...num "apontamento" da historiadora
M. Fátima Bonifácio
aa sua crónica de 24 de Julho,
no "Público".
M. Fátima Bonifácio
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Fernando Medina entra aqui. Medina parece um medroso, algo visível até na sua linguagem corporal, mas afoito quando se trata dos seus interesses. Deu-se a conhecer logo no início do seu primeiro mandato, quando "decretou" que o miradouro de S.Pedro de Alcântara corria risco iminente de ruir. Com esta justificação, em si mesma legal, adjudicou à Teixeira Duarte as obras urgentes sem concurso público. Mas esqueceu-se de bloquear a burocracia camarária, que, como é de regra solicitou ao Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) uma inspecção ao estado do miradouro. Grande bronca: O LNEC fez o seu trabalho e elaborou um relatório em que concluía não haver nenhuma situação de emergência: São Pedro de Alcântara estava, por enquanto, de boa saúde. Logo, o ajuste directo não tinha fundamento legal.
Soube-se depois de uma "trapalhada" daquelas em que a política portuguesa é fértil: alguém relacionado com a Teixeira Duarte vendeu a Medina um apartamento com 200.000 euros de desconto. Afinal, a urgência era esta.
Este episódio define um carácter, o carácter de Fernando Medina. Ainda "compreendo" quando alguém se vende por muitos e muitos milhões; mas por 200.000 euros?! Depois disto, podemos confiar nas prioridades de Medina para Lisboa? São verdadeiras prioridades ou meras conveniências pessoais? Ninguém sabe.
Mas, a favor do que em minha opinião é uma falha de carácter de Medina, sabe-se outra coisa, de uma natureza diferente mas não menos grave, pelo contrário. Para quem não andasse completamente a dormir na forma, há anos que a figura de Luis Filipe Vieira suscitava suspeitas quanto à sua limpeza de mãos. Aquando da renovação do seu mandato à frente do Benfica, há cerca de um ano, Fernando Medina -- para não falar no primeiro-ministro -- integrou garbosamente a comissão de honra da candidatura de Vieira.. Depois, aconteceu o que toda a gente sabe: o escândalo financeiro protagonizado pelo outrora excelso Luís Filipe Vieira. A comunicação social interpelou Medina: como pudera ele abrilhantar de honra de Vieira, um indivíduo suspeito aos olhos de meio mundo? A resposta não podia ter sido mais infeliz, mais fosca, mais timorata: de nada sabia a respeito do presidente do Benfica até ao escândalo acabado de desenterrar, e, é claro, se tivesse sabido jamais teria integrado a comissão de honra dele. Em suma: foi muito pior a emenda do que o soneto. Note-se que, como delfim ou pretendente a delfim de António Costa, Medina nem hesitou em se safar pelo seu lado, deixando o primeiro-ministro a descoberto.
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in. "Público"
24.07.2021
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