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26 outubro 2006

Padre António de Andrade

Acabo de ler no semanário Reconquista (19.10.06) um curioso apontamento onde se dá a conhecer que “a comunidade de Oleiros quer tornar o Padre António de Andrade como uma das grandes figuras do nosso país.” e para isso, estão a “responder afirmativamente ao desafio do Concurso da RTP”votando em massa no primeiro homem português que chegou ao Tibete”,
Mesmo sem concurso, o Padre António de Andrade é já uma grande figura da História do nosso país… Os feitos de que foi capaz já há muito foram reconhecidos pelos seus conterrâneos que lhe dedicaram um lugar importante na toponímia da Vila, deram o seu nome à Escola Secundária que ali existe há uns anos e edificaram um Memorial no Jardim da Deveza, ali em frente do actual edifício da Câmara Municipal…



Memorial do Padre António Andrade

Acho, no entanto, que os seus feitos poderão vir a ter uma maior projecção através de um concurso que tem todos os ingredientes para se tornar muito popular… e muito falado, por outros motivos.
No artigo que é hoje dado à estampa no “Reconquista”, de Castelo Branco, o jornalista João Carrega encarrega-se de lembrar alguns dados referentes à vida deste Homem que no início do séc.17 conseguiu chegar ao Tibete, lá nos confins dos Himalaias.
“Natural de Oleiros, onde nasceu em 1580, António de Andrade parte, ainda jovem, para a Índia, a 22 de Abril de 1600 (…) tendo chegado a Cochim a 22 de Outubro do mesmo ano.
Após ter completado os estudos no Colégio de S. Paulo, da Companhia de Jesus, em Goa, recebeu as ordens sagradas e foi enviado depois para a missão Mogol, em Agra, onde se julga que aprendeu a língua persa com os muçulmanos cachemires.”
(…) Em 30 de Março de 1624, já como Superior da Missão do Mogol, deixa Agra acompanhado por Jahangin, o rei Mogol que viajava para o Lahore. Quando chegou a Delhi, encontrou um grande número de budistas que rumavam para um fabuloso templo, dado pelo nome de Badré, e situado a quarenta dias de viagem, da Índia, entre a Índia e o Tibete. Esperando atingir o Tibete após alcançar este templo, António Andrade começou a sua via, conduzido pelos gentios.
A viagem não é fácil e para sua segurança António Andrade leva consigo um astrolábio e um compasso de sol, que lhe permitiu mais tarde referir que Chaparangue, no Tibete, se situava a 31º29’ norte.
(…) O relato do Padre António Andrade dá conta das dificuldades e das diferenças culturais entre os vários povos que foi encontrando… “Assim chegámos à cidade de Siranagar onde reside o Rajá. É a gente destas terras nos costumes muito diferente da gente lusitana, não degolam os carneiros nem as cabras que comem mas afogam-nos e dizem que ficando o sangue espalhado, faz a carne mais gostosa. E assim, com a pele chamuscada e a carne mal assada, correndo-lhe o sangue, a comem, escreve o Padre António Andrade, em 8 de Novembro de 1624.
(…) Quando alcançou Chaparangue, a principal cidade de Coqué, um dos Reinos do Tibete, António Andrade contactou directamente com o Rei (Gyalpo). A viagem durou três meses e, alcançado o objectivo, o Padre António Andrade permaneceu vinte e três dias no Tibete. Regressou depois após ter gasto mais sete meses até chegar de novo a Agra.
Em Chaparangue a recepção preparada pelo Rei foi boa e o Padre António Andrade teve então autorização para apregoar a sua fé, tendo o Rei colocado essa autorização num papel selado: “Nós el Rayno do Potente, recebendo grande alegria com a vinda do Padre António às nossas terras para nos ensinar a santa ley, ao qual tomamos por nosso mestre Iambá maior, e lhe damos toda a autoridade pêra livremente poder pregar e ensinar os nossos povos da ley santa…”
António Andrade faleceu em Goa a 19 de Março de 1634.

Sempre que vou a Oleiros sinto o dever de fazer uma breve Romagem de Saudade, no roteiro da qual se insere sempre um momento de silêncio junto do Memorial ao Padre António Andrade, cuja última fotografia, tirada em 28 de Junho de 2006, aqui deixo a ilustrar este apontamento.

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