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25 dezembro 2014

Um poema de Natal...

... um tanto "naif".
.
Natal de quem?
.
Mulheres atarefadas
Tratam do bacalhau,
Do peru, das rabanadas.

Não esqueças o colorau,
O azeite e o bolo-rei!

- Está bem, eu sei!

- E as garrafas de vinho?

- Já vão a caminho.

- Oh mãe, estou p'ra ver
Que prendas vou ter.
Que prendas terei?

- Não sei, não sei...

Num qualquer lado,
Esquecido, abandonado,
O Deus-Menino
Murmura baixinho:

- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?

Senta-se a família
À volta da mesa

Não há sinal da cruz,
Nem oração ou reza

Tilintam copos e talheres,
Crianças, homens e mulheres
Em eufórico ambiente.
Lá fora tão frio,
Cá dentro tão quente!

Algures esquecido, 
Ouve-se Jesus dorido:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?

Rasgam~se embrulhos,
Admiram-se as prendas, 
Aumentam os barulhos
Com mais oferendas.
Amontoam-se sacos e papéis
Sem regras nem leis.
E Cristo Menino
A fazer beicinho:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?

O sono está a chegar.
Tantos restos por mesa e chão!
Cada um vai transportar
Bem-estar no coração.
A noite vai terminar
E o Menino quase a chorar
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?
Foi a festa do Meu Natal
E, do princípio ao fim,
Quem se lembrou de Mim?
Não tive tecto nem afecto!

Em tudo, tudo eu medito
E pergunto no fechar da luz:

- Foi este o Natal de Jesus?!!!
.
João Coelho dos Santos
in "Lágrima do mar" - 1996

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