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19 setembro 2021

Morreu José-Augusto França.

José-Augusto França morreu 
este sábado, aos 98 anos.
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Historiador, sociólogo e crítico de arte José-Augusto França faleceu ontem, na casa de saúde de Jarzé, em França, onde estava internado há vários anos. Há cerca de três meses tinha sofrido um AVC.
Natural de Tomar, José-Augusto França foi responsável por estudos pioneiros sobre a reconstrução da Baixa Pombalina após o terramoto de 1755, ou sobre figuras como Amadeo de Souza-Cardoso, Almada Negreiros ou Rafael Bordalo Pinheiro.
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José-Augusto França
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Em 1956, a AEFCL organizou uma Exposição de Pintura de artistas contemporâneos que teve como orientador José-Augusto França. Morava, nessa altura, e durante muitos anos depois, no 2ºandar de um edifício da rua da Escola Politécnica, mesmo em frente da escadaria principal daquela Faculdade e, também, muito próximo da sede da nossa Associação de Estudantes, ali mesmo à entrada do Jardim Botânico.
José-Augusto França orientou-nos e chegou a "emprestar-nos" um quadro valioso que tinha na sua residência para fazer parte daquela Exposição (e cujo seguro tratámos logo de fazer). Entrei pela primeira vez em sua casa para transportar, com o auxílio do António Alves Martins, então Presidente daquela Associação de Estudantes, o quadro que nos cedeu... Tenho pena de não recordar agora o nome do artista autor daquele quadro... que figurou então ao lado de obras executadas por pintores já célebres ou que se deram a conhecer a partir dessa época. Lembro os nomes de alguns pintores que ali estiveram representados como Amadeu de Sousa Cardoso, Júlio Pomar, Cruzeiro Seixas, Júlio Resende, Abel Manta, Fernando Lanhas, Henrique Medina (?), Mário Eloy e Marcelino Vespeira. 
A segunda vez que tive a oportunidade de entrar na casa de José-Augusto França foi no dia da entrega desse quadro àquele que foi o nosso "orientador" naquela famosa Exposição que foi um êxito naquela época.
A zona de Lisboa onde morava era também conhecida por Monte Olivete.
Em Outubro de 2001, José-Augusto França publicou um livro que batizou com o nome de "Monte Olivete - minha aldeia"
Inicia a sua escrita de um modo muito curioso: 
"Vive o autor há mais de cinquenta anos ao cimo do Monte Olivete, com vista dele para S.Bento e a Estrela, o largo Tejo e, a nascente, S.Pedro de Alcântara e o Jardim Botânico, o Príncipe Real ao lado. É sítio medieval da cidade, no vasto espaço do antigo Campolide que aqui começava, e à beira da Cotovia, um alto na alongada colina vinda de S. Francisco, em que o mesmo monte se funde, com as suas encostas, para Valverde e para o vale de S.Bento. As datas conhecidas destas designações orçam até finais do século XIV (que ao Monte Olivete, di-lo expressamente Fernão Lopes, chegou e "esteve ali grã parte do dia" o rei D.João II de Castela quando em Maio de 1384, cercou a cidade de D.João I, de Portugal), mas já em princípios do século XIII, e em 1400 e em 1386, Campolide e a Cotovia (de onde o nome? do pássaro ou do árabe "cotubia", minarete? - hum...), eram citados em documentos de inquirição, de doação ou de demarcação. Se é Campolide, que ia diferentemente do Rato a Alcântara, não é já o Compolet dos Santos, do Cruzado Osberno, em 1147, como alvitrou Júlio de Castilho em 1879. Por mim..."
Trata-se de um livro extraordinário para qualquer pessoa mas que toca profundo em quem passou alguns dos seus anos ligado àquela zona de Lisboa.
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Que descanse em Paz
Um Homem a quem Lisboa
fica a dever muito...
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16 de Novembro de 1922/
18 de Setembro de 2021

1 comentário:

Olímpio Matos disse...

Bom post . Não sabia desta vossa exposição , que vem a ser a segunda de arte daqueles tempos, sendo que a primeira foi gizada pelo Noales Rodrigues na presidência do Nogueira Simões, e focava-se no Júlio Pomar . Assim a memória não me engane . Por fim , o Alves Martins é Fernando . Abração .