Num poema que
João Augusto Mendes
(João Calceteiro)
publicou em 04.09.1989
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João Calceteiro
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Que raio de mania aquela,
Já perto do lusco fusco,
A menina Gabriela
Passear preso na trela
O seu cãozinho, o Farrusco.
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É uma moça engraçada,
Vinda há pouco de Lisboa.
Sempre, sempre bem trajada
Que apesar de ser criada
É melhor do que a patroa.
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Porém, numa tarde amena
Pôs-se o Farrusco a puxar.
Valha-nos Santa Açucena,
Lá foi a pobre pequena
Toda de patas ao ar.
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Após socorro pedir,
Coitada ninguém lhe liga...
Viu dois magalas a rir
Por terem visto cair
As cuecas à rapariga.
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A pobre quase desmaia
E para maior castigo
Um ventinho lhe deu vaia
Fazendo subir-lhe a saia
Até juntinho ao umbigo.
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Já os seus pés lhe obedecem
A fugir, dizendo então:
-- Eu bem sei o que merecem,
Palermas até parecem...
Que nunca viram um cão.
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João Calceteiro
in. "Asas de gaivota" . 1989
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