Trágico Acidente
Um Titulo na 1ªpágina anunciava a morte da Maria Alice.
“Desastre de viação
No fim da tarde de Domingo último, uma camioneta de passageiros da Empresa de Viação da Beira, Ld.ª, que faz carreira diariamente entre Castelo Branco e Coimbra despenhou-se por uma ribanceira com cerca de 50 metros de profundidade, na estrada que conduz a esta cidade entre Casas de Zibreira e Foz do Giraldo.
Todos os passageiros, incluindo o motorista, sofreram graves contusões, tendo falecido a Srª D. Maria Alice Lalanda Baptista, de 21 anos, solteira, aluna da Faculdade de Farmácia de Coimbra, natural do Salgueiro do Campo.
A notícia do trágico acontecimento espalhou-se rapidamente, tendo chegado a Castelo Branco no início da noite com a chamada urgente dos Bombeiros Voluntários que imediatamente se dirigiram para o local do desastre, enquanto no serviço do Banco do Hospital tudo se preparava para prestar a necessária assistência ao numeroso grupo de feridos que dificilmente se albergaram em vista do regime de super-lotação em que normalmente vive o velho Hospital.
O infeliz acontecimento causou a maior consternação.”
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A Maria Alice é a última, à direita, no primeiro plano.
.14 de Janeiro
Na página 4, uma homenagem à nossa colega do 7ºAno, Maria Alice Lalanda Baptista que estudava em Coimbra no Curso de Farmácia
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“Era assim, a Maria Alice... “
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“Maria Alice Lalanda Baptista
Nervosa, tímida, era assim a Maria Alice!
Dotada de excelsos sentimentos, ela não era, não, destes tempos!
Tendo cursado nesta cidade de Castelo Branco o Liceu, aqui fez os preparativos precisos para ingressar na Universidade de Coimbra, onde, há dois anos, se encontrava em Farmácia.
Sempre a mesma Maria Alice, inconfundível, a sua vida seguia serena, no meio das suas preocupações de ordem estudantil, sempre aprumada, arreigada aos sentimentos nobres que a norteavam totalmente as suas acções.
Passadas as férias do Natal, mais uma vez, - a última ela devia ser – essa Maria Alice recebeu a bênção de seus pais para, na sua terra natal – Salgueiro do Campo – entrar na camioneta que a devia conduzir ao abismo, onde a sua alma devia abandonar a matéria para entrar no Reino de Deus!
Eram 16 horas do dia 8 deste mês de Janeiro, quando a camioneta de Castelo Branco/Coimbra chegou ao Salgueiro do Campo, já quase repleta de estudantes universitários, professores e regentes primários e outras pessoas.
Nela entrou, abençoada por seus pais, a Maria Alice que, na sua timidez nata, se juntou à alegria esfuziante das suas colegas e amigas.
Decorria a viagem normalmente, mas eis que, de repente, entre Foz do Giraldo e Casas da Zebreira, a camioneta, por circunstâncias estranhas à vontade do seu motorista, resvala e tombo após tombo, desliza por uma ribanceira de muitas dezenas de metros de profundidade para, quase no fundo, parar e deixar sair do seu bojo, os gritos lancinantes das vítimas que ali se encontravam!
Ouvem-se gritos e vêem-se corpos inanimados e ensanguentados.
Os poucos que conseguem sair, desvairados pela dor e pela brutalidade do acidente, olham em redor e ficam…petrificados.
Nem um movimento, nem um gesto.
Logo que possível, organizam-se os socorros. Acorrem com incrível prontidão os Bombeiros Voluntários de Castelo Branco e muitos populares, e todos os feridos são transportados pela camioneta da Empresa Martins Évora, para o Hospital de Castelo Branco, onde tudo foi perfeito.
Provedor, Médicos, Enfermeiros, tudo nos seus lugares – e com que devoção! – em auxílio do próximo, tudo funcionando num ritmo de perfeição que a todos honra e enobrece.
Tratam-se os feridos, acomodam-se uns no hospital e regressam outros a suas casas; mas numa maca, colocada num dos claustros, jaz um cadáver, velado religiosamente, por um padre e por um professor do Liceu que, ali, ajoelhados, rezam fervorosamente!
Esse cadáver era o da Maria Alice!...”
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Mesmo sem querer, as lágrimas ainda afloram quando, ao fim de 52 anos, fazemos a leitura deste texto que a Beira Baixa publicou seis dias após o acidente...
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