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18 abril 2013

O Armando da Conceição...

...prestou um bom contributo com este "apontamento" que agora me envia.
Já tinha lido este teu trabalho que, desta vez, vem mais completo.
Obrigado por estas tuas informações... Pareces mesmo um economista de raíz!...
O Eng.Armando Henriques da Conceição
(Natural do Estreito - Concelho de Oleiros)

Caro João José,
Escreveste no teu “blog” um extracto do Público que abaixo reproduzo. É um tema em que tenho meditado muitas vezes e com o qual concordo plenamente.  O que nos espera,  ..... não sei, mas que não vem aí coisa boa, acho que não. Os partidos são incapazes de resolver o grande problema da alhada em que eles próprios nos meteram, com as suas ganâncias,  sede de poder, irresponsabilidade, para não falar de outras coisas mais sérias e condenáveis. A alternativa de ditadura, também não será muito agradável. Mas entre os males de um ou do outro sistema, não sei qual será o pior. Nós tivemos a experiência de viver nos dois. E se havia coisas desagradáveis antes do 25 de Abril, hoje também há muitas que não são nada do meu gosto, e que às vezes até me dão saudades dos outros tempos. Há dias enviei-te um gráfico que fiz, não sei se chegaste a vê-lo. Tinha algumas gralhas e fiz recentemente as correcções  devidas. Reenvio-te hoje em três versões ( para o caso de dificuldades em abrí-lo em alguma delas).
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A última versão do gráfico
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Mostra a evolução da Dívida Pública Portuguesa em percentagem do PIB, de 1850 a 2012. Mostra também os governos que foram responsáveis por essa evolução, bem como bancarrotas no mesmo período, anteriores à situação actual, bem como políticas e causas associadas aos períodos em que aquele índice foi superior a 60%, limite considerado aceitávcel e sustentável. Làse pode ver o que os regimes de partidos têm feito antes e depois da ditadura que durou de 1926 a 1974. A ditadura endireitou as contas e no final começou já o crescimento. Foi nessa altura que se construíram os hospitais de Santa Maria e de São João, bem como a ponte Salazar. Esse mesmo crescimento continuou depois , porque havia o ouro acumulado e vinha muito dinheiro da Europa. Mas os partidos encarregaram-se  de dar cabo de tudo e agora estamos onde estamos. Isto é uma análise muito sucinta e resumida. Muito mais coisas haveria a comentar, a favor e contra cada um dos regimes. Nós sabemos isso. Havia a miséria, o analfabetismo, a censura, a perseguição política, etc. Mas a corrupção e roubalheira levadas a cabo pelo poder constituído, se hvia, hoje  são de longe muito maiores e mais escandalosas. A violência com roubos e assaltos que hoje nos aflige não se vivia naqueles tempos. Os tribunais eram mais rápidos a decidir, e, tirando  as questões “políticas”, as decisões eram mais justas também. Hoje a justiça é uma palhaçada.  E muito mais haveria a ponderar. O grande problema é que não há estadistas, capazes de ver a longo prazo e governar orientados por essa visão. Hoje a visão é muito curta, apenas o tempo que nos separa das próximas eleições, que é preciso ganhar, a todo o custo. Quem vai pagar, não importa. Vão ser as “desgraçadas” gerações dos nossos filhos e netos. E a nossa também: começou já a pagá-las, e de que maneira!Envio-te também o texto que fiz acompanhar com o envio deste gráfico.
Se quizeres fazer-me algum comentário ou crítica, podes “descascar” à vontade.  Quer concordes ou discordes, até te agradeço. Mas só se quizeres.  
Um abraço,
Armando Conceição
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Junta-se um gráfico que preparei sobre a EVOLUÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA PORTUGUESA (EM % DO PIB), desde 1850 a 2012. Está desenhado em várias cores, para distinguir os “governos”  responsáveis ao longo do tempo. Pesquisei e procurei também resumir as causas e/ou políticas que originaram os valores da Dívida acima dos 60% do PIB, valor considerado como aceitável e sustentável a não ultrapassar, na Europa e outras regiões do planeta, por se tornar “perigoso”. Assinalei também os dois casos de “bancarrota” verificados no período considerado, anteriores à nossa crise actual (1852 e 1891 – 1892). As causas da primeira são anteriores ao período em análise. Mas entre outras, essas causas devem-se a consequências próximas e remotas da guerra civil (1832 – 1834) entre miguelistas e liberais, à revolta da Maria da Fonte e à guerra da Patuleia que se lhe seguiu (1846 – 1847), e ainda ao “desgoverno” resultante de lutas pelo poder, caciquismo, inexperiência de vivência em democracia, etc. As causas da segunda bancarrota devem-se ao grande implemento dado por Fontes Pereira de Melo aos transportes ferroviários, à criação de infra-estruturas e transportes ferroviários, rodoviários e telégrafo eléctrico, sem as quais não seria possível desenvolver uma industrialização moderna como havia já na Inglaterra, Alemanha e França. Depois de inaugurado em 1856 o primeiro trecho de via férrea entre Lisboa e Carregado, num total de 36 Km (construído entre 1853 e 1856), construiu ainda um total de 2153 km de via, até 1886, montante que representa 60% do total que viria a ser construída na centúria  1856 – 1956  (3616 km).  As estradas construídas (antes, praticamente só havia caminhos velhos),  procuravam fazer a ligação das estações de caminho de ferro às povoações mais afastadas. O telégrafo eléctrico foi fundamental para o bom funcionamento do tráfego dos comboios.
Era uma situação bem diferente da actual. Agora, construíram-se auto-estradas em excesso, comprometeu-se muito dinheiro em PPP’s e TGV, além de se terem atribuído apoios sociais e aumentos da função pública, não digo desnecessários, mas,  não havendo dinheiro para pagá-las,  tudo teve que ser feito à custa de empréstimos, quando a barreira dos 60% da dívida pública em relação ao PIB já tinha sido ultrapassada. Também houve a crise do “Lemon Brother’s” a influir, mas não foi só, como muita gente  tem pretendido justificar. É certo que outros países também fizeram políticas semelhantes, embora em menor escala do que a nossa, e que tentam justificar-se dizendo que foi a CEE que incentivou. Fomos pois “os bons alunos“, como temos sido em sucessivos governos desde há pelo menos duas décadas.  A realidade é que não precisamos de “bons alunos” deste género. Faltaram-nos verdadeiros ESTADISTAS, capazes de visualizar as necessidades do País  a longo prazo (20 a 50 anos) e estabelecer políticas no sentido de resolver essas necessidades.  O que tivemos e continuamos a ter são governantes, por vezes bem “espertos”, de horizontes  eleitoraleiros com um período máximo de visão futura de 4 anos. E é pena !  
Há que referir que grande parte da  crise actual  deve-se  também, e muito, à ganância dos mercados, bancos e grande capital, que não olham a meios para atingir os fins. Isto sempre à custa da classe média e da menos favorecida, que sofrem na pele uma exploração inaceitável, imoral e criminosa. Mas os governos têm também uma grande responsabilidade, porque actuam muitas vezes em conluio nesta exploração com a qual estão comprometidos.  
Não se pode é atribuir  a culpa só a esta exploração gananciosa. Há que ter bom senso e não fazer asneiras internas como as atrás denunciadas. A culpa não é só de um dos lados, reparte-se. Mas cada lado insiste sempre em atribuí-la ao outro recusando-se a reconhecer os próprios erros. O que é pena!
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Então, Armando?!...Depois disto, o que é que tu querias que eu acrescentasse?!!!...

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