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09 agosto 2020

Os insultos do João Galamba...

... "a Educação bebe-se nos dois primeiros anos de vida nas mamas das nossas Mães"
Ouvi esta frase em Outubro de 1959, 
na Sessão Solene da abertura das aulas, 
no nosso Liceu Nacional de Setúbal.
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Foi proferida por um Homem daqueles que fazem muita falta actualmente,
o Reitor José de Mendonça e Costa.
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E lembrei-me dela ao ler o artigo que o jornalista
João Miguel Tavares
escreveu nesta manhã de Sábado.
na sua coluna
"O respeitinho é muito bonito"
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João Miguel Tavares
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Hoje, esta coluna tem por título:
"Os insultos de secretário de Estado João Galamba"
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E deixo aqui o seu trabalho escrito:
"Numa entrevista ao Expresso, em Dezembro de 2017, o secretário de Estado da Energia João Galamba admitiu que gostava de "malhar, desmontar e combater argumentos" com os quais discordava, mas recusava-se a ser "um trauliteiro" porque "um trauliteiro é alguém que dá pancada por dar pancada", enquanto ele procurava "fundamentar sempre" as suas opiniões. E, no entanto, foi este mesmo João Galamba quem na semana passada classificou uma entrevista à SIC Notícias de Clemente Pedro Nunes, engenheiro químico, especialista em energia e professor jubilado do Instituto Superior Técnico, deste modo: "É um aldrabão e um mentiroso do pior. Não há outra forma de descrever esse cavalheiro. Chama-se Clemente Pedro Nunes e é um aldrabão encartado." (*)
Para quem recusa o rótulo de "trauliteiro", não está mal. O secretário de Estado fez estas afirmações na sua conta pessoal do Twitter, achando talvez que ainda estava nos tempos em que escrevia no blogue Jugular ou que passava informações ao "Miguel Abrantes" da Câmara Corporativa. São declarações absolutamente inaceitáveis, e num paiz mais exigente com o comportamento dos seus governantes ele estaria no dia seguinte no olho da rua. Mas para além do insulto descarado, essas declarações importam sobretudo enquanto método de impor um pensamento único á
sociedade portuguesa, que era típico dos tempos de José Sócrates, e que Galamba procura agora emular a propósito da chamada "Estratégia Ncional para o Hidrogénio", em cima da qual o Governo tem vindo a colocar números gargantuescos, sempre na casa dos vários milhares de milhões de euros.
O próprio João Galamba classificou o investimento no hidrogénio verde de Sines como o "maior projecto industrial desde o 25 de Abril": ridicularizar e insultar quem se atreve a pensar de forma diferente e a questionar a racionalidade da Estratégia para o Hidrogénio. Foi isso que Clemente Pedro Nunes se limitou a fazer, com argumentos que, se estiverem certos, são bons de ouvir e, se estiverem errados, são fáceis de rebater. Infelizmente, Galamba preferiu a terceira via: quem não pensa como eu ou é burro ou mal-intencionado.
O problema é este: cada um de nós arrasta consigo o seu passado e não nasce de novo a cada dia. O secretário de Estado pode agora usar um fatinho muito aprumado, mas é o mesmo João Galamba de 2009 e 2010. Esse Galamba era um adepto fervoroso de José Sócrates e do seu estilo e, na sua ferocidade argumentativa, continua a imitá-lo como ninguém. Quem tem ouvido sensível aos desmandos da época escuta frases como "o hidrogénio pode ser caro, pode haver incertezas tecnológicas, mas há um elemento que é o custo de não fazer nada" e Sócrates vintage -- e todos sabemos aonde nos conduziu.
Convém notar ainda que João Galamba não tinha qualquer experiência no sector e aprendeu tudo o que sabe sobre energia em ano e meio. São demasiadas certezas para tão pouco tempo. Deixem-me ser muito claro: o curriculo de João Galamba e o curriculo do PS recomendam a maior desconfiança em relação à Estratégia Nacional para o Hidrogénio. É possivel que seja uma ideia espetacular? É possivel. Mas é bastante mais provável que seja, como de costume, um monumental frete à EDP e às empreses do regime.
E vão por mim: quanto mais trauliteiro João Galamba for, mais essa probabilidade aumenta.
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No Público,
em 8 de Agosto de 2020.
por João Miguel Tavares.
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NB 
(*)- Fica provado que o "trauliteiro João Galamba "não mamou"
quando era pequeno.

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