... um poema de Eugénio de Andrade.
.
.Tu estavas ali,
perto da laranjeira.
(Porque havia
uma laranjeira ao lado
da casa.)
Estavas ali, as mãos
iluminadas.
A luz vinha dos frutos
ardendo na sombra.
A laranjeira
ainda lá se encontra.
E tu? Ainda aí estás?
Ao longe erguia-se a poeira
quando o rebanho ao fim da tarde
passava - era verão.
Só no verão
a poeira se levanta assim
sem haver vento.
No tanque, um fio débil
de água
servia para nos sentarmos
à beira do seu rumor.
Eu era pequeno
e tu uma mulher triste.
Essa tristeza é ainda
minha.
Mas só ela.
E a laranjeira.
.
Eugénio de Andrade
in "Antologia Breve"
Maio/1999
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