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21 abril 2008

Beira Baixa - Notícias de 1956 - Janeiro

14 de Janeiro
Trágico Acidente
Um Titulo na 1ªpágina anunciava a morte da Maria Alice.
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Desastre de viação
No fim da tarde de Domingo último, uma camioneta de passageiros da Empresa de Viação da Beira, Ld.ª, que faz carreira diariamente entre Castelo Branco e Coimbra despenhou-se por uma ribanceira com cerca de 50 metros de profundidade, na estrada que conduz a esta cidade entre Casas de Zibreira e Foz do Giraldo.
Todos os passageiros, incluindo o motorista, sofreram graves contusões, tendo falecido a Srª D. Maria Alice Lalanda Baptista, de 21 anos, solteira, aluna da Faculdade de Farmácia de Coimbra, natural do Salgueiro do Campo.
A notícia do trágico acontecimento espalhou-se rapidamente, tendo chegado a Castelo Branco no início da noite com a chamada urgente dos Bombeiros Voluntários que imediatamente se dirigiram para o local do desastre, enquanto no serviço do Banco do Hospital tudo se preparava para prestar a necessária assistência ao numeroso grupo de feridos que dificilmente se albergaram em vista do regime de super-lotação em que normalmente vive o velho Hospital.
O infeliz acontecimento causou a maior consternação.”
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A Maria Alice é a última, à direita, no primeiro plano.



.14 de Janeiro
Na página 4, uma homenagem à nossa colega do 7ºAno, Maria Alice Lalanda Baptista que estudava em Coimbra no Curso de Farmácia
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Era assim, a Maria Alice...
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Maria Alice Lalanda Baptista

Nervosa, tímida, era assim a Maria Alice!
Dotada de excelsos sentimentos, ela não era, não, destes tempos!
Tendo cursado nesta cidade de Castelo Branco o Liceu, aqui fez os preparativos precisos para ingressar na Universidade de Coimbra, onde, há dois anos, se encontrava em Farmácia.
Sempre a mesma Maria Alice, inconfundível, a sua vida seguia serena, no meio das suas preocupações de ordem estudantil, sempre aprumada, arreigada aos sentimentos nobres que a norteavam totalmente as suas acções.
Passadas as férias do Natal, mais uma vez, - a última ela devia ser – essa Maria Alice recebeu a bênção de seus pais para, na sua terra natal – Salgueiro do Campo – entrar na camioneta que a devia conduzir ao abismo, onde a sua alma devia abandonar a matéria para entrar no Reino de Deus!
Eram 16 horas do dia 8 deste mês de Janeiro, quando a camioneta de Castelo Branco/Coimbra chegou ao Salgueiro do Campo, já quase repleta de estudantes universitários, professores e regentes primários e outras pessoas.
Nela entrou, abençoada por seus pais, a Maria Alice que, na sua timidez nata, se juntou à alegria esfuziante das suas colegas e amigas.
Decorria a viagem normalmente, mas eis que, de repente, entre Foz do Giraldo e Casas da Zebreira, a camioneta, por circunstâncias estranhas à vontade do seu motorista, resvala e tombo após tombo, desliza por uma ribanceira de muitas dezenas de metros de profundidade para, quase no fundo, parar e deixar sair do seu bojo, os gritos lancinantes das vítimas que ali se encontravam!
Ouvem-se gritos e vêem-se corpos inanimados e ensanguentados.
Os poucos que conseguem sair, desvairados pela dor e pela brutalidade do acidente, olham em redor e ficam…petrificados.
Nem um movimento, nem um gesto.
Logo que possível, organizam-se os socorros. Acorrem com incrível prontidão os Bombeiros Voluntários de Castelo Branco e muitos populares, e todos os feridos são transportados pela camioneta da Empresa Martins Évora, para o Hospital de Castelo Branco, onde tudo foi perfeito.
Provedor, Médicos, Enfermeiros, tudo nos seus lugares – e com que devoção! – em auxílio do próximo, tudo funcionando num ritmo de perfeição que a todos honra e enobrece.
Tratam-se os feridos, acomodam-se uns no hospital e regressam outros a suas casas; mas numa maca, colocada num dos claustros, jaz um cadáver, velado religiosamente, por um padre e por um professor do Liceu que, ali, ajoelhados, rezam fervorosamente!
Esse cadáver era o da Maria Alice!...”
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Mesmo sem querer, as lágrimas ainda afloram quando, ao fim de 52 anos, fazemos a leitura deste texto que a Beira Baixa publicou seis dias após o acidente...

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