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09 abril 2022

Memórias escritas...

 em 09.04.2006
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Só hoje tive oportunidade de ler o suplemento Xis do "Público" de ontem. Gosto de ler a Faíza e até costumo digitalizar os seus contos.

Faíza Hayat
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Só hoje tive tempo de ler a sua página de sábado que é composta por uma selecção de três capítulos de um livro que a autora vai pôr à venda brevemente. Desde a história de um papagaio cinzento chamado Camilo, de excelente memória e capaz de imitar, com a voz do Frank Sinatra, toda a letra da canção “Stranger in the night”, até à história de um assalto sofrido por uma das gémeas suas irmãs, na praia de Copacabana por um tipo “de brinco no nariz” que lhe encostou uma faca à garganta e lhe segredou: “A bolsa ou a vida”, encontrei dois pequenos apontamentos que me falam muito sério…
        O primeiro configura uma ideia que tenho desde que me conheço e diz respeito à possibilidade de podermos comunicar uns com os outros telepaticamente… Sempre tive a ideia de que uma concentração profunda pode pôr em comunicação duas pessoas fisicamente afastadas uma da outra, sem qualquer outro auxílio para além do cérebro. Difícil será encontrar o meio de o fazer…

        …Aqui em Barcelona, não tenho nome. Não tenho mãe nem pai. Não tenho irmãs. Sou o que há de mais parecido com ninguém.

        Hoje, já vos disse, acordei um pouco triste. Olhei-me ao espelho. Os meus olhos estavam escuros como uma manhã de tempestade. As olheiras ainda mais marcadas do que o costume. O telefone tocou e ainda antes de atender já sabia que era ele. Sei sempre. Desde criança que me habituei a isso. Acho que se nos esforçássemos um pouco conseguiríamos comunicar por telepatia. Utilizamos o telefone por preguiça.

        “Pai?!” 

Ele riu-se. O riso dele é quente como um abraço.

“Sabes que dia é hoje?”

Também esta jovem autora tem agora o mesmo pressentimento que me atormenta, há tantos anos… Que bom saber que esta ideia é partilhada com alguém que sabe transmitir o que sente.

        Este é um dos apontamentos que referi. O outro surge a seguir, na continuação do texto e levou-me a pensar na Madalena quando chegar o próximo Dia da Mãe

        “Sabes que dia é hoje?

        Não me lembrei logo. O meu pai suspirou. Ficou em silêncio. Ficámos os dois em silêncio. Se fosse viva Filipa faria hoje cinquenta e cinco anos. Tenho saudades da minha mãe. Converso com ela todos os dias mas não sei se me ouve. Queria que me fizesse as tranças. Queria pousar a cabeça no seu colo para que me consolasse quando, ao fim da tarde, regresso das aulas e me atormentam as saudades de Lisboa. Todos os anos, neste dia ou no Dia da Mãe, continuo a oferecer-lhe presentes…”

... E eu continuo sempre incapaz de reter as lágrimas
ao recordar a Mãe da Madalena…

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