14 abril 2008

A crónica de Nuno Pacheco é uma delícia...

Dá que pensar a crónica do jornalista Nuno Pacheco, no "Público" de hoje!...
Deixo aqui apenas o início dessa crónica... Acho que chega...
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Um-dó-li-trrim
14.04.2008,
Nuno Pacheco
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Ninguém lhes escapava, nem havia maneira. Bastava ter bibe e zás, era ver as criaturas a cantar coisas velhíssimas que já vinham de outras infâncias.
"Fui ao jardim da Celeste, giroflé, giroflá", por exemplo.
Ou "Indo eu, indo eu, a caminho de Viseu".
E quem diz isto diz o lagarto pintado da saia da Carolina;
ou o pifarinho comprado na loja do mestre André;
ou as pombinhas da Catrina (uma Catarina condensada para caber na música) a andar de mão em mão;
ou o papagaio louro do bico dourado que estava sempre a levar cartas "ao meu namorado", para rimar, mesmo quando os cantantes só usavam calções.
E havia também os jogos de palavras ajustados a cada brincadeira:
"Um-dó-li-tá, quem está livre, livre está".
Ou a fórmula nortenha de "Aniki-bébé / aniki-bóbó / passarinho tótó / berimbau, cavaquinho / Salomão, sacristão / tu és Polícia, tu és Ladrão".
Assim, de lengalengas e cegarregas, se faziam as infâncias. Não há-de faltar quem as lembre.
Mas de que se hão-de lembrar, daqui a trinta ou quarenta anos, os bibes de hoje? Da Carolina? Da Catrina? Do papagaio louro? Nem pensar. Vão recordar é outras coisas.
"Lembras-te daquele toque de telemóvel? O que fazia la-la-ra-la-ding? Fabuloso, pá!"
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Que tristeza...

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